Introdução: Desconexões de derivações ventrículo-peritoniais impõem um dilema aos neurocirurgiões
pediátricos. Geralmente, as desconexões ocorrem anos após a implantação da derivação
e são causadas pelo estiramento de cateteres calcificados. Desconexões nem sempre
se apresentam com sintomas de disfunção da derivação, uma vez que o liquor cefalorraquidiano
pode fluir pelo trajeto fibroso do cateter. Entretanto, este trato pode deixar de
ser funcional, levando à disfunção clínica, que pode ser aguda e até mesmo ameaçadora
da vida. O objetivo deste trabalho é discutir a cirurgia profilática em casos de pacientes
ditos “independentes de shunt”.
Método: Estudo retrospectivo de 12 pacientes com derivação ventriculoperitoneal, com follow-up
de 20 anos em serviço de neurocirurgia pediátrica, inicialmente considerados independentes
de shunt devido a cateteres desconectados, encurtados ou fora dos ventrículos cerebrais.
Foram analisados a apresentação clínica (se sintomáticos ou assintomáticos) e o tempo
entre o diagnóstico de independência de shunt e o aparecimento dos sintomas, quando
pertinente.
Resultado: 9 entre 12 pacientes considerados independentes de shunt apresentaram-se ao departamento
de neurocirurgia pediátrica com disfunções agudas, em média 6 anos após o diagnóstico
de desconexão. Em 2 casos, foi identificado fluxo liquórico pelo trajeto fibroso,
mesmo que lentificado. Todos os 9 pacientes apresentaram sinais de hipertensão intracraniana,
sendo 2 casos de apresentação gravíssima e ameaçadora da vida.
Conclusão: Desconexão e fraturas de cateteres são duas causas de disfunção de shunt e devem
ser adequadamente pesquisadas e avaliadas em rotinas de departamentos de neurocirurgia
pediátrica. Em pacientes assintomáticos, a possibilidade de independência de shunt,
apesar de baixa, existe; entretanto, decidir se a derivação deve ser revisada profilaticamente
ou não pode ser desafiadora e fatores que afetam esta decisão devem ser cuidadosamente
revisados. Nosso estudo demonstra que, em casos selecionados com características específicas,
a revisão de shunt deve ser considerada profilaticamente.