Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade de fazer parte desta discussão
cujo objetivo é o crescimento da ciência e o auxílio aos clínicos da área da saúde.
Os autores realizaram um estudo transversal com o objetivo primário de avaliar se
a etnia asiática é um fator de risco para o desenvolvimento de capsulite adesiva.[1] A conclusão do estudo é que a etnia asiática é um fator de risco independente, com
uma razão de chance ajustada de 3,6 (índice de confiança [IC] 95%: 2,0–6,5). Entretanto,
o desenho de estudo realizado para se chegar a essa conclusão foi um estudo observacional
transversal, sendo assim um desenho de estudo impróprio para responder a esse tipo
de pergunta científica.[2] Estudos observacionais transversais são considerados o padrão-ouro para estudos
epidemiológicos nos quais o objetivo é encontrar a prevalência pontual de um determinado
problema e fazer associação com duas ou mais variáveis; entretanto, não constituem
o desenho de estudo ideal para inferir causa e efeito.[3] Estudos prospectivos de coorte constituem um desenho de estudo no qual os pesquisadores
selecionam um grupo de indivíduos pela medida dos fatores de risco ou exposições antes
que o desfecho ocorra, estabelecendo assim a temporalidade, um fator importante na
determinação da causalidade.[3] Esse tipo de estudo é feito em algumas etapas, sendo elas: seleção da amostra, observação
de cada grupo ao longo do tempo, e comparação dos grupos expostos ao fator de risco
e os não expostos. Suas principais desvantagens são os altos custos devidos à grande
quantidade de sujeitos que devem ser incluídos no estudo e o longo acompanhamento.[3]
[4] Baseado nisso, a inferência dos autores quanto à razão de chance para a etnia asiática
e o desenvolvimento da capsulite adesiva pode ser uma medida supervalorizada quanto
ao método do estudo e o método estatístico utilizado. A razão de chance, ou odds ratio, é uma medida estatística utilizada em estudos longitudinais de coorte, nos quais
é possível comparar a incidência do grupo exposto com a incidência do grupo não exposto,
daí o nome razão de chance. Sendo assim, os pesquisadores deveriam acompanhar os casos
(asiáticos) e os controles (não asiáticos) ao longo do tempo e, assim, poder chegar
a um possível fator de risco.[4]