Palavras-chave
cistos ósseos - acrômio - escápula
Introdução
Os cistos ósseos unilaterais (COUs), também chamados cistos ósseos simples, são lesões
benignas preenchidas por fluido nas metáfises de ossos longos.[1] Em radiografias simples, são lesões líticas de contornos bem definidos, e a parede
cística é recoberta por uma membrana fibrosa; seu interior contém um fluido seroso
amarelo.[2] A lesão tem etiologia desconhecida, e é mais observada entre 5 e 15 anos de idade.[3] Embora tenham sido relatados em todos os ossos, esses cistos são bastante comuns
na porção proximal do úmero e do fêmur.[4]
[5]
[6]
O diagnóstico diferencial radiológico de uma lesão cística escapular em adolescentes
inclui displasia fibrosa, cisto ósseo aneurismático, granuloma eosinofílico, osteoblastoma
e infecção.[7]
[8]
Não há uma abordagem terapêutica padrão. Além do acompanhamento sem tratamento, muitas
modalidades terapêuticas foram descritas, como a injeção local de corticosteroides,
a realização de múltiplos orifícios, e a curetagem com colocação de enxerto.[6]
[7]
Relatamos aqui um caso de cisto ósseo simples localizado no acrômio. Não encontramos
na literatura nenhum outro caso de lesão radiotransparente sintomática localizada
no acrômio. O tratamento de nossa paciente, por curetagem e enxerto, foi realizado
com sucesso.
Relato de Caso
Paciente do sexo feminino, de 24 anos de idade, compareceu ao nosso ambulatório de
ortopedia com dor na porção lateral do ombro direito. A paciente relatou dor ocasional
por cerca de um ano, mas com exacerbação recente. Edla não tinha histórico de trauma
ou lesão por movimentos repetitivos. Não havia doença sistêmica. No exame físico,
a paciente não apresentava edema ou hiperemia na lateral do ombro. A dor era associada
à limitação do movimento do ombro direito. A palpação do acrômio anterior causou dor.
A paciente foi questionada sobre o uso dos dados referentes ao caso em publicação,
e deu seu consentimento.
A radiografia simples em dois planos do ombro direito revelou uma lesão lítica com
contornos bem definidos, margens escleróticas mínimas, e zona de transição estreita
com lesão benigna, sem expansão até o acrômio. À ressonância magnética, as imagens
ponderadas em T2 com supressão de gordura mostraram uma lesão cística não suprimida,
hipointensa e homogênea, de intensidade igual à do fluido; em imagens ponderadas em
T1 após a injeção de contraste, havia um ligeiro realce na parede, mas não na região
central ou nos septos da lesão ([Figuras 1] e [2]).
Fig. 1 Radiografia anteroposterior do ombro direito, mostrando uma lesão lítica minimamente
esclerótica, com contornos bem definidos, sem expansão até o acrômio.
Fig. 2 (A) Imagem coronal de ressonância magnética ponderada em T1 do ombro direito, realizada
antes da cirurgia, mostrando uma lesão hipointensa homogênea com contornos bem definidos,
sem expansão até o acrômio. (B) Imagem coronal de ressonância magnética ponderada em T1 após a administração de
contraste, com realce delgado periférico, mas ausência do material no centro da lesão.
(C-D) Imagem coronal de ressonância magnética ponderada em T2 com supressão de gordura,
realizada antes da cirurgia, mostrando uma lesão hiperintensa homogênea com contornos
bem definidos, e uma fina parede esclerótica no acrômio.
A biópsia incisional foi planejada. À avaliação intraoperatória, um corte congelado
foi obtido porque os achados macroscópicos sugeriam uma lesão cística benigna, assim
como as radiografias, que indicavam um cisto ósseo simples; assim, a curetagem da
cavidade com o uso de equipamento de alta velocidade em sua parede foi realizada na
mesma sessão. A lesão recebeu um xenoenxerto de 10 cm3 ([Figura 3]). O material coletado à curetagem foi enviado para exame histopatológico, que confirmou
o diagnóstico de cisto ósseo simples.
Fig. 3 Radiografia anteroposterior do ombro direito, mostrando as alterações pós-operatórias
no acrômio, a ausência de lesão lítica, e áreas densas, com contornos irregulares,
relacionadas ao material de enxerto.
Exercícios de amplitude de movimento ativo do ombro foram iniciados na terceira semana
pós-operatória, e a paciente apresentou amplitude total de movimento sem dor. Não
houve recidiva na ressonância magnética e na radiografia simples realizadas no sexto
mês pós-operatório ([Figura 4]). Outras complicações ou dor não foram observadas durante os seis meses de acompanhamento.
A paciente realizou todas as atividades rotineiras de forma satisfatória ([Figura 5]).
Fig. 4 (A-D) Imagens de ressonância magnética no sexto mês pós-operatório: imagens axiais ponderadas
em T1 mostrando uma área de ausência parcial de sinal hipointenso e heterogêneo relacionada
às alterações pós-operatórias no acrômio. Imagens coronal e sagital ponderadas em
T2 com supressão de gordura, mostrando o tecido de granulação pós-operatório, esclerose,
e uma imagem hiperintensa heterogênea de bordas irregulares secundária ao material
cirúrgico de enxerto.
Fig. 5 (A-D) As fotografias clínicas mostram a amplitude total de movimento do ombro no final
do período de acompanhamento.
Discussão
Os tumores da escápula são raros e frequentemente malignos. As lesões benignas e malignas
que podem acometer a escápula tendem a ser observadas na infância.[7]
[9] Indivíduos do sexo masculino são duas vezes mais afetados do que pacientes do sexo
feminino.[1] Diferentemente de todos esses sintomas, nosso caso, um tumor benigno em mulher adulta,
é raro.
Os cistos ósseos simples foram descritos pela primeira vez por Virchow em 1876.[10] A maioria dos cistos ósseos simples é observada na infância e definida como uma
lesão do desenvolvimento/reativa. Sua etiologia é desconhecida.[3]
[6]
Os cistos ósseos simples geralmente ocorrem na metáfise de ossos longos, e têm predileção
pela porção proximal do úmero e do fêmur. Em pacientes de idade mais avançada, o ílio
e o calcâneo também são regiões em que esses cistos são detectados com frequência.[6] O acometimento da escápula é pouco frequente. Em nosso caso, a lesão estava localizada
no acrômio.
Os pacientes com cistos ósseos simples tendem a apresentar fratura patológica ou dor
branda.[11]
De acordo com os relatos de caso na literatura,[12]
[13]
[14]
[15] o acometimento do acrômio por tumores benignos e malignos é raro. Outros casos,
como de cisto ósseo aneurismático, tumores de células gigantes, condroblastoma e mieloma
múltiplo, foram descritos no passado.[12]
[13]
[14]
[15]
Ainda não há consenso sobre a necessidade de tratamento (uma vez que a resolução pode
ser espontânea) ou definição da terapia mais adequada para os cistos ósseos simples.[11] O principal objetivo do tratamento é a prevenção de fraturas patológicas, a erradicação
do cisto, e o alívio da dor. Injeções locais de corticosteroides, transplante autólogo
de medula óssea ou injeções de matriz óssea desmineralizada, autoaloenxertos de osso
cortical-esponjoso, e muitos outros procedimentos foram descritos na literatura.[6]
[7]
[10]
Não existem princípios definidos sobre a forma de tratamento dos cistos ósseos simples,
e cada método terapêutico apresenta taxas de sucesso e complicações específicas.[11] Em nosso caso, as indicações para a cirurgia foram os achados radiográficos condizentes
com lesão cística no acrômio, e o histórico clínico relacionado à lesão.
Pelo que sabemos, nenhum outro cisto ósseo simples do acrômio foi relatado na literatura.