Palavras-chave
atenção à saúde - humanização da assistência - satisfação do paciente - procedimentos
ortopédicos - mão
Introdução
O membro superior tem como algumas de suas funções as capacidades de segurar, de golpear
e de executar a manipulação de objetos. Essas características são ainda mais acentuadas
nas mãos, uma vez que auxiliam nos movimentos finos, além de caracterizar a espécie
humana, por permitir o movimento de pinça, utilizado na maioria das atividades cotidianas,
como abotoar uma camisa.[1] Dessa forma, a mão é uma estrutura de suma importância para a funcionalidade do
indivíduo.
Devido ao valor operacional da mão, as doenças e traumatismos que a acometem podem
levar a sintomas que resultam em danos físicos, psicológicos e financeiros aos pacientes.
Os danos físicos estão relacionados às alterações da qualidade de vida, uma vez que
as lesões e complicações da cirurgia podem levar à perda de mobilidade, força, sensibilidade,
deformidades anatômicas e dependência de cuidados. Esses males levam a danos psicológicos,
como a ansiedade, podendo ser agravados por prejuízos financeiros, como afastamento
do trabalho e necessidade de cuidados pós-operatórios, como a fisioterapia.[2]
[3]
A abordagem médica, quando há necessidade de tratamento cirúrgico, deve ser realizada
de forma ainda mais cuidadosa, explicando para o paciente o procedimento pelo qual
ele terá de passar. Deve-se estabelecer um diálogo com o paciente, a fim de diminuir
a ansiedade, tanto em relação à técnica quanto às possíveis complicações da cirurgia.[2]
[4] Dessa forma, com o paciente mais bem informado, sua satisfação tende a ser maior.
De acordo com o dicionário Michaelis[5] (2004), satisfação é a sensação agradável que sentimos quando as coisas acontecem como desejamos. Segundo o Ministério da Saúde, considera-se satisfação com o serviço de saúde como
a opinião do beneficiário, revelando a medida certa da qualidade de seus produtos
e serviços. Geralmente, essa satisfação é mensurada através da coleta de dados, que
pode ser realizada por meio de formulários, entrevistas por telefonemas, e questionários
estruturados ou semiestruturados, com questões abertas e fechadas, sendo que todos
permitem discutir a abordagem médica realizada durante a evolução das principais queixas
do paciente.[6]
[7]
A atuação médica deve ser feita de maneira individualizada, uma vez que uma determinada
doença pode ser encarada de formas distintas pelos pacientes. Diversos fatores influenciam
no entendimento da doença, como por exemplo, relações interpessoais, crenças, identidade
social, e a qualidade na atenção à saúde.[3]
Assim, para uma melhor conceituar esse assunto, em 1999 foi implementado o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar no Brasil, com o objetivo fundamental
de reaver as relações entre profissionais de saúde e usuários por meio de uma postura
ética que respeite suas individualidades, as relações dos profissionais entre si,
da instituição com os profissionais, e do hospital com a comunidade.[8]
[9]
A partir desse programa, foi teoricamente concretizada a humanização na área da saúde,
conceituada como o compromisso ético de entender o paciente em sua totalidade, considerando
que cada pessoa é única e responde de forma diferente à mesma situação. Assim, para
uma abordagem médica satisfatória, deve-se seguir o princípio da humanização, que
engloba um diálogo de respeito e esclarecedor aos usuários dos serviços de atenção
à saúde.[8]
[10]
É questionável se os profissionais da saúde estão atentos em relação a como os pacientes
se sentem antes, durante, e após qualquer abordagem em saúde, principalmente em procedimentos
cirúrgicos da mão. Assim, saber a satisfação desses pacientes é fundamental para que
os profissionais melhorem sua atenção integral à saúde.
Devido à escassez de estudos que retratam a experiência do paciente em relação à cirurgia
de mão, este estudo busca nortear os profissionais da saúde em relação à satisfação
dos pacientes com o procedimento cirúrgico e suas consequências.[2]
Os objetivos deste estudo foram identificar a satisfação dos pacientes submetidos
à cirurgia de mão, em relação à sua internação, seus sentimentos e consequências decorrentes
do procedimento cirúrgico; avaliar a opinião e sentimentos dos pacientes em relação
ao procedimento cirúrgico e detectar possíveis fragilidades na atenção à saúde do
paciente submetido à cirurgia de mão, para assim, propor melhorias.
Método
Trata-se de um estudo clínico observacional transversal, com enfoque quali-quantitativo,
que foi realizado entre janeiro de 2020 e abril de 2021 em um ambulatório de um hospital
de ensino especializado em cuidado da mão.
Os critérios de inclusão foram pacientes de ambos os gêneros, com idade de 18 a 75
anos, que foram submetidos a procedimentos cirúrgicos corretivos nas mãos nos últimos
5 anos, incluindo fraturas, lesões neurotendíneas e doenças crônico-degenerativas
e que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Os critérios de exclusão foram pacientes que não assinaram o TCLE, que não tinham
condições cognitivas de preencher o formulário, pacientes tetraplégicos, e pacientes
com déficits neurológicos que interferiam na função dos membros superiores.
Para a obtenção dos dados, foi realizada uma entrevista semiestruturada com os pacientes
na sala de espera do ambulatório de especialidades no seguimento pós-operatório em
consulta pré-agendada. Foi utilizado um formulário contendo questões que incluem as
seguintes variáveis analíticas: fatores relacionados a comorbidades, história previa
de doenças como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, doenças renais,
neoplasias, fraturas, motivo da cirurgia atual, dor anterior, durante e após a cirurgia,
e como o paciente se sentiu em relação às informações e orientações durante todo o
processo cirúrgico (desde a internação até o pós-operatório). Todos as entrevistas
foram realizadas pela pesquisadora principal (V. M. C.) e supervisionadas (L. C. L.).
A dor foi controlada de forma adequada pelos médicos, com as medicações prescritas
e orientações.
A satisfação dos pacientes em relação a todo o processo em torno da cirurgia de mão
foi avaliada de forma quali-quantitativa, com respostas de 0 a 10, sendo que 0 correspondia
a muito insatisfeito e 10 a muito satisfeito, além de avaliar os motivos pelos quais
estava sendo dado este escore. Os momentos em que a satisfação foi avaliada foram:
-
Informações da sua doença antes da cirurgia.
-
Orientações da cirurgia.
-
Orientações durante a internação antes da cirurgia.
-
Orientações na sala antes de entrar no centro cirúrgico.
-
Orientações na sala de cirurgia.
-
Cuidados durante a internação.
-
Orientações da alta.
-
Primeira consulta pós-cirurgia.
-
Todo o processo de internação.
-
Processo geral.
-
Dor durante todo o tratamento.
-
Retorno às funções prévias a cirurgia.
-
Realização de atividades rotineiras.
-
Capacidade de retorno ao trabalho.
-
Quanto ao tratamento como um todo.
-
Impacto na sua qualidade de vida.
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa (CEP) e comitê de orientação
à pesquisa (COPE), sendo que a coleta dos dados foi iniciada após a aprovação. O trabalho
não teve financiamento externo.
Resultados
Foram incluídos 54 participantes, sendo 26 do sexo feminino e 28 do sexo masculino,
com idade mínima de 18 anos e máxima de 73 anos (média de 43,5 anos). O grau de instrução
destes foi majoritariamente ensino primário (46%), seguido por ensino médio completo
(40%).
Em relação às medidas antropométricas, o índice de massa corpórea (IMC) médio foi
de 28,21 kg/m2, se enquadrando em sobrepeso.
Em relação às comorbidades, encontramos hipertensão arterial sistêmica (16,7%), doenças
pulmonares (11,1%), diabetes mellitus (11,1%), doenças renais (5,6%), doenças neoplásicas
(1,9%), acidente vascular encefálico (1,9%) e úlcera gástrica (1,9%).
Em relação às causas da cirurgia da mão, encontramos fraturas (51,9%), sendo que as
mais prevalentes foram as localizadas no punho (rádio e ulna distais, 46,4%), seguidas
das fraturas nas falanges (21,4%) e nos metacarpos (14,3%). Também houve casos de
lesões associadas em mais de uma topografia, tais como falange e metacarpo (3,6%),
falange e punho (3,6%), metacarpo e punho (3,6%) e ossos do carpo e punho (3,6%).
Os principais eventos que levaram à cirurgia de mão foram trauma agudo (77,8%), sequela
de trauma (18,5%), e associação de trauma agudo seguido de sequela deste trauma em
curto prazo (3,7%).
Em relação à dor, foram avaliados diversos períodos, com avaliação por meio de uma
escala numérica da dor (END) de 0 a 10, sendo que 0 correspondia a sem nenhuma dor
e 10 correspondia à pior dor experimentada na vida. Os resultados da dor estão apresentados
na [Figura 1].
Fig. 1 Dor dos pacientes nos diversos momentos associados à cirurgia de mão.
Na [Tabela 1], encontramos as médias das notas de satisfação para os vários momentos avaliados.
Para os momentos orientações da cirurgia; orientações na sala antes de entrar no centro
cirúrgico; orientações na sala de cirurgia; cuidados durante a internação; orientações
na alta; primeira consulta pós-cirurgia; todo o processo de internação; quanto ao
tratamento como um todo e processo geral, as médias obtidas foram entre 9 e 10. Para
os momentos informações da sua doença antes da cirurgia e orientações durante a internação
antes da cirurgia, as médias obtidas foram entre 8 e 9. Para os momentos dor durante
todo o tratamento, retorno às funções prévias à cirurgia e realização de atividades
rotineiras, as médias foram entre 7 e 8. Quando os pacientes foram questionados quanto
ao impacto na sua qualidade de vida e dor durante todo o tratamento, encontramos média
entre 6 e 7. Para o momento e capacidade de retorno ao trabalho a média foi entre
5 e 6 para o
Tabela 1
Momentos
|
Média de satisfação
|
Valor Mínimo
|
Valor Máximo
|
Informações da sua doença antes da cirurgia
|
8,9
|
2,5
|
10
|
Orientações da cirurgia
|
9,1
|
2,5
|
10
|
Orientações durante a internação antes da cirurgia
|
8,8
|
2,5
|
10
|
Orientações na sala antes de entrar no centro cirúrgico
|
9,3
|
2,5
|
10
|
Orientações na sala de cirurgia
|
9,5
|
5,0
|
10
|
Cuidados durante a internação
|
9,2
|
2,5
|
10
|
Orientações da alta
|
9,1
|
2,5
|
10
|
Primeira consulta pós-cirurgia
|
9,4
|
5,0
|
10
|
Todo o processo de internação
|
9,1
|
2,5
|
10
|
Processo geral
|
9,3
|
2,5
|
10
|
Dor durante todo o tratamento
|
7,7
|
2,5
|
10
|
Retorno às funções prévias à cirurgia
|
7,5
|
2,5
|
10
|
Realização de atividades rotineiras
|
7,7
|
2,5
|
10
|
Capacidade de retorno ao trabalho
|
5,8
|
0
|
10
|
Quanto ao tratamento como um todo
|
9,3
|
2,5
|
10
|
Impacto na sua qualidade de vida
|
6,6
|
0
|
10
|
Na [Tabela 2], encontramos os motivos positivos e negativos apontados pelos pacientes para os
momentos em que a satisfação relacionada ao tratamento foi avaliada, e na [Tabela 3], encontramos os motivos para satisfação relacionada à capacidade de retorno ao trabalho,
impacto na qualidade de vida e realização de atividades rotineiras .
Tabela 2
Momentos
|
Motivos negativos citados
|
Motivos positivos citados
|
Informações da sua doença antes da cirurgia
|
“atendimento rude”; “falta de informações”; “falta de comunicação” e “não concordar
com as informações fornecidas”
|
“informações claras” e “transmissão de tranquilidade por parte dos médicos”
|
Orientações da cirurgia
|
“falta de informações”; “informações pouco esclarecedoras”; “não concordar integralmente
com a conduta” e “não orientar sobre a cirurgia”
|
“informações claras” e “muito bem instruídos pelos médicos”
|
Orientações durante a internação antes da cirurgia
|
“alta demanda da equipe, portanto menor atenção”; “me deixaram desatualizado”; “atraso
no dia marcado para a cirurgia”; “falta de cuidado por parte da enfermagem”; “falta
de informações” e “visita rápida, sem explicações”
|
“informações claras” e “informações muito esclarecedoras”
|
Orientações na sala antes de entrar no centro cirúrgico
|
“poucas informações fornecidas”
|
“informações claras sobre o procedimento”
|
Orientações na sala de cirurgia
|
“falta de informações”
|
“bem orientador sobre a cirurgia” e “informações claras”
|
Cuidados durante a internação
|
“equipe de enfermagem com muita demanda”; “falta de atenção por parte da enfermagem”;
“falta de informações com detalhes” e “não explicaram como foi a cirurgia”
|
“bom atendimento médico e de enfermagem” e “médicos atenciosos”
|
Orientações da alta
|
“falta de orientações sobre o que fazer e o que não fazer” e “não orientaram, apenas
deram a receita dos medicamentos”
|
“bem orientado”; “informações esclarecedoras” e “orientaram quanto à receita, retorno
e exames”.
|
Primeira consulta pós-cirurgia
|
“ambulatório cheio; portanto, médicos menos didáticos” e
“demora para realizar radiografia”
|
“informações claras”; “cirurgiões atenciosos”; “ótimo atendimento” e “explicaram todos
os processos que ocorreram na cirurgia e os próximos que seriam realizados”
|
Todo o processo de internação
|
“falta de atenção por parte da enfermagem”; “pouca atenção médica”; “falta de informações”
e “estresse emocional”
|
“informações claras” e “bom acolhimento por parte dos profissionais”
|
Processo geral
|
“problemas relacionados à atenção do atendimento” e “processo lento”
|
“rapidez das consultas, com atendimento bom”; “exames realizados com rapidez” e “resolução
do problema de saúde”
|
Dor durante todo o tratamento
|
“apresenta quadro distrófico levando à dor”; “dor durante a fisioterapia”; “dor durante
todo o processo de tratamento”; “ainda sente dor em casa”; “dor intensa na primeira
semana de pós-operatório”; “dor residual contínua, porém leve”; “medicações não controlaram
a dor” e
“muita dor após a anestesia”
|
“dor controlada com as medicações”
|
Retorno às funções prévias à cirurgia
|
“dor e dificuldade de mobilização”; “dificuldade em firmar movimentos”; “formigamento”;
“diminuição do arco de movimento” e “perda de força”
|
“conseguindo progredir com o tempo”; “fase de adaptação”; “retorno gradual” e alguns
afirmaram estar aguardando a evolução, se mostrando indiferentes no momento da avaliação
|
Quanto ao tratamento como um todo
|
“falta de atenção por parte da enfermagem”
|
“informações terem sido claras” e “equipe médica atenciosa e resolutiva”
|
Tabela 3
Capacidade de retorno ao trabalho
|
“perda de emprego/ pausa laboral devido a impossibilidade de realizar movimentos necessários”;
“dor para realizar alguns movimentos” e “perda de força, não conseguindo pegar peso
necessário para seu trabalho”.
|
Impacto na sua qualidade de vida
|
“depender de ajuda para atividades do lar”, “dificuldade financeira por não conseguir
retornar ao trabalho”, “sentir-se inseguro para voltar ao trabalho”, “impossibilidade
de realizar esportes”, “dificuldade para cuidar dos filhos”, “rotina lentificada”.
|
Realização de atividades rotineiras
|
necessidade de ajuda para tomar banho/comer/serviços de casa/cozinhar/escrever/pentear
o cabelo, além de dificuldade de preensão e perda de força, que prejudicam a funcionalidade
do indivíduo. Alguns participantes relataram estar em período de adaptação, com melhora
gradual da funcionalidade e, dessa forma, voltando paulatinamente às suas atividades
diárias.
|
Discussão
Tendo em vista a escassez de pesquisas sobre a satisfação dos pacientes submetidos
à cirurgia de mão, este estudo para que os profissionais da saúde consigam avaliar
os fatores de descontentamento dos usuários, considerando melhorias.
Tahara et al.,[7] em seu estudo, abordou os fatores significativos para o contentamento do indivíduo
com o serviço de saúde. Destaca-se o caráter e a técnica da atenção, o ambiente em
que o paciente está sendo tratado, a disponibilidade dos profissionais de saúde, a
continuidade desse atendimento e a eficácia do tratamento. Melhorias na qualidade
da assistência à saúde podem ser elaboradas com base nesses aspectos, a fim de individualizar
o atendimento de cada paciente.
Para executar apropriadamente os fatores citados acima, faz-se necessária uma abordagem
humanizada dos profissionais da saúde para com os pacientes. Esta depende do diálogo
entre ambos, de forma a compreender as necessidades do usuário e, desta forma, explicar
sobre sua situação de saúde de forma clara e estabelecer, conjuntamente, um plano
terapêutico, para propiciar o bem-estar de ambas as partes.[9]
O diálogo entre o médico e o paciente, no primeiro momento da relação, deve ser minucioso,
com explicação detalhada a respeito da lesão e do acompanhamento que será dado para
sua correção.[9] Dentre os resultados do trabalho, obtivemos como ponto negativo a falta de informações
acerca da fratura ou lesão na topografia da mão. Desta forma, uma maneira de melhorar
a qualidade do serviço seria aumentar o tempo da consulta, para que, assim, os médicos
possam ser mais didáticos, fornecendo informações que o paciente pode compreender
de forma a sentir-se mais seguro em relação à conduta médica.
O acompanhamento médico não é a única demanda dos indivíduos, haja vista que os demais
profissionais da saúde também são essenciais para o bem-estar dos pacientes durante
todo o processo que norteia a cirurgia de mão.[9] O apoio da equipe deve ser cuidadoso e individualizado para a completa satisfação,
uma vez que a internação é um período em que o paciente se sente ansioso em relação
à sua patologia, procedimentos e recuperação.[2] Nos resultados deste trabalho, foi apontada a relevância dos cuidados dos médicos
e dos enfermeiros que os acompanham durante toda a internação, sendo importante o
zelo físico e psicológico, já que os pacientes têm direito a apenas 1 hora de visita
diária, passando a maior parte do tempo com os profissionais da saúde.
Após o período de internação, os pacientes enfrentam o processo de reabilitação, com
diversos desafios nos âmbitos doméstico, profissional, e de lazer. Nesse momento pós-cirúrgico,
o paciente passa a duvidar de sua autonomia, já que pode ter complicações decorrentes
da cirurgia, como a perda da amplitude de movimento e/ou força bem como parestesia,
que dificultam diversas atividades, com possibilidade de tornar-se parcialmente dependente.[3]
Quinze pacientes mostraram-se insatisfeitos com a dependência para práticas rotineiras,
como tomar banho, comer, escrever, pentear o cabelo e realizar esportes e serviços
de casa, como cozinhar, o que diminuiu seu contentamento geral em relação ao procedimento
cirúrgico da mão.
A dificuldade em retornar ao trabalho foi outro componente que alterou a qualidade
de vida dos pacientes, sendo o componente que obteve média de satisfação de 5,8, de
acordo com a avaliação dos resultados da pesquisa, que foi a pior média, comparada
às dos demais componentes. Foram apontados como fatores de limitação ao retorno laboral
: impossibilidade de realizar os movimentos necessários; dor ao mobilizar a mão; perda
de força, e insegurança para retornar às atividades laborais, nos casos em que o mecanismo
de trauma ocorreu durante a atividade de trabalho.
A dor à mobilização da mão ou, em casos mais acentuados, durante o repouso, é considerada
um importante fator restritivo para a realização de todas as tarefas diárias dos pacientes.
O estresse e a ansiedade enfrentados pelo paciente devido à internação, ao procedimento
cirúrgico e à reabilitação levam à diminuição do limiar da dor, fazendo com que aumente
a percepção da dor vivida pelo indivíduo. O aumento da dor agrava a ansiedade, levando
à liberação de vasopressina e glicocorticoides, dificultando a chegada de oxigênio
e nutrientes ao local cirúrgico, além do aumento do cortisol, que provoca prejuízo
na resposta inflamatória. Todos esses fatores causam dificuldade na cicatrização,
interferindo na recuperação do paciente.[2]
[4]
Durante o acompanhamento ambulatorial, é essencial o questionamento sobre a dor do
paciente, para o melhor manejo medicamentoso dessa queixa. O gerenciamento ineficaz
da dor faz com que o paciente deixe de ter confiança na conduta médica e diminua sua
adesão ao tratamento.[10] A manutenção adequada da dor faz parte de uma abordagem humanizada, visto que humanizar
a assistência é dar voz ao paciente, de forma a promover a resolução de sua queixa
da melhor forma possível, sempre tomando as decisões conjuntamente.[9]
A rotina exaustiva dos profissionais de saúde, frente à alta demanda de pacientes
a serem atendidos, à carência de materiais, às tensões diante do sofrimento humano
e à apreensão de cometer algum erro faz com que coloquem os afazeres técnicos acima
da abordagem humanizada, quando deveriam ser colocadas no mesmo patamar.[9] Os serviços de saúde têm como função capacitar os profissionais para fornecerem
essa assistência, colocando em prática os fundamentos do Programa Nacional de Humanização
da Assistência Hospitalar no Brasil, que visa o compromisso ético de considerar as
individualidades de cada paciente frente à mesma situação.[8]
[9]
[10]
Para uma abordagem humanizada, é preciso valorizar o trabalho de todos os profissionais
envolvidos do sistema de saúde, como médicos, enfermeiros e gestores. Pois apenas
aqueles realizados profissionalmente conseguem realizar suas atividades de forma tecnicamente
correta e com ações em prol da humanização.
Conclusão
Concluímos que a satisfação absoluta dos pacientes submetidos à cirurgia de mão depende
da abordagem humanizada por parte dos profissionais, sendo consideradas: clareza das
informações transmitidas, desde a primeira consulta no pronto atendimento até as consultas
de retorno no ambulatório especializado em mão, o zelo por parte dos médicos e enfermeiros
durante a internação, e o manejo das queixas decorrentes da cirurgia. As consequências
cirúrgicas, que demandam maior acompanhamento e que dificultam as atividades rotineiras
dos pacientes são dor à mobilização da mão, limitação da amplitude de movimento, e
parestesia; assim, o manejo adequado dessas queixas leva à maior satisfação.