Forma de Apresentação: e-Pôster
Introdução O tratamento radioterápico para neoplasia de próstata está relacionado a complicações
agudas e crônicas que podem acometer o sistema gastrointestinal, como retite actínica
e fístula retovesical. A retite actínica é a complicação tardia mais comum, com sangramento
retal que pode ser esporádico ou com instabilidade hemodinâmica. A fístula retovesical
é menos frequente e gera impacto na qualidade de vida, relacionada à infecção urinária
crônica, dor abdominal suprapúbica e sintomas miccionais irritativos.
Relato de Caso PPH, 63 anos, masculino, deu entrada no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti com pneumatúria,
dor abdominal e proctalgia há 7 dias. Apresentava diagnóstico prévio de neoplasia
de próstata, submetido a radioterapia (76 Gy) em duas fases, com término 1 ano antes
da admissão. Ao exame físico, abdome doloroso em hipogástrio e estenose de canal anal
sem progressão digital em exame proctológico. Realizada cistoscopia, identificada
fístula retovesical em uretra prostática e istmo vesical. RNM de pelve mostrou sinais
de osteomielite em púbis, loja prostática vazia, fístula retovesical extensa e espessamento
da parede retal. Optado por sigmoidostomia em alça, derivação urinária bilateral e
cistostomia. Apresentou boa evolução. Um mês após, retorna com sangramento via retal
pela cistostomia e pela sigmoidostomia, laboratório com leucocitose e queda de hemoglobina
(4,0 g/dl). Realizado hemotransfusão, antibioticoterapia e embolização de artéria
retal superior com gelfoam, com cessação do sangramento e melhora infecciosa. Após
14 dias, teve nova admissão com sangramento importante, optada por nova embolização
da artéria retal com micropartículas como ponte para abordagem cirúrgica. Após 1 semana
encaminhado à cirurgia de urgência. No intraoperatório, identificada necrose de reto
baixo e loja prostática com coágulos. Realizada proctectomia e mantida sigmoidostomia,
agora terminal. Em região de púbis identificado orifício fistuloso com saída de secreção,
realizada curetagem de trajeto. Paciente recebeu alta com antibióticos para tratamento
da osteomielite púbica. Mantém-se assintomático em retornos ambulatoriais.
Discussão A fístula retovesical ainda é condição rara e desafiadora. Abordagem abdominal, perineal
e transanal são possíveis, porém não há consenso. Radioterapia prévia dificulta a
abordagem devido a tecido fibrótico pélvico gerando maior desafio técnico e riscos
de complicações. A associação de duas complicações tardias à radiação, concomitantes,
gera limitações na decisão terapêutica. Neste caso, a tentativa inicial de abordagem
conservadora para a fístula foi falha, com sangramento significativo devido à retite
actínica. O paciente apresentava como fator de risco para retite actínica a alta dose
de radiação (> 60 Gy), que favoreceu intenso processo inflamatório local e estenose
do canal anal, impedindo tratamento tópico com plasma de argônio. Vista a complexidade
do caso, uma abordagem multidisciplinar foi necessária para adequada condução do quadro.