Palavras-chave capsulite adesiva - bloqueio nervoso - Classificação Internacional de Funcionalidade,
incapacidade e saúde - medidas de resultados relatados pelo paciente - ombro
Introdução
A capsulite adesiva (CA) é uma doença incapacitante do ombro com prevalência de 2%
a 5% na população geral. É mais comum em mulheres entre 40 e 70 anos,[1 ]
[2 ] e suas características clínicas são dor e rigidez.[1 ]
[3 ]
[4 ] Tende a ser bilateral, e não acomete o mesmo ombro duas vezes. A CA pode ser primária
(idiopática) ou secundária a cirurgia prévia, traumatismo, imobilização e alterações
sistêmicas, como diabetes mellitus e hipotireoidismo.[1 ]
[3 ]
[4 ]
[5 ]
[6 ] A abordagem não cirúrgica é obrigatória, e o bloqueio do nervo supraescapular (BNSE)
é uma opção terapêutica com resultados satisfatórios.[7 ]
[8 ]
Essa doença é limitante e traz impactos negativos para a função e a estrutura corpórea
do indivíduo acometido.[8 ] A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) foi
criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2001 para que o indivíduo descreva
seu estado atual de saúde-doença-funcionalidade-cuidado.[9 ]
[10 ]
[11 ] A natureza multifacetada desse instrumento contribui para a avaliação de diferentes
problemas de saúde, mas seu uso tem sido restrito a profissionais de reabilitação.[12 ]
[13 ]
O uso da CIF na prática clínica pode trazer informações importantes a serem levantadas
no atendimento ao paciente, com uma linguagem unificada e padronizada baseada em diferentes
construtos e domínios.[14 ]
[15 ]
[16 ] Outro instrumento bastante utilizado em estudos dos membros superiores é o questionário
de Disfunções do Braço, Ombro e Mão (Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand, DASH,
em inglês), que é aplicado somente na avaliação da função e dos sintomas dessa parte
do corpo durante a realização de certas atividades.[17 ]
Há um apoio crescente ao uso de desfechos relatados pelo paciente para a determinação
da qualidade do tratamento e da orientação terapêutica. Esses desfechos advêm de questionários
validados preenchidos pelos pacientes segundo as percepções de seu estado de saúde,
incapacidade e nível de comprometimento. Além disso, esses questionários permitem
a comparação de resultados antes e após um procedimento para avaliar a eficácia de
uma intervenção clínica segundo a perspectiva do paciente. A utilização combinada
de dois tipos de medidas de desfechos relatados pelo paciente é frequente.[18 ]
Até o momento, não há estudos sobre CA com uso simultâneo da CIF e do DASH. Esta investigação
permitiria o mapeamento do construto funcionalidade não apenas quanto à parte acometida
pela CA, como também quanto ao indivíduo como um todo.[16 ]
[17 ]
Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar, por meio da CIF e do DASH simultaneamente,
a funcionalidade de pacientes com CA submetidos ao BNSE. Acreditamos que os pacientes
apresentarão melhora nos dois instrumentos após o tratamento.
Materiais e Métodos
Local do Estudo e Delineamento Experimental
Este é um estudo prospectivo, do tipo antes e depois, realizado em um único centro
de um hospital privado terciário entre março de 2019 e julho de 2020. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa institucional em 29 de fevereiro de 2019,
sob o protocolo 08599119.1.0000.8058. Todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Participantes
Utilizamos o cálculo amostral de proporção finita considerando nível de significância
de 5%, poder do teste de 80%, e margem de erro de 5%. O tamanho da amostra foi determinado
como 25 participantes. A amostra foi do tipo não probabilística, consecutiva, obtida
após consulta de rotina em ambulatório especializado.
Os casos elegíveis de CA foram aqueles com dor constante por mais de 4 semanas e limitação
da amplitude de movimento ativa e passiva em todas as direções, como elevação anterior,
rotação externa em 0°/90° de abdução, e rotação interna em adução. O diagnóstico por
imagem revelou osteopenia local por desuso nas radiografias e restrição de volume
do recesso axilar, além de espessamento do ligamento coracoumeral, na ressonância
magnética.
Os pacientes com CA secundária foram incluídos no estudo pelos seguintes fatores determinados
por Zuckerman e Rokito:[4 ] cirurgia prévia, traumatismo, imobilização prolongada, rotura do manguito rotador,
tendinite calcária, além de diabetes mellitus , neuropatias e hipotireoidismo ou hipertireoidismo.
Os pacientes com artrose glenoumeral, luxação bloqueada do ombro, necrose da cabeça
do úmero, consolidação viciosa do úmero proximal e CA primária foram excluídos.
Coleta de Dados
Os dados foram coletados de acordo com as seguintes etapas: 1) apresentação da proposta
de pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; 2) aplicação
do questionário sociodemográfico e clínico; e 3) aplicação dos instrumentos de medida
de desfechos relatados pelos pacientes (CIF e DASH). Todas essas etapas foram realizadas
pelo mesmo pesquisador (SRN), que não foi responsável pelo BNSE.
Os quatro BNSEs, com base nos limites anatômicos, foram realizados pelo mesmo especialista
em ombro (MRF) em sala preparada e intervalos de 7 dias ([Figs. 1 ], [2 ], [3 ]).[19 ] O paciente com CA foi colocado sentado com o membro superior acometido em 0° de
abdução, e a área do ombro foi esterilizada com álcool a 70% antes da injeção. Uma
seringa com catéter de punção venosa n° 18 (Abocath; Bio-Med Healthcare Products,
Haryana, Índia) foi utilizada para injeção de 10 mL de bupivacaína a 0,5%, com adrenalina
a 1:200.000 (Neocaine, Cristália, Itapira, Brasil).
Fig. 1 Técnica lateral e indireta de bloqueio do nervo supraescapular com base em limites
anatômicos. Vista posterior e superior do ombro; círculo azul: a agulha é inserida
perpendicularmente à pele em sentido craniocaudal, a 2 cm da borda medial do acrômio
e a 2 cm da margem superior da espinha da escápula. Seta branca: processo coracoide.
Abreviaturas: CL, clavícula; AC, acrômio; EE, espinha da escápula.
Fig. 2 Vista posterior do ombro durante o bloqueio do nervo supraescapular. Abreviaturas:
AC, acrômio; EE, espinha da escápula.
Fig. 3 Vista superior do ombro durante o bloqueio do nervo supraescapular. Linha azul: borda
superior da espinha da escápula; linhas vermelhas: clavícula distal.
Todos os pacientes foram avaliados com os instrumentos CIF e DASH antes da intervenção
(T0 ), uma semana após o quarto BNSE (T4 ), e três meses após o primeiro BNSE (T12 ) ([Fig. 4 ]).
Fig. 4 Fluxograma de avaliação dos pacientes com capsulite adesiva com os instrumentos CIF
e DASH durante os três meses de estudo. Abreviaturas: BNSE, bloqueio do nervo supraescapular;
T, tempo de injeção; CIF, Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde; DASH, Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand.
Instrumentos
Todas as 54 categorias da CIF foram utilizadas, sendo 11 sobre as funções do corpo,
2 sobre as estruturas corpóreas, 17 sobre atividade e participação – desempenho, 17
sobre atividade e participação – capacidade, e 7 sobre fatores ambientais.[20 ] A fórmula RAW Scale, com pontuação de 0 a 100, foi utilizada com seus qualificadores
de 0 a 4 para determinar a magnitude da incapacidade: de 0% a 4% – nenhuma (0); 5%
a 24% – branda (1); 25% a 29% – moderada (2); 50% a 95% – grave (3); e 96% a 100%
– completa (4). Quanto menor o valor, melhor a funcionalidade do indivíduo.[15 ]
[20 ]
O DASH avalia as disfunções do membro superior ao longo do tempo por meio de 30 questões
sobre sintomas e realização de atividades específicas, e pode ser aplicado antes e
após procedimentos. Sua pontuação vai até 100 (quanto maior a pontuação, maior a incapacidade).[17 ]
[21 ]
Desfechos/Variáveis Independentes
Os desfechos foram a funcionalidade dos indivíduos e do membro superior segundo a
CIF e o DASH. As variáveis independentes foram: idade (em anos), gênero (masculino
ou feminino), etnia (branca, negra ou parda), escolaridade (< ou ≥ oito anos formais),
renda mensal (em salários-mínimos), religião (sim ou não), duração da dor (em meses),
lado acometido (direito ou esquerdo) e dominância (destra ou sinistra).
Análise de Dados
As variáveis categóricas foram apresentadas como frequências e porcentagens, enquanto
as variáveis contínuas foram expressas como médias, desvios padrão, e valores máximos
e mínimos.
Por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov, verificou-se a distribuição dos dados amostrais.
O coeficiente alfa de Cronbach foi calculado para determinar a consistência interna
e a confiabilidade da CIF e do DASH em T0 , T4 e T12 . Pelo teste do qui-quadrado, determinou-se a homogeneidade da amostra. O teste t pareado foi usado para comparar as médias da CIF e do DASH nos diferentes tempos:
T0 x T4 ; T4 x T12 ; e T0 x T12 . As análises estatísticas foram realizadas no programa Statistical Package for the
Social Sciences (IBM SPSS for Windows, IBM Corp., Armonk, NY, Estados Unidos), versão
20.0. A probabilidade de rejeitar a hipótese nula foi de 5%.
Resultados
Ao todo, 52 pacientes com CA foram recrutados; no entanto, 9 apresentavam CA primária,
13 tinham CA secundária, mas não quiseram realizar o BNSE, 3 apresentavam CA secundária
e não tiveram tempo de participar, e 2 não retornaram com os resultados dos exames
solicitados. Assim, a amostra final foi composta por 25 participantes com CA.
A [Tabela 1 ] resume os dados clínicos e sociodemográficos da amostra. A média de idade dos pacientes
foi de 58,16 anos, e a duração dos sintomas de dor variou de 2 a 16 meses, com média
de 5,92 meses.
Tabela 1
Variáveis
N
%
p *
Gênero
Feminino
16
64,0
Masculino
9
36,0
0,162
Idade
≤ 60 anos
15
60,0
> 60 anos
10
40,0
0,317
Renda mensal
1 a 2 salários mínimos
7
28,0
3 a 4 salários mínimos
8
32,0
0,756
≥ 5 salários mínimos
10
40,0
Etnia
Branca
17
68,0
Negra
2
8,0
0,001
Parda
6
24,0
Religião
Sim
24
96,0
Não
1
4,0
0,000
Nível de escolaridade
< 8 anos
4
16,0
≥ 8 anos
21
84,0
0,001
Lado acometido
Direito
17
68,0
Esquerdo
8
32,0
0,072
Dominância
Sinistra
2
8,0
Destra
23
92,0
0,000
Duração da dor
2 a 6 meses
12
48,0
> 6 meses
13
52,0
0,841
A [Tabela 2 ] mostra a análise de confiabilidade e consistência interna da CIF e do DASH em T0 , T4 e T12 , com alfa de Cronbach > 0,80.
Tabela 2
Alfa de Cronbach
Número de itens
CIF em T0
0,91
54
CIF em T4
0,87
54
CIF em T12
0,85
54
DASH em T0
0,87
30
DASH em T4
0,96
30
DASH em T12
0,94
30
A [Tabela 3 ] mostra a média, o desvio padrão e os valores máximos e mínimos dos domínios da CIF,
bem como as pontuações do DASH nos tempos T0 , T4 e T12 .
Tabela 3
N
Média
DP
Min.
Máx.
CIF
T0
Funções corpóreas
25
46,82
7,65
31,82
59,09
Estruturas corpóreas
25
62,50
8,84
50
75
Atividade e participação – desempenho
25
38,53
14,96
1,47
64,71
Atividade e participação – capacidade
25
42,59
12,41
16,18
64,71
Fatores ambientais
25
57,71
9,26
39,29
75
T4
Funções corpóreas
19
32,06
9,90
11,36
52,27
Estruturas corpóreas
19
50,00
12,50
37,5
75
Atividade e participação – desempenho
19
9,91
9,67
1,47
35,29
Atividade e participação – capacidade
19
25,77
9,55
5,88
39,71
Fatores ambientais
19
55,45
7,28
35,71
64,29
T12
Funções corpóreas
19
19,02
9,62
6,82
36,36
Estruturas corpóreas
19
50,66
11,39
25
62,50
Atividade e participação – desempenho
19
8,90
8,64
1,47
32,35
Atividade e participação – capacidade
19
22,68
8,21
4,41
33,82
Fatores ambientais
19
54,89
7,92
35,71
67,86
DASH
Em T0
25
50,68
11,18
28
67
Em T4
19
42,37
16,88
5
70
Em T12
19
29,58
13,33
7
51
A análise da classificação geral da CIF revelou que, no início do estudo (T0 ), os indivíduos apresentavam incapacidade funcional, com restrição e limitação de
suas atividades. Em T12 , apresentaram valores menores na extensão da incapacidade, representada pelos qualificadores
da CIF, principalmente nas categorias de desempenho e capacidade, em comparação ao
começo do tratamento. Da mesma forma, os valores do DASH diminuíram, o que expressa
uma melhora na função do membro superior.
A [Tabela 4 ] mostra a análise do teste t pareado comparando as médias da CIF e do DASH entre T0 , T4 e T12 . A pontuação na CIF mostrou que todos os domínios já haviam melhorado em T4 , à exceção dos fatores ambientais, que só melhoraram aos 3 meses (p = 0,037). Na avaliação do DASH, os pacientes já relatavam melhora da função do ombro
em T4 (p = 0,019), que aumentou ao final da coleta de dados (T12 ).
Tabela 4
T0 X T4
T4 X T12
T0 X T12
p *
p *
p *
CIF
Funções corpóreas
0,000
0,000
0,000
Estruturas corpóreas
0,000
0,841
0,000
Atividade e participação – desempenho
0,000
0,005
0,000
Atividade e participação – capacidade
0,000
0,000
0,000
Fatores ambientais
0,134
0,547
0,037
DASH
0,019
0,003
0,000
Discussão
A funcionalidade dos pacientes com CA melhorou após quatro semanas (T4 ) de BNSE (uma injeção por semana) segundo as duas medidas de desfechos relatados
pelos pacientes: CIF e DASH. Essa melhora continuou até três meses após o início do
tratamento (T12 ). O único domínio da CIF que melhorou apenas em T12 foi “fatores ambientais”.
Precisamos saber mais sobre as condições de saúde das pessoas com CA. Os dados coletados
neste estudo contribuíram para a avaliação do tratamento, e podem indicar uma nova
perspectiva de análise funcional na área ortopédica.[22 ] Nossos resultados mostraram que a CIF e o DASH possibilitam a identificação do nível
de comprometimento do indivíduo e do membro superior antes do procedimento, bem como
sua evolução clínica posterior.
Estudos[23 ]
[24 ] sobre outras doenças que utilizaram a CIF destacaram o valor dessa ferramenta. Magalhães
et al.[23 ] avaliaram os distúrbios de esforço repetitivo/osteomusculares relacionados ao trabalho,
e constataram que por meio da CIF poderiam ser identificados os aspectos clínicos
e sociais vivenciados pelos pacientes durante o processo de reabilitação e seu retorno
às atividades laborais. Silveira et al.[25 ] avaliaram indivíduos com doença de Parkinson, e seus resultados demonstraram que
a CIF parece ter boa capacidade e sensibilidade para abordar aspectos funcionais relativos
a essa doença.
O acesso às informações sobre aspectos funcionais tem sido prioridade no tratamento
de determinadas doenças, e a CIF é uma ferramenta com grande capacidade de aplicação
na orientação desses processos de funcionalidade.[26 ] Assim, é preciso verificar a importância da inserção da CIF nas medidas clínicas,
pois ela considera o contexto biopsicossocial em que o indivíduo está inserido. No
presente estudo, todos os domínios da CIF já haviam demonstrado melhora no desfecho
estudado em T4 , exceto “fatores ambientais”.
Esses fatores ambientais são compostos por atitudes físicas, sociais e ambientais
das pessoas à medida que vivem e conduzem suas atividades.[9 ]
[12 ]
[15 ] Neste estudo, os resultados mostraram que os fatores ambientais não eram barreiras
(negativas) ou facilitadoras (positivas) antes de T12 , e que a experiência vivida não interferia na doença ou influenciava a funcionalidade
do indivíduo. É importante saber que esse domínio ainda não é claro acerca da abrangência
dos fatores pessoais, ou se realmente representa uma influência na funcionalidade
específica do indivíduo.[10 ]
[12 ]
[26 ]
Jung et al.[27 ] compararam a eficácia do BNSE e da injeção intra-articular de corticosteroide em
dois grupos de intervenção por dois meses, e concluíram que a associação de procedimentos
melhorou significativamente a dor e os desfechos funcionais dos pacientes. No presente
estudo, os parâmetros de melhora significativa ocorreram no primeiro mês de tratamento
com os BNSEs (T4 ), com confirmação pelo DASH e pela CIF.
A estratégia utilizada neste estudo foi composta por quatro injeções de BNSE com intervalo
de sete dias ao longo de quatro semanas. No entanto, Mortada et al.[28 ] compararam bloqueios simples e múltiplos (nove injeções) em três semanas, e destacaram
que esse número teve resultados melhores do que apenas uma aplicação. No presente
estudo, a melhora da função do ombro foi observada com menos aplicações até 12 semanas.
Isso corrobora os achados de Haque et al.,[29 ] que recomendaram o BNSE como procedimento inicial de escolha em pacientes com CA.
A orientação ultrassonográfica[28 ] ou por limites anatômicos[8 ] é eficaz no BNSE, com resultados comparáveis.[30 ]
A utilização do DASH é satisfatória para as avaliações inicial e final em um período
de tratamento, pois é de fácil aplicação e possibilita o acompanhamento do paciente
no ambiente clínico.[21 ] Várias ferramentas de desfechos, inclusive o DASH, demonstram níveis aceitáveis
de propriedades de medida, e são adequadas para praticamente todos os pacientes com
uma doença no ombro.[22 ]
O presente estudo teve limitações, como a ausência de um grupo de controle submetido
a outra intervenção para comparação. Alguns fatores de risco não foram analisados,
assim como as comorbidades e outros métodos de tratamento. A amostragem não probabilística,
do tipo consecutiva, pode ter imposto um viés de seleção, não permitindo que todos
os pacientes participassem do estudo. Além disso, não sabemos se os pacientes com
CA mais grave apresentaram desfechos piores.
Os pontos fortes são a utilização de instrumentos validados com boa consistência interna
e traduzidos para a língua portuguesa, o que permite a comparação entre diferentes
culturas), o delineamento clínico longitudinal com seguimento, os critérios de elegibilidade
bem definidos e a ausência de trabalhos semelhantes na literatura. Todos os pacientes
foram submetidos a radiografias e ressonâncias magnéticas, além de avaliação clínica
completa realizada pelo mesmo especialista em ombro que fez o BNSE, diferente do pesquisador
que coletou os dados.
A utilização simultânea dos instrumentos DASH e CIF como medidas de desfechos relatados
pelos pacientes com CA é a novidade do presente estudo. A correlação desses dois instrumentos
aplicados nestes indivíduos com CA está em análise para publicação em breve, o que
nos permitirá compreender se eles se complementam ou não.
Conclusão
Segundo a CIF e o DASH, os BNSEs melhoram a funcionalidade de pacientes com CA, melhora
essa que continua a ocorrer até três meses após o início do procedimento. O único
domínio da CIF que melhorou apenas em T12 foi “fatores ambientais”.