Apresentação do Caso Paciente do sexo feminino, de 60 anos de idade, portadora de síndrome de Lynch, com
mutação no gene MSH-6 e em pós-operatório tardio de colectomia total com anastomose ileorretal e ooforectomia
bilateral. A cirurgia tinha sido realizada havia cerca de 20 anos, devido a neoplasia
sincrônica de cólons ascendente e descendente em estádio II, sendo realizada quimioterapia
(QT) adjuvante em seguida. A paciente manteve acompanhamento regular e anualmente
realizou retossigmoidoscopia (RS) flexível para a avaliação do coto retal, além de
dosagem de antígeno carcinoembrionário (CEA), endoscopia digestiva alta, e ultrassonografia
endovaginal, abdominal e de tireóide. Em março de 2020, iniciou com sangramento anal,
mas, devido à pandemia de Covid-19, não retornou para o seguimento naquele ano. Retornou
apenas em novembro de 2021, e teve diagnóstico, à RS flexível, de lesão tumoral no
reto médio/superior, com confirmação de adenocarcinoma invasivo à biópsia. Estadiamento
pela ressonância magnética foi T3a-bN0, e as tomografias de tórax e abdome não revelaram
sinais de doença metastática. Optou-se por cirurgia upfront, e foi realizada proctectomia com confecção de bolsa ileoanal em J e ileostomia protetora,
além de histerectomia total. O exame histopatológico da peça cirúrgica confirmou doença
pT3N0, com útero livre de neoplasia, e não foi indicada QT adjuvante. A paciente evoluiu
bem, e foi submetida a fechamento da ileostomia após dois meses.
Discussão A síndrome de Lynch é uma condição genética causada por mutação germinativa no gene
MMR (mismatch repair), que predispõe a alguns tipos de câncer, entre eles o câncer colorretal
(CCR), e é responsável por 1% a 3% dos casos dessa neoplasia. Os pacientes portadores
dessa síndrome e seus familiares devem realizar vigilância para prevenir o desenvolvimento
de CCR e outros cânceres. Em relação à prevenção do CCR, é indicada a realização de
colonoscopia a cada um a dois anos. No contexto atual da pandemia de Covid-19, foi
observada redução do diagnóstico de CCR para 62%, e redução na realização de colonoscopias
de 60% a 81%.
Comentários Finais O diagnóstico do CCR foi o que mais sofreu atrasos durante a pandemia, o que implica
diretamente piora do prognóstico. Foi observado aumento dos casos admitidos na urgência,
por obstrução ou perfuração, de 5,4% para 26%. O presente caso demonstra o impacto
negativo que a pandemia trouxe para o diagnóstico e tratamento do CCR, sobretudo em
se tratando de portadores de síndromes hereditárias.