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Apresentação do Caso Uma paciente do sexo feminino, de 46 anos, portadora de retocolite ulcerativa (RCU)
havia 8 anos (desde 2015), tinha realizado colectomia total com ileostomia terminal
havia 2 anos (em abril de 2021) em função de uma pancolite aguda grave. Em abril de
2023, realizou proctectomia com confecção de bolsa ileal (pouch) e ileostomia protetora em dois tempos, devido à intensa atividade da doença, demonstrada
clinicamente e por retoscopia com biópsia. Em seguida, foi internada por sete dias,
com pós-operatório em CTI, com boa evolução clínica e sem intercorrências. Em junho
de 2023, compareceu ao Ambulatório de Coloproctologia com queixa de que, desde a alta
hospitalar, apresentava mucorreia volumosa com incontinência e necessidade de uso
de fraldas. A paciente é portadora de vasculite leucocitoclástica, fibromialgia, DRGE
e depressão, e está em uso de vedolizumabe, ciclobenzaprina, citalopram, zolpidem,
pregabalina e clonazepam. Ao exame físico, apresentou ileostomia em alça em bom aspecto
ao toque retal, com discreta estenose, facilmente dilatada ao toque digital. Como
conduta, após a avaliação pelo Serviço de Gastroenterologia e a solicitação de exames
laboratoriais, os resultados foram positivos para GDH e toxinas A e B na pesquisa
por infecção pelo Clostridium difficile (C. diff). A paciente foi tratada com vancomicina oral por 14 dias; entretanto, houve
recorrência da infecção, com melhora na saída de líquido pelo ânus, mas com persistência
da saída de muco. Nesse contexto, optou-se pela extensão do tratamento com vancomicina
em pulso decrescente, que está em curso até o momento.
Discussão Infecções pelo C. diff apresentam manifestações e respostas diversas em cada indivíduo,
desde diarreias leves até colites graves. A literatura aponta que portadores de DII
têm maior propensão a desenvolver infecções por C. diff, e pacientes com RCU apresentam
maior risco de recorrência da infecção e taxas mais elevadas de colectomia após o
episódio infeccioso. Ademais, há maior risco de bolsites quanto maior for a concentração
de anaeróbios nas bolsas ileais. A virulência do C. diff é atribuída às ações das
toxinas A e B, que têm efeitos citotóxicos e enteropáticos. E o sistema imunológico
é crucial no combate à infecção, pois afecções nesse sistema podem levar a consequências
mais negativas ao quadro dos pacientes.
Considerações Finais A abordagem de pacientes com RCU é desafiadora e requer condutas individualizadas,
dado o risco de complicações com morbimortalidades significativas, como a bolsite
por C. difficile.