Introdução: Atualmente, há diversas ferramentas que permitem uma irradiação com precisão milimétrica.
Porém, a incerteza no delineamento das estruturas envolvidas, muitas vezes negligenciada,
pode ofuscar esse avanço. Objetivo: Avaliar a variabilidade do delineamento intra-observador da bexiga e do reto no planejamento
radioterápico do câncer de próstata. Método: Imagens tomográficas em supino de três pacientes de câncer de próstata, realizadas
com cortes de 3,7 mm e sem a utilização de contraste, foram usadas neste estudo. Em
cada série tomográfica, dois médicos residentes delinearam o reto e a bexiga cinco
vezes, com pelo menos seis horas de intervalo. Para quantificar as variações dos delineamentos,
foi utilizada uma medida relativa, o coeficiente de similaridade de Sorensen-Dice
(CSD), e uma medida absoluta, a distância de Hausdorff (DH). Foram comparadas todas
as combinações dos cinco contornos da mesma estrutura realizados por cada observador,
resultando em 60 valores obtidos para cada métrica. Resultados: As variações observadas no contorno da bexiga foram menores que as do reto, apesar
das distâncias máximas entre contornos da mesma estrutura terem apresentado magnitudes
semelhantes. Na avaliação da variação intra-observador no delineamento da bexiga,
os valores obtidos – média (DP) [mín-máx] – foram: CSD: 0,96 (0,03) [0,89-0,99]; DH:
11,6 mm (5,4 mm) [5,6-29,4 mm]. Os valores obtidos na avaliação da variação do delineamento
do reto foram: CSD: 0,86 (0,15) [0,33-0,97]; DH: 11,0 mm (6,2 mm) [4,6- 28,0 mm].
Conclusão: No contorno vesical, os valores do CSD obtidos refletem um baixo grau de dificuldade.
As variações desse delineamento, possivelmente, não resultariam em diferenças significativas
no histograma dose-volume (HDV), e consequentemente, teriam pouco impacto em decisões
clínicas. Entretanto, o impacto dosimétrico dessas variações ainda deve ser investigado,
uma vez que distâncias de até 2,9 cm entre contornos do mesmo observador foram observadas.
O delineamento do reto apresenta um desafio maior. Esta fonte de incerteza pode ser
significativa, como as diferenças observadas neste trabalho sugerem. As variações
no HDV provocadas por essas diferenças poderiam resultar em decisões clínicas como
a alteração da dose prescrita ou a diminuição da cobertura do alvo do tratamento,
por exemplo. Portanto, estratégias para redução da variabilidade no delineamento do
reto devem ser desenvolvidas para aumentar a padronização e uniformização dos tratamentos.