Palavras-chave
diagnóstico por imagem - imagem por ressonância magnética - joelho - lesões do menisco
tibial
Keywords
diagnostic imaging - knee - magnetic resonance imaging - tibial meniscus injuries
Introdução
Os meniscos são lâminas fibrocartilaginosas intracapsulares em forma de crescente
que atuam na transmissão de carga, absorção de choque, estabilidade, lubrificação,
difusão de nutrientes, percepção sensorial e propriocepção.[1] As rupturas de menisco são comuns, com incidência relatada de cerca de 60 casos
por 100 mil habitantes nos Estados Unidos.[2] Há diversos padrões. As rupturas em alça de balde consistem em uma ruptura longitudinal
de espessura total que se propaga anterior e posteriormente, criando um fragmento
interno – a “alça” – que pode se deslocar para o interior da incisura intercondilar.[3] Estas lesões representam aproximadamente 10% de todas as rupturas,[3]
[4] e ocorrem principalmente no menisco medial,[4]
[5] mas podem afetar o menisco lateral.[6]
[7]
[8] Como o tratamento cirúrgico é frequentemente necessário, o diagnóstico pré-operatório
correto é importante para otimizar o tratamento e salvar o tecido do menisco.[9] A ressonância magnética (RM) é o método padrão-ouro de diagnóstico por imagem, com
uma sensibilidade geral de até 90,0% e especificidade de até 89,0%.[10]
[11]
[12]
[13] Na RM, as rupturas em alça de balde do menisco tendem a apresentar alguns sinais
bem conhecidos, principalmente em cortes coronais e sagitais, como a ausência do sinal
da gravata borboleta,[14] o sinal do ligamento cruzado posterior (LCP) duplo,[15]
[16] o sinal do corno anterior duplo,[17] do sinal do menisco invertido,[18] o sinal do corno posterior desproporcional,[19] o sinal do ligamento cruzado anterior (LCA) duplo,[20] o sinal do LCP triplo,[7] o sinal cruzado triplo,[8] o sinal cruzado quádruplo,[6] e a presença de um fragmento no interior da incisura intercondilar [4] ([Anexo A]). A sensibilidade e a especificidade relatadas para o diagnóstico de rupturas em
alça de balde do menisco são bastante variáveis, de 64,0% a 93,0%[4]
[5]
[21] e de 64,0% a 100%,[10]
[22] respectivamente, mas melhoram se mais sinais forem conhecidos.[5]
[22]
Anexo A
Definição dos achados característicos à ressonância magnética de rupturas em alça
de balde do menisco
Autores
|
Sinal
|
Definição
|
Weiss et al., 1991;[15] Singson et al., 1991[16]
|
LCP duplo
|
Uma banda de baixo sinal anterior e paralela ao ligamento cruzado posterior em imagens
sagitais.
|
Haramati et al., 1993[18]
|
Menisco invertido
|
Um corno meniscal anterior com aumento anormal (> 6 mm).
|
Wright et al., 1995[4]
|
Fragmento intercondilar
|
Uma área semelhante a uma faixa de baixa intensidade de sinal no interior da incisura,
mas que não aparece no mesmo corte do que o LCP.
|
Helms et al., 1998[14]
|
Sinal da ausência de gravata borboleta
|
A ocorrência de apenas um ou nenhum segmento do corpo meniscal em imagens sagitais
consecutivas de ressonância magnética.
|
Ruff et al., 1998[17]
|
Corno anterior duplo
|
Presença de dois triângulos não justapostos verticalmente, mas localizados lado a
lado no mesmo plano horizontal em um corte sagital, parecendo dois cornos anteriores
do menisco.
|
Chen et al., 2001[19]
|
Corno posterior desproporcional
|
Corno posterior no corte central maior do que no corte periférico nas imagens de ressonância
magnética sagital.
|
Bugnone et al., 2005[6]
|
Sinal cruzado quádruplo
|
Quatro estruturas na incisura intercondilar observadas em cortes coronais consecutivos:
ambos os fragmentos deslocados de meniscos rompidos, o coto do LCA rompido e o LCP
intacto.
|
Bui-Mansfield et al., 2006[20]
|
LCA duplo
|
A presença do fragmento imediatamente posterior ao LCA.
|
Kakel et al., 2010[7]
|
LCP triplo
|
Presença de um LCP intacto e dois fragmentos deslocados na incisura intercondilar
devido a duas rupturas em alça de balde em um corte sagital de um joelho com deficiência
do LCA.
|
Rao et al., 2012[23]
|
Sinal em V
|
O “V” é visto na junção do fragmento deslocado (alça), pois forma um ângulo reto com
o menisco, que está no local correto.
|
Sales et al., 2021[8]
|
Sinal cruzado triplo
|
Três estruturas na incisura intercondilar observadas em cortes coronais: fragmentos
deslocados de meniscos rompidos e o LCP intacto.
|
Barrie, 1979[25]
|
Cisto parameniscal
|
Acúmulo de fluido em íntima relação com o menisco, seja por contato direto ou fístula.
|
Gale et al., 1999[26]
|
Extrusão de menisco
|
Quantificada em imagem coronal em seu maior valor e considerada quando a margem periférica
do menisco se estende 3 mm ou mais além da borda do platô tibial.
|
Kaplan et al., 1999[27]
|
Edema da medula subcondral
|
Edema não linear sem margem claramente definida.
|
Kolman et al., 2004[24]
|
Efusão articular
|
Uma medida anteroposterior de 10 mm ou mais na bolsa suprapatelar lateral, considerada
anormal.
|
Bergin et al., 2008[28]
|
Edema linear da medula subcondral
|
Edema bem delimitado, paralelo à superfície articular e com menos de 5 mm de profundidade.
|
Abreviaturas: LCA, ligamento cruzado anterior; LCP, ligamento cruzado posterior.
Pelo que sabemos, havia apenas um sinal descrito na RM axial: o sinal em V.[23] Este artigo teve como objetivo relatar um novo achado a ser identificado nessa projeção,
com aparência de chifre de búfalo e observado em pacientes com rupturas em alça de
balde do menisco. Além disso, este estudo determinou a sensibilidade desse achado
e a comparou à de outros sinais já conhecidos.
Materiais e Métodos
Conformidade com os Padrões Éticos
Este estudo obedece aos padrões éticos do Comitê de Pesquisa institucional e da Declaração
de Helsinque de 1964 e suas emendas posteriores ou padrão ético comparável. O estudo
recebeu a aprovação n. 215/22 do Conselho de Ética do Centro Acadêmico Médico de Lisboa.
Não havia necessidade de obtenção de consentimento livre e esclarecido desde que os
padrões de proteção de dados pessoais fossem atendidos, mas obtivemos o consentimento
por escrito de todos os pacientes cujas imagens de RM foram incluídas neste artigo.
Este é um estudo retrospectivo baseado em exames de RM de pacientes diagnosticados
durante a cirurgia com rupturas em alça de balde do menisco, desconsiderando idade,
sexo, mecanismo de trauma, tempo entre o trauma e a RM e entre o trauma e a cirurgia,
tratamento, cirurgião, lesão do LCA, e joelho ou menisco acometido.
Obtivemos uma amostra consecutiva de 1.767 pacientes operados no Serviço de Ortopedia
de um hospital universitário por qualquer patologia do joelho entre 2012 e 2021 ([Fig. 1]). Este período foi escolhido por conter o maior número de pacientes disponíveis
em nossa instituição devido à limitada informatização dos processos médicos nos anos
anteriores. Apenas 610 pacientes apresentaram ruptura de menisco comprovada cirurgicamente,
e 49 tinham padrão em alça de balde. Em seguida, foram excluídos os pacientes com
os seguintes critérios: histórico de cirurgia no joelho, outros padrões de ruptura
de menisco, ausência de ruptura de menisco, protocolo de RM desconhecido, sequências
axiais ausentes ou sem aquisição de meniscos, e recusa em participar desta pesquisa.
A amostra coletada incluiu 28 pacientes, 22 homens e 6 mulheres, com média de idade
de 34,2 (± 14,0; intervalo: 9–63) anos. O mecanismo de lesão mais frequente relatado
pelos pacientes foi a torção com ou sem carga coronal (16 pacientes). Quatro pacientes
apresentaram a lesão após flexão do joelho ou agachamento. Dois casos sofreram queda
da própria altura, e um descreveu um trauma complexo durante a prática de surfe. Cinco
pacientes não conseguiram identificar nenhum trauma.
Fig. 1 Fluxograma que mostra a estratégia de busca e os critérios de seleção.
Doze destas lesões foram relacionadas a esportes. Todos os pacientes apresentaram,
em algum grau, dor no joelho, derrame articular, sensação de travamento ou laxidez,
ou perda de extensão. Todas as radiografias demonstraram a preservação da linha articular.
Ao todo, 24 exames de RM foram realizados no hospital em que este estudo foi conduzido
e 4 foram realizados em outro lugar, mas com protocolo semelhante. Dezessete utilizaram
o scanner Philips Intera de 1,5 T, e 11, o scanner Philips Achieva de 3,0 T. A bobina de joelho específica para recepção fornecida pelo
fabricante para cada scanner foi utilizada. As aquisições padrão estão resumidas na [Tabela 1], e incluem: coronal T1, T2 fast field echo (FFE) e short tau inversion recovery (STIR); sagital com densidade de prótons (DP) com e sem supressão de gordura; e axial
T2 FFE. Alguns exames incluíram imagens coronais T2 spectral attenuated inversion recovery (SPAIR) e axiais SPAIR. Um protocolo ligeiramente diferente do scanner Intera foi usado para avaliar o paciente pediátrico, com cortes de 3 mm e gap de 0,3 mm.
Tabela 1
Protocolos de aquisição de ressonância magnética
Philips Intera (1,5 T)
|
|
Matriz
|
TR/TE (ms)
|
Corte (mm)
|
Gap (mm)
|
Média
|
FOV (mm)
|
FA (°)
|
Coronal
|
T1
|
400 × 300
|
500/22
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
90
|
T2 FFE
|
300 × 250
|
500/14
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
25
|
STIR
|
250 × 200
|
5.000/80
|
3,5
|
0,35
|
3
|
180
|
–
|
T2 SPAIR
|
300 × 250
|
3.000/60
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
90
|
Sagital
|
|
|
|
|
|
|
|
DP
|
300 × 250
|
2.500/8
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
90
|
DP SPAIR
|
250 × 250
|
3.000/30
|
3,5
|
0,35
|
3
|
180
|
90
|
T2
|
300 × 250
|
2.500/120
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
90
|
Axial
|
T2 FFE
|
250 × 200
|
600/14
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
25
|
SPAIR
|
250 × 200
|
3.000/30
|
3,5
|
0,35
|
4
|
180
|
90
|
Phillips Achieva (3 T)
|
Coronal
|
T1
|
400 × 350
|
600/20
|
3
|
0,3
|
2
|
180
|
90
|
T2 FFE
|
400 × 300
|
450/12
|
3
|
0,3
|
2
|
180
|
20
|
STIR
|
250 × 200
|
4.000/80
|
3,5
|
0,35
|
2
|
180
|
–
|
T2 SPAIR
|
300 × 250
|
4.000/65
|
3
|
0,3
|
2
|
180
|
90
|
Sagital
|
DP
|
400 × 300
|
7.000/9
|
3
|
0,3
|
1
|
180
|
90
|
DP SPAIR
|
300 × 300
|
5.000/30
|
3
|
0,3
|
2
|
180
|
90
|
T2
|
400 × 300
|
7.000/140
|
3
|
0,3
|
1
|
180
|
90
|
Axial
|
T2 FFE
|
300 × 250
|
500/12
|
3
|
0,3
|
2
|
180
|
20
|
SPAIR
|
300 × 250
|
3.800/65
|
3
|
0,3
|
2
|
180
|
90
|
Abreviaturas: FA, flip angle (ângulo de inclinação); FFE, fast field echo; FOV, field of view (campo de visão); DP, densidade de prótons; SPAIR, spectral attenuated inversion recovery; STIR, short tau inversion recovery; TE, tempo de eco; TR, tempo de repetição.
Todas as cirurgias foram realizadas por cirurgiões de joelho experientes, com especialização.
A ruptura do menisco em alça de balde foi definida como “uma ruptura longitudinal
com migração central do fragmento ‘interno’ da alça”.[3]
Um cirurgião sênior de joelho e um residente ortopédico foram instruídos sobre a interpretação
de RM de rupturas em alça de balde, e, então, de forma prospectiva e cega, avaliaram
as imagens. O consenso foi dado pelo radiologista musculoesquelético sênior. Cada
exame de RM foi avaliado quanto à presença do sinal de gravata borboleta[14] ausente do sinal de LCP duplo,[15]
[16] do sinal do corno anterior duplo,[17] do sinal do menisco invertido,[18] do sinal do corno posterior desproporcional,[19] do sinal do LCA duplo,[20] do sinal do LCP triplo,[7] do sinal cruzado triplo,[8] do sinal cruzado quádruplo,[6] e de um fragmento no interior da incisura intercondilar.[4] Em corte transversal, o sinal em V[23] e o novo sinal foram registrados. O sinal do chifre de búfalo é a presença de uma
área de baixa intensidade que se projeta da borda anterior do platô tibial medial,
à semelhança de um chifre, que pode ser visto na RM axial, como demonstrado na [Fig. 2]. Em caso de acometimento do menisco lateral, o sinal aparece como uma faixa em forma
de chifre de baixa intensidade, paralela à borda anterior do platô tibial lateral
em duas imagens axiais consecutivas ([Fig. 3]). As outras definições usadas são revistas no [Anexo A]. A presença de efusão articular,[24] cisto parameniscal,[25] extrusão de menisco[26] e edema de medula óssea e sua localização[27]
[28] também foram registradas. À RM, os casos de suspeita de ruptura em hemialça de balde
do menisco foram contados.[29] Evidências cirúrgicas de ruptura do LCA foram relatadas.
Fig. 2 (A) Imagem de ressonância magnética pré-operatória de um homem de 54 anos com ruptura
em alça de balde do menisco medial do joelho direito relatada à cirurgia, que mostra
o sinal do chifre de búfalo (seta) no corte transversal axial. Este achado é uma área
de baixa intensidade de sinal, que se projeta da borda anterior do platô tibial medial
e se assemelha a um chifre. (B) Artroscopia do joelho direito usando um portal anterolateral e mostrando o fragmento
deslocado do menisco do mesmo paciente, anterior ao côndilo femoral. Sequência spectral attenuated inversion recovery (SPAIR) axial: matriz, 250 × 200; tempo de repetição/tempo de eco (TR/TE), 3.000/30
milissegundos; corte, 3,5 mm; gap, 0,35; média, 4; campo de visão (field of view, FOV, em inglês), 180 mm; ângulo de inclinação (flip angle, FA, em inglês), 90°.
Fig. 3 Imagem de ressonância magnética pré-operatória de um homem de 17 anos com ruptura
em alça de balde do menisco lateral do joelho esquerdo relatada à cirurgia. (A,B) Corte transversal axial em T2 fast field echo (FFE), que mostra o sinal do chifre de búfalo (seta) no menisco lateral. O sinal
tem formato de chifre, baixa intensidade, e é paralelo à borda anterior do platô tibial
lateral em duas imagens axiais consecutivas. Sequência T2 FFE axial, matriz, 300 × 250;
TR/TE, 500/12 milissegundos; corte, 3 mm; FOV, 180 mm, FA, 20°.
Uma pesquisa bibliográfica pelos termos e expressões meniscos, alça de balde e imagem de ressonância magnética foi conduzida no motor de busca PubMed, considerando apenas textos em inglês e estudos
em humanos. Nenhum relato sobre o sinal do chifre de búfalo foi encontrado.
Análise Estatística
A análise estatística utilizou a versão 18.0 do programa PASW Statistics para Windows.
Valores de p menores do que 0,05 foram considerados significativos. Variáveis nominais foram analisadas
pelo teste do Qui quadrado (χ2) ou pelo teste exato de Fisher quando > 20% das células tinham contagem esperada
menor do que 5.
Resultados
O sinal do chifre de búfalo foi encontrado em 13 dos 28 casos (46,4%), sendo o terceiro
sinal mais prevalente depois do fragmento no interior da incisura intercondilar (n = 21; 75,0%) e da ausência do sinal da gravata borboleta (n = 17; 60,7%). O sinal ocorreu em 7/19 meniscos mediais (36,8%) ([Fig. 2]) e em 6/9 meniscos laterais (66,7%) ([Fig. 3]). Na presença de achados sugestivos de deslocamento anterior da alça (n = 9), o novo sinal foi visto em 7 casos (77,8%), sendo 3 meniscos mediais (33,3%)
e 4 meniscos laterais (66,7%). Na presença de achados sugestivos de um fragmento com
deslocamento posterior (n = 4), o sinal de chifre de búfalo foi observado em 2 pacientes (50,0%), 1 menisco
medial e 1 lateral. Nenhum dos achados supramencionados foi estatisticamente significativo.
Uma associação significativa entre o novo sinal e um fragmento no interior da incisura
intercondilar (p = 0,01) e um sinal de corno anterior duplo (p = 0,01) foi observada ([Tabela 2]). Não houve outros achados estatisticamente significativos. O chifre de búfalo foi
observado independentemente de uma ruptura do LCA ([Tabela 3]).
Tabela 2
Frequência do sinal do chifre do búfalo na presença de outros achados
Sinal do chifre do búfalo
|
Sinal
|
Presente
(n = 13): n (%)
|
Ausente
(n = 15): n (%)
|
Total
(n = 28): n (%)
|
RC
(IC)
|
Teste estatístico
|
p
|
Fragmento intercondilar
|
13 (100%)
|
8 (53%)
|
21 (75%)
|
0,53
(0,33–0,86)
|
EF
|
0,01
|
Ausência do sinal de gravata borboleta
|
10 (77%)
|
7 (47%)
|
17 (60%)
|
3,81
(0,74–19,67)
|
χ2 = 2,67
|
0,10
|
Sinal em V
|
6 (46%)
|
3 (20%)
|
9 (32%)
|
3,43
(0,65–18,22)
|
EF
|
0,23
|
LCP duplo
|
6 (46%)
|
2 (13%)
|
8 (28%)
|
5,57
(0,88–35,27)
|
EF
|
0,10
|
Menisco invertido
|
6 (46%)
|
2 (13%)
|
8 (29%)
|
5,57
(0,88–35,27)
|
EF
|
0,10
|
Corno anterior duplo
|
5 (39%)
|
0 (0%)
|
5 (18%)
|
1,63
(1,06–2,50)
|
EF
|
0,01
|
Corno posterior desproporcional
|
5 (39%)
|
2 (13%)
|
7 (25%)
|
4,06
(0,63–26,13)
|
EF
|
0,20
|
LCA duplo
|
2 (15%)
|
0 (0%)
|
2 (7%)
|
1,18
(0,94–1,49)
|
EF
|
0,21
|
Sinais indiretos
|
Efusão articular
|
10 (77%)
|
7 (47%)
|
17 (60%)
|
3,81
(0,74–19,66)
|
χ2 = 2,67
|
0,10
|
Edema da medula subcondral
|
5 (39%)
|
4 (27%)
|
9 (32%)
|
1,72
(0,35–8,51)
|
EF
|
0,69
|
Edema linear da medula subcondral
|
3 (23%)
|
5 (33%)
|
8 (29%)
|
0,60
(0,11–3,21)
|
EF
|
0,69
|
Edema subcondral do PTM
|
3 (23%)
|
6 (40%)
|
9 (32%)
|
0,45
(0,09–2,35)
|
EF
|
0,44
|
Extrusão de menisco
|
2 (15%)
|
5 (33%)
|
7 (25%)
|
0,36
(0,06–2,31)
|
EF
|
0,40
|
Cisto parameniscal
|
0 (0%)
|
2 (13%)
|
2 (8%)
|
0,88
(0,71–1,06)
|
EF
|
0,48
|
Outras lesões
|
Ruptura de LCA
|
5 (39%)
|
6 (40%)
|
11 (39%)
|
0,94
(0,21–4,29)
|
χ2 = 0,01
|
0,93
|
Hemialça de balde
|
0 (0%)
|
3 (20%)
|
3 (11%)
|
0,80
(0,62–1,03)
|
EF
|
0,23
|
Abreviaturas: χ2, teste do Qui quadrado; EF, teste exato de Fisher; LCA, ligamento cruzado anterior;
LCP, ligamento cruzado posterior; PTM, platô tibial medial; RC, razão de chances.
Notas: Foi observada uma associação entre o fragmento no interior da incisura intercondilar
e o corno anterior duplo com o novo sinal relatado. Os testes χ2 e EF foram realizados. Os valores de p estatisticamente significativos estão em negrito.
Tabela 3
Ruptura do ligamento cruzado anterior e frequência dos sinais da ruptura em alça de
balde
Ruptura do LCA
|
Sinal
|
Presente
(n = 11): n (%)
|
Ausente
(n = 17): n (%)
|
Total
(n = 28): n (%)
|
RC
(IC)
|
Teste estatístico
|
p
|
Fragmento intercondilar
|
7 (64%)
|
14(82%)
|
21 (75%)
|
0,38
(0,07–2,16)
|
EF
|
0,38
|
Ausência do sinal de gravata borboleta
|
8 (73%)
|
9 (53%)
|
17 (60%)
|
2,37
(0,46–12,14)
|
EF
|
0,44
|
Chifre de búfalo
|
5 (46%)
|
8 (47%)
|
13 (46%)
|
0,94
(0,21–4,29)
|
χ2 = 0,01
|
0,93
|
Sinal em V
|
4 (36%)
|
5 (29%)
|
9 (32%)
|
1,37
(0,27–6,87)
|
EF
|
1,00
|
LCP duplo
|
3 (27%)
|
5 (29%)
|
8 (28%)
|
0,90
(0,17–4,87)
|
EF
|
1,00
|
Menisco invertido
|
2 (18%)
|
6 (35%)
|
8 (29%)
|
0,41
(0,07–2,53)
|
EF
|
0,42
|
Corno posterior desproporcional
|
4 (36%)
|
3 (18%)
|
7 (25%)
|
2,67
(0,46–15,35)
|
EF
|
0,38
|
Corno anterior duplo
|
4 (36%)
|
1 (6%)
|
5 (18%)
|
9,14
(0,86–97,27)
|
EF
|
0,06
|
LCA duplo
|
0 (0%)
|
2 (12%)
|
2 (8%)
|
0,88
(0,74–1,05)
|
EF
|
0,51
|
Sinais indiretos
|
Efusão articular
|
7 (64%)
|
10 (59%)
|
17 (60%)
|
1,22
(0,26–5,85)
|
EF
|
1,00
|
Edema da medula subcondral
|
6 (65%)
|
3 (18%)
|
9 (32%)
|
5,60
(1,01–31,32)
|
EF
|
0,38
|
Edema subcondral do PTM
|
6 (65%)
|
3 (18%)
|
9 (32%)
|
5,6
(1,00–31,32)
|
EF
|
0,10
|
Edema linear da medula subcondral
|
2 (18%)
|
6 (25%)
|
8 (29%)
|
0,41
(0,07–2,53)
|
EF
|
0,42
|
Extrusão de menisco
|
3 (27%)
|
4 (23%)
|
7 (25%)
|
1,22
(0,22–6,92)
|
EF
|
1,00
|
Cisto parameniscal
|
0 (0%)
|
2 (12%)
|
2 (8%)
|
0,8
(0,74–1,05)
|
EF
|
0,51
|
Outras lesões
|
Hemialça de balde
|
0 (0%)
|
3 (18%)
|
3 (11%)
|
0,8
(0,66–1,03)
|
EF
|
0,26
|
Abreviaturas: χ2, teste do Qui quadrado;EF, teste exato de Fisher; LCA, ligamento cruzado anterior;
LCP, ligamento cruzado posterior; PTM, platô tibial medial; RC, razão de chances.
Notas: Não houve diferença na prevalência dos achados entre os grupos com ou sem ruptura
do LCA. Foram realizados os testes χ2 e EF.
Observando os achados dos cortes axiais, o sinal em V foi identificado em 9 casos,
o que indica uma sensibilidade de 32,1%. Destes nove pacientes, três apresentavam
somente o sinal em V, e seis também apresentavam o sinal de chifre de búfalo. Dos
13 pacientes com este último, 7 tinham apenas o sinal do chifre de búfalo, mas não
o sinal em V. Nenhum desses sinais foi o único sinal de ruptura, e todos os casos
apresentavam simultaneamente o fragmento no interior da incisura intercondilar e o
sinal de ausência da gravata borboleta.
A ruptura ocorreu no menisco medial em 19 casos (67,8%), e no menisco lateral, em
9 casos (32,2%). Três casos apresentam achados imagiológicos sugestivos de hemialça
de balde,[27] mas tal não pôde ser confirmado pelos prontuários cirúrgicos, sendo que nenhum desses
pacientes apresentou o sinal do chifre de búfalo. Seis exames de RM não diagnosticaram
ruptura em alça de balde, mas todos apresentaram pelo menos um sinal indireto. O novo
sinal nunca foi encontrado em um menisco não acometido.
Discussão
O achado mais relevante do presente estudo foi o de que o chifre de búfalo pode ser
um novo sinal para o diagnóstico de rupturas em alça de balde do menisco. É útil para
ambos os meniscos em fragmentos deslocados para anterior[18]
[20] ou posterior.[19] O sinal foi observado em 7/19 meniscos mediais (36,8%) e em 6/9 meniscos laterais
(66,7%), sem diferença significativa. Todos os casos com duplo corno anterior tinham
sinal de chifre de búfalo (p = 0,01). Em 8/28 casos (28,6%) com menisco invertido, o sinal proposto apareceu em
6 (75,0%). Ambos os pacientes com duplo LCA também apresentam o sinal do chifre de
búfalo (100%). O achado também apareceu em 2/4 casos com corno posterior desproporcional.
Além disso, todos os pacientes com o novo achado tinham um fragmento dentro da incisura
intercondilar (p = 0,01). O novo sinal nunca apareceu sozinho, mas sempre na presença de outros sinais
de deslocamento do fragmento. Assim, pode-se concluir que o sinal de chifre de búfalo
indica uma alça deslocada de uma ruptura de menisco e que aparece quando o corte axial
o bissecta ([Fig. 4]).
Fig. 4 O fragmento deslocado em forma de alça de balde do menisco medial de um joelho direito
em corte axial (caixa laranja), com aparência de chifre.
Este novo achado foi observado porque a avaliação de imagens em corte transversal
está ganhando importância na prática clínica, e havia apenas um sinal previamente
descrito para esta lesão nestas imagens: o sinal em V.[23] Apesar de próximos, esses dois achados não são os mesmos. O chifre de búfalo usa
uma sequência de imagens, é anterior, e não precisa ter a alça e o menisco no mesmo
corte. Sete pacientes tinham o sinal do chifre de búfalo, mas não o sinal em V, e
três tinham o último, mas não o primeiro. Seis de nove pacientes apresentaram os dois
sinais ao mesmo tempo ([Fig. 5]). Nesta amostra, o sinal em V teve 32,1% de sensibilidade, valor inferior ao relatado
por Rao et al.,[23] de 72,0%, e menor do que a sensibilidade do sinal do chifre de búfalo nesta amostra
(46,4%).
Fig. 5 Cortes transversais de uma ressonância magnética pré-operatória de um homem de 27
anos com ruptura em alça de balde do menisco medial do joelho esquerdo. (A) O sinal em V (*) e o sinal do chifre de búfalo (seta) são visíveis. (B) No corte seguinte, apenas o sinal do chifre de búfalo (seta) é observado. Sequência
T2 SPAIR axial: matriz, 300 × 250; TR/TE, 3.800/65 milissegundos; corte, 3 mm; gap, 0,3; média, 2; FOV, 180 mm; FA, 90°.
A sensibilidade geral da RM neste estudo foi baixa, e correspondeu à metade inferior
do intervalo de sensibilidade relatado anteriormente, de 64% a 93%.[4]
[5]
[12]
[13]
[21]
[22] Ao todo, 6 de 28 exames de RM não detectaram qualquer sinal de ruptura em alça de
balde do menisco, o que se traduz em uma sensibilidade geral de apenas 78,6%. Esse
fato pode explicar a baixa sensibilidade do sinal do chifre de búfalo (46,4%), embora
tenha sido o terceiro sinal mais relevante, com sensibilidade maior do que os outros
6 achados amplamente difundidos. Sua sensibilidade foi superada pelo fragmento no
interior da incisura intercondilar (21/28; 75,0%) e pela ausência do sinal da gravata
borboleta (17/28; 60,7%). Isso é consistente com a sensibilidade relatada por Dorsay
e Helms para o fragmento dentro da incisura intercondilar de 76,7%[22] mas é menor do que os 88,4% descritos para o sinal da ausência da gravata borboleta
no mesmo estudo. Nesta pesquisa, não se pretende calcular a especificidade ou a reprodutibilidade
do sinal do chifre de búfalo, mas nunca o observamos em meniscos não acometidos; ademais,
a visualização do sinal requer a presença de um fragmento deslocado. Portanto, acreditamos
em sua especificidade. Além disso, a definição proposta e a aparência do sinal do
chifre de búfalo são fáceis de detectar, talvez mais do que o fragmento no interior
da incisura intercondilar ou do que a ausência da gravata borboleta, cujas definições
são vagas.
Este estudo tem várias limitações. A amostra foi pequena devido aos obstáculos, como
a informatização limitada de arquivos médicos anteriores a 2012 e o baixo volume de
pacientes tratados. Embora isso tenha impedido a obtenção de uma amostra maior, acreditamos
que não ameaça o objetivo deste artigo. Os meniscos não acometidos foram usados como
controles, e o tempo decorrido entre o trauma, a RM e a cirurgia pode ter sido uma
fonte de viés. Os pacientes foram escolhidos a partir de um diagnóstico cirúrgico,
o que não permitiu o teste de especificidade. A confiabilidade do sinal não foi calculada.
A amostra reúne RM com diferentes intensidades de campo magnético, mas Van Dyck et
al.[30] mostraram, em um estudo prospectivo controlado, que a precisão diagnóstica de 3,0
T para rupturas do menisco e do LCA não é significativamente maior em comparação a
1,5 T. Assim, parece razoável acreditar que essa questão não compromete a identificação
de um novo sinal. Joelhos com deficiência de LCA (aguda ou crônica; 11/28; 39,3%)
e joelhos com LCA competente foram estudados, mas há controvérsias quanto ao seu efeito
na precisão da RM.[10]
[12] Embora todas as cirurgias tenham sido realizadas por cirurgiões de joelho experientes
que trabalham no mesmo departamento, os relatos cirúrgicos não eram padronizados,
e alguns não incluíam a classificação do subtipo de ruptura em alça de balde.
Conclusão
Em conclusão, o sinal do chifre de búfalo pode estar presente em rupturas de meniscos
mediais e laterais acompanhadas ou não por rupturas do LCA. O sinal é provocado por
um fragmento deslocado e, assim, está estatisticamente associado ao fragmento no interior
da incisura intercondilar e ao sinal do chifre duplo anterior. Reconhecer essa situação
é muito importante para determinar o tipo de tratamento e planejar a cirurgia. Além
disso, acreditamos que esse achado é fácil de identificar e é específico para rupturas
em alça de balde, por não ter sido encontrado em meniscos não acometidos.
Aqui, o sinal do chifre de búfalo aparece como um novo achado que pode ser relevante
para o diagnóstico de rupturas em alça de balde do menisco usando imagens de RM em
cortes axiais.
Bibliographical Record
Rafael R. Pereira, João Cabral, João Janeiro, José Padín, Joaquim Soares do Brito,
Rodrigo A. Goes. Sinal do chifre de búfalo – Um novo achado em RM para rupturas em
alça de balde do menisco. Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00451809514.
DOI: 10.1055/s-0045-1809514