Palavras-chave abdominoplastia - autoimagem - bem-estar psicológico - imagem corporal - qualidade
de vida
Introdução
A abdominoplastia refere-se a procedimento cirúrgico no qual realiza-se ressecção
de pele e tecido celular subcutâneo da região infraumbilical além de plicatura das
aponeuroses dos músculos retos abdominais através de incisão transversa baixa. A dermolipectomia
tem por objetivo a diminuição do excesso cutâneo-adiposo e da flacidez abdominal,
para proporcionar melhor contorno e relevo à região. Um resultado mais harmonioso
é alcançado quando se obtém adequado posicionamento da cicatriz transversa e de suas
laterais, da cicatriz umbilical e do púbis.[1 ]
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a dermolipectomia é o segundo
procedimento cirúrgico mais realizado no âmbito da cirurgia plástica, juntamente a
lipoaspiração. Grande parte dessa procura se deve ao aumento de sobrepeso e obesidade
na sociedade atual.[2 ]
A grande procura por procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não, envolvendo a região
abdominal reflete a procura por corpos com menor quantidade de tecido gorduroso, menor
flacidez e que possuam contornos mais suaves e harmoniosos. Essa busca por melhor
qualidade de vida abrange autoestima, bem-estar, capacidade funcional e relações sociais.[3 ]
Objetivo
A proposta do trabalho é avaliar a influência da realização da abdominoplastia no
bem-estar psicossocial das pacientes submetidas a abdominoplastia clássica nos Serviços
Integrados de Cirurgia Plástica do Hospital Ipiranga. Além disso, demonstrar se o
procedimento também é capaz de proporcionar melhorias nos relacionamentos e no convívio
social dessas pacientes, além dos benefícios funcionais.
Materiais e Métodos
Trata-se de estudo prospectivo, com avaliação das pacientes por meio da aplicação
da tradução para o português do questionário BODY-Q, desenvolvido pelos Drs. Andrea
Pusic, Anne Klassen e Stefan Cano, da McMaster University, no Canadá. O questionário
não foi aplicado de forma integral haja vista que o mesmo avalia diversas variáveis
relacionadas a abdominoplastia. Focando nos impactos do procedimento na autoestima,
nos relacionamentos interpessoais e convívios sociais.
Foram utilizados os seguintes elementos do BODY-Q: imagem corporal , composto por sete perguntas, com o intuito de avaliar a percepção do indivíduo sobre
o seu próprio corpo; função sexual , que avalia o conforto do paciente em suas relações íntimas em cinco questões; assim
como função psicológica e função social , compostos por dez questões cada, para a avaliação das modificações psicológicas
e sociais.
Para realização da pesquisa contou-se com pacientes do sexo feminino, com idade entre
21 e 57 anos, submetidas a abdominoplastia clássica, sem associação a lipoaspiração,
nos Serviços Integrados de Cirurgia Plástica do Hospital Ipiranga, em São Paulo. As
pacientes aprovadas para o procedimento necessitavam apresentar índice de massa corporal
(IMC) ≤ 26 kg/m2 , flacidez de parede abdominal que justificasse o procedimento, assim como estabilidade
clínica e psicológica. Foram considerados critérios de exclusão pacientes do sexo
masculino e técnicas cirúrgicas diferentes da abdominoplastia clássica, como por exemplo,
em âncora e mini.
O questionário foi aplicado nas dependências do Hospital Ipiranga em duas etapas.
De abril a junho de 2023, as pacientes em fase pré-operatória o responderam após assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido. O mesmo questionário foi aplicado às
mesmas pacientes após 6 meses do ato cirúrgico, de outubro a dezembro de 2023.
Resultados
A pesquisa abrangeu um total de 20 pacientes que foram submetidas ao BODY-Q durante
a realização dos exames e análises pré-operatórios e após 6 meses da realização de
abdominoplastia. Através dos dados obtidos pode-se observar as modificações obtidas
nos âmbitos social e psicológico das pacientes. Trata-se de um questionário composto
por afirmações onde a paciente assinala uma dentre as seguintes alternativas: “Discordo
totalmente”, “Discordo um pouco”, “Concordo um pouco” ou “Concordo totalmente”. Isso
é subdividido entre questões acerca da avaliação sobre seu próprio corpo (“imagem
corporal”), sobre suas relações sociais (“função social”), avaliação psicológica (“função
psicológica”) e sobre a função sexual.
O questionário inicia-se por questões acerca da avaliação pessoal sobre o próprio
corpo. Para tal, lança-se mão de afirmativas como: “Eu me sinto confiante em relação
ao meu corpo”, “Meu corpo não é perfeito, mas eu gosto dele”, “Estou feliz com o meu
corpo”, “Eu tenho orgulho do meu corpo”, “Eu acho que meu corpo é atraente”, “Eu me
sinto bem em relação ao meu corpo quando estou nua”, “Eu tenho o corpo que eu quero”
([Fig. 1 ]).
Fig. 1 Imagem corporal pré-operatória.
A segunda etapa do questionário era composta por questionamentos acerca da função
social, como “Eu me sinto à vontade em reuniões sociais com as pessoas que eu conheço”,
“As pessoas escutam o que tenho a dizer”, “Eu me sinto aceito pelas pessoas”, “Eu
me sinto incluído em reuniões/encontro sociais”, “Eu causo uma boa primeira impressão”,
“Eu tenho controle da minha vida ao invés de ser somente levado por ela”, “É fácil
para mim fazer amigos”, “Eu me sinto confiante quando estou em grupos”, “Eu fico relaxado
ao redor de pessoas que não conheço”, “Eu me sinto confiante quando entro numa sala
cheia de pessoas que não conheço”.
Em seguida foi avaliada a função psicológica com as seguintes afirmativas: “Eu acredito
em mim”, “Eu tenho orgulho de mim”, “Eu me sinto feliz”, “Eu gosto de mim”, “Eu sou
emocionalmente forte”, “Eu me sinto no controle da minha vida”, “Eu me sinto confiante”,
“Eu me aceito como sou”, “Eu estou confortável comigo mesmo”, “Eu me sinto ótimo comigo
mesmo” ([Fig. 2 ]).
Fig. 2 Função psicológica pré-operatória.
Para finalizar, as pacientes respondiam a respeito de seu bem-estar quando em relações
íntimas. O questionário sobre a função sexual é composto por cinco afirmativas: “Sexo
é gratificante para mim”, “Eu fico a vontade em me despir (tirar minha roupa) na frente
do meu parceiro(a)”, “Eu estou satisfeito(a) com minha vida sexual”, “Eu fico à vontade
em ter a luz acessa durante o sexo”, “Eu me sinto sexualmente atraente quando eu estou
sem roupa”.
O BODY–Q foi aplicado após 6 meses da realização de abdominoplastia, demonstrando
uma melhoria na autoavaliação corporal, um ganho notável em relação a confiança e
realização pessoal, além de ganho expressivo em relação a satisfação e conforto em
relações sexuais. Notou-se menor ganho relacionado às questões sobre relacionamentos
sociais, possivelmente porque menos pacientes demonstraram sentimentos negativos e
dificuldade de estabelecer relações sociais no momento prévio as cirurgias.
No primeiro quesito avaliado, a respeito da imagem corporal, antes da cirurgia 100%
das participantes responderam que não estavam felizes com o próprio corpo, não se
sentiam atraentes e não tinham o corpo que desejavam. Após o procedimento, aos 6 meses,
12 pacientes responderam que se sentiam parcialmente ou completamente felizes com
o próprio corpo, 15 pacientes se sentiam atraentes e 10 estavam com o corpo que desejavam
([Fig. 3 ]).
Fig. 3 Imagem corporal pós-operatória.
De acordo com a avaliação de relações sociais, o impacto pós cirúrgico não foi importante
devido ao fato de que a grande maioria das pacientes já se sentiam aceitas nos grupos
de pessoas, tinham facilidade para fazer amizades e se sentiam confortáveis em reuniões
e encontros sociais.
A respeito do impacto psicológico notou-se que todas as participantes da pesquisa
acreditavam e orgulhavam-se de si mesmas no período pós-operatório. Em contrapartida,
na avaliação pré-operatória 17 acreditavam em si mesmas e 18 sentiam orgulho. Demonstrou-se
também que 19 pacientes responderam que se gostavam após a cirurgia, sendo que esse
número era de apenas 13 no período anterior ([Fig. 4 ]).
Fig. 4 Função psicológica pós-operatória.
No que tange a avaliação do relacionamento sexual, notou-se uma mudança vertiginosa
nas respostas obtidas. Antes da cirurgia, todas as pacientes responderam que não se
sentiam confortáveis em se despir na frente dos parceiros(as) e em acender as luzes
durante o ato sexual, e não estavam satisfeitas com a vida sexual. As respostas obtidas
na avaliação posterior demonstraram que cerca de um terço das pacientes se sentiam
confortáveis em despir-se na frente do parceiro(a) ou ter a luz acessa durante o ato
sexual, e 6 pacientes responderam que estavam totalmente satisfeitas com a vida sexual.
Discussão
Segundo pesquisas, a maior motivação para realização de abdominoplastia é estética,
tendo como principais queixas a flacidez de pele, diástase abdominal e adiposidade
local.[4 ] Cirurgias visando a melhora estética são capazes de promover melhora na qualidade
de vida dos pacientes nos aspectos físico e mental, principalmente em relação à autoestima,
independente de sexo, raça ou idade.[5 ]
Em relação a qualidade de vida, espera-se uma diminuição no primeiro mês pós-operatório
devido às limitações impostas no período de recuperação. Entretanto, após os 30 primeiros
dias há melhorias no estado geral de saúde, vitalidade e saúde mental. O impacto psíquico
geralmente é evidenciado no terceiro mês após o procedimento.[6 ] Observamos ganhos nas diversas áreas aqui citadas, possivelmente porque a segunda
avaliação foi realizada 6 meses após a abdominoplastia, não havendo influência da
queda de qualidade de vida prevista no primeiro mês.
Segundo Pitanguy, a abdominoplastia indicada e executada corretamente promove uma
melhora do estado geral das pacientes.[7 ] Essa constatação corrobora com o presente estudo onde se demonstrou aumento da autoconfiança,
bem-estar e, consequentemente, melhores relações interpessoais no período pós-operatório
tardio. É notável que quando as pacientes se sentem bem com seu próprio corpo, elas
apresentam ganhos expressivos em seus relacionamentos sociais, principalmente em relacionamentos
íntimos.
Conclusão
Quando bem indicados os procedimentos cirúrgicos são capazes de proporcionar melhora
nas relações sociais e sexuais, assim como no bem-estar do paciente. A melhora na
autoestima associada a relações interpessoais mais prazerosas corrobora para uma maior
qualidade de vida.
Bibliographical Record Flávia Mesquita Soares, Luiz Eduardo Felipe Abla, José Octávio Gonçalves de Freitas.
Repercussão da abdominoplastia nos relacionamentos interpessoais e na vida social
de pacientes dos Serviços Integrados de Cirurgia Plástica de São Paulo. Revista Brasileira
de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2025; 40: s00451810585.
DOI: 10.1055/s-0045-1810585