Palavras-chave
aplicativos móveis - cirurgia plástica - gerenciamento do tempo - medicina - registros
eletrônicos de saúde
Introdução
O uso de imagens digitais é de grande valia em diferentes campos da medicina com destaque
na cirurgia plástica. Nesse contexto, o smartphone se tornou uma ferramenta importante para o registro adequado de dados dos pacientes.
As fotos de pacientes, por exemplo, fornecem informações essenciais para o registro
médico. Um aplicativo dedicado à organização e comodidade na coleta de dados possibilita
que as informações coletadas sejam disponibilizadas de forma rápida.[1]
[2]
O gerenciamento das informações de registro, entretanto, frequentemente é manual e
consome tempo na rotina do cirurgião plástico, tornando-se um processo demorado e
autolimitado. Ao mesmo tempo, profissionais médicos têm dificuldade para encontrar
rapidamente informações que facilitariam o atendimento de seus pacientes. Informações
cirúrgicas, data de procedimentos e dados de pacientes, geralmente, não estão alocadas
em lugar único e de fácil acesso.[2]
[3]
[4]
Dessa forma, uma solução prática para o problema é o registro fotográfico e armazenamento
de informações dos pacientes utilizando um aplicativo de celular. Assim, com o intuito
acima descrito, esse trabalho idealizou uma ferramenta digital por meio de aplicativo
para smartphone que possibilitou aos cirurgiões plásticos organizar e registrar de forma rápida e
intuitiva facilmente os dados de seus pacientes.
Objetivo
Desenvolver um aplicativo para smartphone para registro de dados e fotos de pacientes da cirurgia plástica.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo primário, descritivo, transversal, desenvolvido em centro único,
aprovado sob o parecer número 5.609.220 do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp).
Para a criação do aplicativo, foi utilizada a metodologia de design thinking (DT), que é uma abordagem à resolução de problemas que se baseia em três pilares
principais: empatia, colaboração e experimentação.[5]
[6]
Empregou-se o diagrama double diamond ([Fig. 1]), utilizado como uma maneira de descrever o processo de design, nas suas quatro
fases distintas: descobrir, definir, desenvolver e entregar.[7]
Fig. 1 Diagrama double diamond.
Iniciou-se por uma revisão de literatura nas plataformas PubMed, LILACS e Embase,
seguindo com uma busca de anterioridade nas plataformas digitais Google Play. Os trabalhos
selecionados seguiram os seguintes critérios:
-
Inclusão: Trabalhos publicados nos idiomas inglês, português e espanhol. Trabalhos
que tratavam sobre o uso de sistemas ou aplicativos para gestão do tempo, a jornada
de trabalho do médico ou cirurgião plástico, o registro de dados de pacientes e os
problemas relacionados com a rotina de trabalho em Medicina.
-
Não inclusão: Trabalhos que tratavam do uso de aplicativos ou sistemas para cuidados
da saúde, sobre telemedicina e do monitoramento e tratamento de doenças em medicina.
-
Exclusão: Trabalhos que citavam o uso de sistemas de saúde para uso de profissionais
de outra área. Artigos sobre aplicativos de edição de fotos para cirurgia plástica.
Utilizaram-se questionários de pesquisa e brainstormings com dez cirurgiões plásticos
participantes membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), entre associados
e titulares, com um período de atuação profissional maior que 5 anos. Chegou-se a
esse número através de brainstormings com os orientadores desse trabalho, seguindo os conceitos do DT.[5]
[6] As perguntas dos questionários, idealizados na plataforma Google Forms, tinham por
objetivo identificar as principais dores que o profissional enfrenta no registro e
armazenamento dos dados de seus pacientes (exemplos: “Você tem dificuldades para levantar
informações de pacientes após algum tempo?”, “Você gasta muito tempo para organizar
as fotos dos pacientes?” etc.). As respostas tinham um formato dicotômico “sim” ou
“não”. Todos os participantes concordaram com um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), enviado pela plataforma.
Em seguida, foram definidas as principais ideias para se resolver as principais dores
dos participantes por meio de um aplicativo móvel. De acordo com os conceitos da literatura,
criou-se uma versão alfa do aplicativo (protótipo) para os participantes.[5]
[6]
Conforme previsto nos incisos VII e VIII do Artigo 6° da Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD), Lei no 13.709/2018, que tratam do princípio da segurança e prevenção, o aplicativo utilizou
os mais modernos recursos de segurança no armazenamento e gestão dos dados dos usuários
e pacientes. Os dados foram armazenados em nuvem nos servidores do Google passando
por um processo de criptografia utilizando o Secure Sockets Layer (SSL) permitindo
a decodificação dos dados, de forma legível, apenas para o usuário do aplicativo.
Para avaliar a usabilidade do aplicativo com base na literatura, os participantes
também responderam um formulário baseado na System Usability Scale (SUS).[8] Além disso, enviou-se aos participantes um novo questionário de perguntas para avaliar
se o protótipo alcançou o objetivo do trabalho, cujas respostas mantiveram a formatação
dicotômica “sim” ou “não” (exemplos: “Durante o uso do aplicativo, você conseguiu
registrar informações importantes dos seus pacientes de maneira rápida e fácil?”,
“Você recomendaria o aplicativo para outros cirurgiões plásticos utilizarem?” etc.).
Discussão
O gerenciamento das informações em prontuário médico ou em sistemas de registro normalmente
é manual, autolimitado e consome tempo de cirurgiões. Além disso, há uma dificuldade
de acesso rápido a informações específicas, podendo ser armazenadas em lugares diferentes
e estar desorganizadas, possibilitando esquecimento de dados importantes dos pacientes.
Pelas suas funções, nesse contexto, o smartphone destaca-se por ser portátil, multitarefas e ter bom desempenho. Assim, esse trabalho
foi específico em idealizar um aplicativo móvel para smartphones que ajudasse cirurgiões plásticos a resolver todos os problemas citados acima. Ele
precisava ser intuitivo, fácil de usar e que registrasse, rapidamente, os dados dos
pacientes com organização e segurança.
O uso do DT foi primordial em todos os processos da construção do aplicativo, trazendo
direcionamento para as suas etapas. A literatura médica através das bases de dados
pesquisadas forneceu todo o conhecimento técnico e científico para a idealização e
a busca de anterioridade na plataforma Google Play deixou claro que não existiam aplicativos
cujas soluções fossem idênticas ao objetivo desse trabalho.
A opção de fazer o aplicativo no formato de um aplicativo também foi considerada.
Apesar de ser de baixo custo, deixaria mais demorado o acesso ao aplicativo em virtude
de depender de navegadores de internet o que fugiu do objetivo inicial. Portanto,
posteriormente, essa ideia foi descartada.
Ao final da entrega, utilizou-se o formulário SUS para avaliar a eficiência do aplicativo
em sua usabilidade e em resolver os problemas propostos. Liang et al. citam que programas
de sites ou aplicativos que atingem no SUS pontuação inferior a 50 necessitam ser
revistos com urgência pelos seus idealizadores por problemas sérios de usabilidade.
Salientam que a média normalmente encontrada é de 68 e programas com uma pontuação
de 80,3 conquistam nota “A”, estando entre os 10% com maiores notas e sendo recomendados
com mais frequência. A pontuação atingida pelo protótipo foi de 83,5, deixando claro
sua excelente usabilidade e que pode ser recomendado a outros profissionais. Confirma-se
tal observação também pelas respostas dos participantes ao questionário de perguntas,
onde 90% responderam que recomendariam o aplicativo a outros profissionais.[8]
Os questionários, adicionalmente, evidenciaram a grande necessidade do cirurgião em
organizar melhor e mais rápido os dados dos pacientes mostrando que o aplicativo conseguiu
o objetivo de facilitar a jornada de trabalho do profissional. A literatura corrobora
essa observação, com Pereira et al. e Medeiros et al. afirmando que aplicativos e
sistemas digitais são fundamentais para facilitar o acesso e a organizar dados dos
pacientes, além de otimizar a jornada de trabalho diária.[1]
[9]
Os participantes também sugeriram a inclusão de uma funcionalidade para edição das
fotos de “antes e depois”, como uma possível melhoria para o aplicativo. No entanto,
essa opção foi descartada devido à necessidade de conformidade com as normas estabelecidas
pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), conforme a nova Resolução n° 2.336/2023 sobre
Publicidade Médica, que permite o registro e armazenamento das fotos, mas proíbe qualquer
tipo de melhoramento, edição ou manipulação.[10]
Embora os resultados deste estudo indiquem o contrário, é importante considerar que
o uso do aplicativo pode ser demorado e consumir tempo na rotina diária dos cirurgiões
plásticos em uma escala maior, impactando negativamente sua rotina. Martinez-Silveira
destaca que os recursos tecnológicos para gerenciamento de informações ainda podem
ser difíceis de manejar devido à falta de tempo e conhecimento técnico. Portanto,
futuras avaliações do aplicativo em maior escala são necessárias para estudar essas
questões.[4]
Por fim, espera-se que o aplicativo possa atingir muitos profissionais médicos e de
outras áreas. São amplas as possibilidades para seu uso em todas as especialidades
da medicina e por toda área da saúde, aumentando agilidade e segurança para o armazenamento
e acesso de dados dos pacientes.
Conclusão
O aplicativo de smartphone criado para o registro de dados e fotos de pacientes da cirurgia plástica mostrou-se
eficiente.
Bibliographical Record
Flávio Burg Demay, José da Conceição Carvalho Junior, Elvio Bueno Garcia. Aplicativo
para o gerenciamento de dados de pacientes em cirurgia plástica. Revista Brasileira
de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2025; 40: s00451811186.
DOI: 10.1055/s-0045-1811186