Descritores: Procedimentos de cirurgia plástica - Dor - Edema - Fibrose - Fita atlética
INTRODUÇÃO
A fisioterapia dermatofuncional é uma especialidade da fisioterapia reconhecida pela
Resolução Nº. 362/2009, que estuda e atua sobre o sistema tegumentar e estruturas
relacionadas à funcionalidade humana em toda expressão
clínico-cinesiológico-funcional dos indivíduos com alterações nas funções da
pele.
A atuação da fisioterapia dermatofuncional no pré e pós-operatório de cirurgias
plásticas tem como objetivo promover e restabelecer a saúde e a qualidade de vida
do
indivíduo. Por meio da utilização de recursos que potencializam os mecanismos
fisiológicos de reparo tecidual e da microcirculação sanguínea e linfática,
alcança-se o alívio da dor e do desconforto, auxiliando então na melhora da
funcionalidade do paciente e também prevenindo possíveis complicações do ato
cirúrgico e do período de imobilização ao qual o mesmo é exposto[1 ].
A dor é uma das queixas mais usuais neste momento, e a mesma acontecerá
proporcionalmente em resposta ao processo inflamatório das intervenções realizadas
no ato cirúrgico. Sendo assim, optar por intervenções que possam controlar essa
resposta inicial garantirá maior conforto do paciente, podendo contribuir em sua
manutenção de funcionalidade e tempo de recuperação[2 ], [3 ].
Outra consequência de procedimentos cirúrgicos é a equimose, que é gerada devido ao
trauma mecânico da intervenção cirúrgica e causa ruptura de microvasos no
subcutâneo. Isso leva ao extravasamento intravascular para os tecidos moles
adjacentes, como a pele, ocasionando manchas avermelhadas e roxas. A intervenção
precoce nesses casos evita a formação de manchas e possível fibrose local. Em casos
mais graves de ruptura de estruturas vasculares maiores, os hematomas acontecem,
sendo esses controlados com intervenção dos cirurgiões responsáveis.
Ademais, o edema também acontece devido ao trauma causado no tecido, formando um
processo inflamatório que sucede o inchaço[4 ].
Esse acúmulo de edema interfere diretamente na qualidade de amplitude de movimento
do indivíduo, assim como em seu quadro álgico, sendo de suma importância também
adotar estratégias para a melhora deste sintoma[5 ].
A entrada da Fisioterapia Dermatofuncional no ambiente cirúrgico tem ganhado destaque
nos tempos atuais. Suas intervenções no pré e pós-operatório têm sido consideradas
importantes neste cenário para a otimização dos sintomas acima citados.
Dentre as alternativas que podem ser utilizadas, com objetivo de acelerar a
reabilitação do paciente, uma que vem recebendo bastante destaque é a aplicação do
taping logo após a finalização da intervenção cirúrgica[6 ]. Os possíveis efeitos fisiológicos do
taping são decorrentes da natureza elástica e da forma como ela
é aplicada. Pode ser indicada para o controle da dor causada pelo impacto sensorial
nos mecanorreceptores pela pressão, tensão, elevação, de compressão e tração da
pele[7 ] ou pela estimulação de fibras de
grande diâmetro, segundo a teoria[8 ] de Melzac e
Wall do “fechamento das comportas” na coluna posterior da medula espinhal,
resultando na liberação de opioides endógenos a nível encefálico e medular[9 ].
Além disso, devido à diferença de gradiente de pressão gerado pelas aplicações em
forma de caudas e o estímulo ao nível da derme e da epiderme por meio de
circunvoluções que geram cavidades, portanto, atuam melhorando significativamente
a
circulação de fluidos, sangue e linfa estagnados em processos inflamatórios
locais[7 ].
Os estudos que utilizam taping para o controle dos sintomas acima
citados, provenientes do procedimento de cirurgias plásticas, são no momento
escassos. Isso gera certa preocupação, visto que a utilização deste recurso está em
alta, mesmo sem respaldo científico. O raciocínio clínico para sua utilização vem
sendo, portanto, baseado nos estudos realizados na utilização de afecções
ortopédicas.
Uma revisão sistemática sobre o efeito clínico do taping incluiu
oito ensaios clínicos randomizados e controlados, sendo seis com pacientes com
afecções musculoesqueléticas, um paciente com linfedema pós-câncer de mama e outro
sobre pacientes pós-AVC. Seis destes estudos incluíram um grupo placebo de
taping[10 ].
Concluiu-se que frente à alta utilização deste recurso clinicamente no cenário
atual, suas evidências são moderadamente limitadas, entretanto, analisando os
resultados das aplicações o taping é mais efetivo clinicamente do
que o placebo. Assim, a conjunção do uso do taping com a abordagem
fisioterapêutica convencional é eficaz para o controle da dor[10 ].
Uma segunda revisão sistemática avaliou o efeito do taping sobre a
dor lombar crônica e incluiu cinco estudos, envolvendo 306 sujeitos, concluindo que
o taping não deve ser utilizado como substituto da fisioterapia
convencional ou do exercício físico, sendo que o taping se mostra
mais efetivo quando utilizado como coadjuvante da terapia, promovendo melhora da
amplitude de movimento e da dor[11 ].
Outra revisão sistemática mais recente sobre o efeito do taping na
dor decorrente da síndrome patelofemoral avaliou cinco ensaios clínicos randomizados
e controlados com 235 pacientes e concluiu que o taping para dor
nesta síndrome deve ser utilizado apenas como recurso terapêutico complementar à
tradicional terapia por exercícios e não suporte para o uso do
taping de forma isolada[12 ]. E, finalmente, uma revisão sistemática recente avaliou o efeito do
taping na dor lombar em gestantes e analisou sete estudos com
444 pacientes, concluindo que o taping tem um efeito positivo na
melhora da dor lombar na gestação com reflexos positivos na qualidade de vida dessas
mulheres[13 ].
OBJETIVO
Neste contexto, observa-se que o uso do taping tem sido cada vez
mais utilizado na prática clínica, entretanto, sem evidência científica na área
dermatofuncional que comprove sua eficácia no processo de reabilitação
pós-cirúrgica. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi revisar
sistematicamente estudos publicados sobre taping no pós-operatório
de cirurgias plásticas.
MÉTODO
Critérios de inclusão dos estudos nesta revisão
Tipos de estudos
Esta revisão sistemática teve seu protocolo registrado no PROSPERO (Registro
prospectivo internacional de revisões sistemáticas) sob o número
CRD42022339803. Foram incluídos ensaios clínicos e estudos de caso publicado
de 2013 até março de 2023, no pós-operatório de cirurgias plásticas, que
investigaram os efeitos do taping sobre a dor como desfecho
primário e como desfecho secundário edema, equimose, fibrose e efeitos
adversos. Estudos observacionais, revisões sistemáticas e outros tipos de
tratamento com exercícios físicos foram excluídos.
Tipos de intervenções
Foram analisados ensaios clínicos que compararam o taping no
período pós- cirúrgico imediato comparado com o grupo controle que realizou
acompanhamento médico convencional ou fisioterapia convencional e que
avaliaram a dor não específica. Estudos incluindo dores crônicas não foram
incluídos.
Tipos de resultados
Foram considerados resultados primários: Redução do quadro álgico, avaliados
por meio de instrumento específico para avaliação do nível de dor ou outros
instrumentos de avaliação geral, desde que com capacidade de avaliação
adequada do nível de dor não especifica. E resultados secundários: edema,
equimose, fibrose, efeitos adversos e segurança do uso da técnica.
Métodos de busca para identificação de estudos/ Busca eletrônicas
Os estudos selecionados nesta revisão foram encontrados por meio de busca
eletrônica nas seguintes bases de dados: Literature Database and Retrieval
System Online (MEDLINE), Excerpta Medical Database (EMBASE), Latin American and
Caribbean Health Sciences (LILACS), Cummulative Index to Nursing and Allied
Health Literature (CINHAL), Physiotherapy Evidence Database (PEDro), SPORTDiscus
e Cochrane Library para artigos relevantes publicados de 2013 até março de
2023.
As buscas foram realizadas individualmente para cada base de dados. A estratégia
de busca adotada para MEDLINE via PubMed foi: “plastic surgery procedures” OR
“surgery, plastic” AND “Tape, Atletic” OR “Orthotic Tape” OR “Tape, Orthotic” OR
“Kinesio Tape” OR Kinesio Tapes” OR “Tape, Kinesio” OR “Tapes, Kinesio” OR “
Kinesiotape” OR “Bandages”. Filtros para tipo de estudos, tempo de publicação ou
idioma não foram aplicados. Essa estratégia foi adaptada às demais bases de
dados.
Coleta e análise de dados
Seleção de estudos, extração e gerenciamento de dados
A seleção dos estudos foi realizada por dois avaliadores independentes,
utilizando o software Endnote X8, analisando inicialmente o
título e o resumo das referências encontradas por meio da estratégia de
busca nas bases de dados. Os estudos considerados potencialmente elegíveis
foram avaliados, as divergências foram discutidas entre os revisores em
busca de consenso antes da inclusão final dos estudos.
A extração de dados foi realizada por meio de um formulário elaborado e
testado previamente pelos autores. Estudos referenciados em mais de uma
publicação, quando elegíveis, tiveram seus dados computados apenas uma vez.
As seguintes características do estudo foram extraídas: métodos,
participantes, intervenções, resultados e declarações de interesse. O
processo de seleção foi documentado com um fluxograma de Itens de Relatório
Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-Análise (PRISMA).
Desfechos e efeitos do tratamento
Para desfechos primários e secundários nos quais havia dados suficientes,
conduzimos uma meta-análise usando modelos de efeitos fixos ou randomizados
de acordo com a especificidade dos dados disponíveis.
A qualidade geral do corpo de evidências para o desfecho primário desta
revisão (dor musculoesquelética) foi avaliada usando os critérios GRADE
(limitações do estudo, consistência do efeito, imprecisão, indireto e viés
de publicação).
RESULTADOS
Por meio de busca eletrônica, foram encontrados 605 registros nas bases de dados
escolhidas, dos quais 15 foram excluídos por duplicidade. Os 590 restantes foram
selecionados por meio de título e leitura do resumo e 549 artigos foram excluídos
por não atenderem aos critérios de inclusão.
Um total de 47 registros foi selecionado para análise por meio da leitura integral,
41 foram excluídos por não atenderem aos critérios e 6 foram considerados elegíveis
para esta revisão e incluídos na análise qualitativa e quantitativa conforme o
fluxograma PRISMA ([Figura 1 ]). Após leitura
integral dos artigos, os mesmos foram organizados com as exposições das seguintes
informações ([Tabela 1 ]): tipo de estudo,
característica da intervenção, objetivo, variáveis analisadas, instrumento de
avaliação e resultados alcançados.
Figura 1. Fluxograma PRISMA.
Tabela 1.
Publicação
Tipo de Estudo
Característica da Intervenção
Objetivo
Variáveis Analisadas
Instrumento de Avaliação
Resultados
(Paula, 2017).
Estudo de caso.
N:
1, sexo F, 25 anos. Uso de técnicas manuais de liberação associadas
à aplicação de taping sobre as fibroses e
aderências reaplicadas a cada 7 dias, durante 5 sessões
Descrever os efeitos do taping no tratamento de fibroses e
aderências cicatricials no pós-operatório de lipoaspiração
Fibrose.
Palpação e fotodocumentação
Observou-se a presença de fibrose somente através da palpação. A
paciente também relatou melhora da mobilidade tecidual e do aspecto
visual ao final do tratamento
(Chi et al., 2016)
Ensaio clínico não randomizado.
Grupos: Fase remodelagem; Fase proliferação.
N: 10, sexo F, Idade: 44 a 51 anos
Método: 10 sessões, 2x/sem. Com intervalos de 2 ou 3 dias. Fase
remodelagem - DLM e taping, associado à terapia combinada (US +
corrente excitomotora) Fase proliferação - DLM e
taping
Identificar os efeitos de dois
protocolos distintos no tratamento da fibrose secundária ao
pós-operatório de abdominoplastia e lipoaspiração de abdome
Fibrose
Palpação; Termografia de contato
A análise comparativa da avaliação
inicial e final, tanto da palpação quanto da termografia, mostrou
que houve redução significativa (p < 0,0001) do
quadro fibrótico apresentado pelas pacientes.
(Chi
et al., 2021)
Ensaio clínico controlado e não randomizado Grupo: GE - Tto
Intra-op GC
N:
20 Idade: 20 a 60 anos Método: GE (10) - Taping
“Intraop. Tratamento intraop e reavaliado no 4º dia de pós-op. GC
(10) - sem intervenção
Avaliar a ocorrência de equimoses em pacientes submetidos à AP
associada à LA tradicional de ABD
Dor
e equimose
Documentação fotográfica EVA
O GE
apresentou uma melhor resposta na resolução da equimose
(p =0,01) comparado ao grupo controle
(Chi et al., 2018)
Estudo clínico controlado.
(n=20)
N: 20, sexo F. Idade: 18 e 56 anos.
Total de 15 sessões. GE: atendimento pré, trans e pós-op.
GC: atendimento no 4º dia. Os recursos usados foram DLM,
microcorrentes, LED vermelho e taping na área
operada
Propor uma abordagem inédita desde o
pré, trans e pós-operatório para prevenir e minimizar as fibroses,
edema e equimoses
Equimose, edema e fibrose
Palpação, termografia de contato;
fotodocumentação, perimetria
A ocorrência de fibrose no GE foi
estatisticamente (p = 0,003) menor que no GC; grau
de fibrose menor no GE (p =0,0002); e a Termografia
inicial foi predominante normal no GE (p = 0,0002);
não ocorrência de edema intenso no GE (0,035); não ocorrência de
equimose foi maior no GE (p =0,0056)
(Pelissaro, 2022)
Tese
experimental
N:
28 Idade: 18 à 19 anos. Após bichectomia. Grupo I: Lado Controle:
sem intervenção. Lado Tratado: 2 tiras de taping na
região jugal externa da face por 2 dias, intraoperatório. Grupo II:
Hemiface- laser de baixa potência 6J/cm[2 ], intraoperatório e 2. dia. Lado Controle: sem
intervenção.
Avaliar o efeito da taping e do laser de baixa
potência no pós-op de bichectomia
Antropometria facial e Edema
Fita
métrica milimetrada, para edema, foram realizadas três vezes, sendo
a primeira imediatamente antes do procedimento cirúrgico e as demais
após 2 e 7 dias. Ultrassom para no pré, pós imediato e após 6
meses
Os
resultados mostraram redução significativa do edema após
taping durante 2 dias no pós-cirúrgico
(p <0,001), algo que não foi observado com a
laserterapia (p =0,127)
(Moraes, 2012).
Estudo de caso
N:l, sexo feminino, 60 anos. 10
sessões, 2x na semana. Aplicação de DLM e taping,
em cada sessão
Verificar os resultados perante à
aplicação da DLM e taping, na dor, edema, hematoma
e pigmentação do abdome e mamas na reabilitação após lipoaspiração
para reconstrução mamária
Dor, edema, hematoma e
pigmentação
Classificação da intensidade da dor:
EVN e tecidos moles: perimetria torácica e abdominal e gravação
fotográfica
A intensidade da dor foi classificada
como 4 na Iª avaliação, tendo ↓, para 2 na 2ª avaliação e para 0 na
EVN a partir da 3a sessão. A perimetria ↓, em todos os
locais de medição desde a Iª avaliação até à 6ª sessão. As
cicatrizes apresentaram alterações, uma vez que em ambas as mamas
aumentaram a sua mobilidade tecidual e diminuíram as aderências
Estudos incluídos e participantes
Seis (n=6) estudos foram incluídos na revisão literária, sendo todos os estudos
conduzidos no Brasil. Dois estudos são do tipo estudo de casos, e quatro são
ensaios clínicos controlados.
Na análise dos seis estudos, 41 participantes foram incluídos nesta revisão,
todas mulheres adultas (18 a 60 anos) no período pós-operatório de cirurgias
plásticas. Um estudo incluiu mulheres no período pós-operatório de bichectomia,
quatro estudos incluíram mulheres pós-lipoaspiração, e dois estudos incluíram
mulheres pós-abdominoplastia. A idade média da população estudada foi de 39
anos, sendo que 18 anos foi a menor idade[14 ] e 60 a maior[15 ].
Intervenções
Os três ensaios clínicos incluídos compararam o taping com o
tratamento fisioterapêutico convencional e multimodal incluindo crioterapia,
drenagem linfática e microcorrentes. No estudo de Chi et al.[15 ] o grupo taping foi
comparado com um grupo controle sem intervenção, apenas com acompanhamento
médico. No estudo de Pelissaro[14 ] o grupo
controle recebeu apenas crioterapia.
Tipo de aplicação, frequência, duração e tempo de tratamento
No estudo de Pelissaro[14 ] o
taping foi aplicado na face, em formato de “Y” com tensão
mínima durante 2 dias. No estudo de Chi et al.[15 ] foram utilizados três tipos de corte “web” ou “basket” para
fibroses, corte “fan” ou “polvo” para edema e corte “hashtag” para equimoses,
mantendo-se de 3 a 5 dias com descanso da pele de 1 dia para a próxima
aplicação.
No estudo Chi et al.[16 ] o taping foi
aplicado em formato Fan ou “polvo” por um período de 3 dias. Por fim, no estudo
Morais[17 ] o taping
foi aplicado nas regiões do abdômen e das mamas em forma de “polvo”, duas vezes
na semana.
Desfechos e efeito do tratamento
Desfechos primários
Dois estudos relataram sintomas de dor musculoesquelética como desfecho e
foram incluídos. Os mesmos instrumentos de avaliação foram utilizados para
mensurar a intensidade da dor por meio da escala analógica visual (EAV). O
estudo de Morais[17 ] também avaliou a
dor. Um resumo das informações sobre os estudos incluídos nesta revisão é
apresentado na [Tabela 1 ].
Desfechos secundários
Três artigos (Pelissaro[14 ], Morais[17 ] e Chi et al.[4 ]) avaliaram o desfecho do edema por meio de perimetria.
Pelissaro[14 ] avaliou o edema da
face após a cirurgia de bichectomia. Morais[17 ] e Chi et al.[4 ] avaliaram
o edema pós-cirurgia de abdominoplastia e lipoaspiração. Um único estudo, de
Chi et al.[16 ], avaliou o desfecho da
fibrose por meio de palpação e inspeção visual aplicada a uma escala e
também termografia. Nenhum dos estudos avaliou a segurança e os efeitos
adversos da técnica de taping em pós cirurgias
plásticas.
Alocação
Dos ensaios clínicos incluídos no estudo, nenhum deles relata como foi realizada
a alocação e a ocultação das participantes, estando subentendido que tenha
ocorrido por conveniência, o que significa que houve um viés de alocação.
Cegando participantes e profissionais
Nenhum dos estudos incluídos descreveu os métodos de cegamento e todos foram
categorizados com alto risco de viés e, portanto, foi categorizado como risco
claro de parcialidade.
Resultados incompletos
Nenhum dos estudos incluídos relatou as perdas significativas relacionadas ao
tratamento, sendo categorizados como moderado risco de viés.
Relatórios de resultados seletivos
Os ensaios clínicos não tiveram seus protocolos devidamente registrados e
disponíveis no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos, bem como seus resultados
pré-especificados, e portanto, foram categorizados como de alto risco de
viés.
Efeito da intervenção
A aplicação de taping melhorou significativamente os sintomas de
dor musculoesquelética em comparação com a fisioterapia convencional.
DISCUSSÃO
O procedimento cirúrgico ocasionará um trauma inicial no tecido alvo, esse trauma
irá
gerar um processo inflamatório que, por sua vez, promoverá um tecido cicatricial
para a recuperação desta área, ou seja, um tecido não idêntico ao tecido inicial.
Isto irá acontecer nos bordos da cicatriz e também na região subcutânea, onde todo
o
tecido será descolado, conhecido como “espaço morto”[18 ].
De acordo com a resolução Nº. 394/2011 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional (COFFITO), o fisioterapeuta é o profissional com aptidão para conduzir
o
pós-operatório e promover a reabilitação completa do paciente, conduzindo o processo
de cicatrização, minimizando as intercorrências, complicações e favorecendo o
resultado final da cirurgia. Esse profissional é recomendado pela Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica a conduzir o pós-operatório, isso devido à formação
desse profissional, que vai muito além da realização de tratamento que visa apenas
resultados estéticos[1 ].
Logo após o término da cirurgia, inicia-se a fase inflamatória. O edema é bem
característico nesse período, e acontece devido ao desequilíbrio da reabsorção de
líquido intersticial devido à perda da integridade de fluxo sanguíneo e linfático
locais[19 ].
Essa fase de desequilíbrio desta função causa dor e desconforto, e possui elevada
incidência, sendo necessário ao paciente fazer o uso de medicações para o seu
alívio. Entretanto, todo medicamento tem efeitos colaterais, por isso, deve ser
utilizado de forma racional e conforme prescrita pelo médico. A fim de adicionar um
atendimento eficiente e resolutivo, a fisioterapia poderá ser uma boa aliada para
a
melhora da dor por meio da utilização de recursos terapêuticos. Dentre a gama de
recursos disponíveis, o taping tem sido muito utilizado atualmente
nesse cenário[1 ].
Seu uso tem como objetivo diminuir o quadro álgico e reduzir os edemas e equimoses
no
período pós-operatório de cirurgias plásticas, isso tudo conforme a tensão aplicada
e a forma de recorte da fita, que irão promover efeitos fisiológicos por meio do
princípio de resposta à tensegridade e mecanotransdução celular, que é a capacidade
de traduzir um estímulo mecânico em uma atividade celular. Isso acontece devido à
conversão de informações durante a interação da matriz extracelular com as células
mecanorreceptoras locais[20 ].
Acredita-se por meio de evidências clínicas e científicas que a utilização do
taping íntegro com tensões altas possui bons resultados para a
contenção de inflamação e edema inicial, por diminuir o espaço entre os tecidos
abaixo[1 ]. Já quanto à utilização com
tensões leves da fita, seu princípio se dá por conseguir promover uma descompressão
do tecido abaixo, promovendo maior fluidez da irrigação linfática e sanguínea.
Dentre essas aplicações, o recorte do tipo “web” ou “basket” possui bons resultados
para fibroses, o corte “fan” ou “polvo”, bons resultados para edema e o corte
“hashtag”, bons resultados para equimoses[15 ],
[16 ].
Os resultados alcançados têm sido um grande aliado aplicado na prática clínica atual,
e os resultados encontrados nesta revisão corroboraram com esta afirmativa. Porém,
ainda são escassos os estudos que avaliam a sua evidência científica no
pós-operatório de cirurgias plásticas em específico.
Esta é a primeira revisão sistemática a investigar a eficácia do
taping neste cenário e descobrimos que ainda existem poucos
estudos de alta qualidade metodológica e amostras representativas sobre a eficácia
do taping no tratamento da dor não específica, por essa razão, os
resultados devem ser analisados com cautela.
Em nossa revisão sistemática incluímos somente estudos publicados na forma de artigo
completo em periódicos indexados em bases de dados que passam por rigorosa revisão
por pares, o que realmente é realizado por um especialista na área. Estudos que não
foram submetidos à revisão por pares podem ter maior risco de viés ou resultados
negativos, não sendo recomendada a sua inclusão em revisões sistemáticas.
Os resultados obtidos nesta revisão são relacionados aos efeitos analisados após a
intervenção a curto prazo (imediatamente após a intervenção), pois ainda não existem
estudos suficientes para a metanálise nas comparações dos efeitos do
taping ao longo do tempo. Para isso, mais estudos que avaliem a
eficácia desse método para essa população devem ser realizados.
Além disso, não existem estudos que fundamentam uma padronização da duração do
tratamento, da frequência semanal, da intensidade e tipos de cortes do
taping apropriados para pacientes com dor não específica. Os
estudos analisados foram similares em relação ao grupo controle, em que as pacientes
estavam sob cuidados médicos e de enfermagem em um pré-cirúrgico convencional.
Outra questão a ser levantada é a falta de padronização da nomenclatura utilizada
para se referir à técnica. Dentre os artigos analisados, encontramos bandagem
neuromuscular, lifotaping, taping, kinesioterapia e Punch
Tape. Essa variedade de nomenclatura prejudica a busca de dados
referentes à efetividade da técnica.
CONCLUSÃO
O taping foi associado a um efeito benéfico sobre a dor em
comparação com nenhum tratamento. Entretanto, a baixa qualidade metodológica dos
estudos e a limitação amostral são fatores limitantes. Não há evidências que
suportem o uso do taping em substituição a outras modalidades
convencionais de fisioterapia, devendo este recurso ser utilizado de forma
complementar à fisioterapia dermatofuncional (exercício e terapia manual) no período
pós-operatório de cirurgias plásticas.
Bibliographical Record LORENA CORNACINI MARTINES, PAOLA THAÍS GOMES REICHEL, LAYNNA DE CARVALHO SCHWEICH-ADAMI,
ANA BEATRIZ GOMES DE SOUZA PEGORARE. Efeito do uso do taping no pós-operatório de cirurgias plásticas: Uma revisão sistemática. Revista Brasileira
de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: 217712352024rbcp0851pt.
DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0851-PT