CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2020; 55(02): 239-246
DOI: 10.1055/s-0039-3400516
Artigo Original
Quadril
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Published by Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Deformidade dos ossos pélvicos e sua correlação com o ângulo centro-borda acetabular[*]

Article in several languages: português | English
1   Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil
,
Milton Valdomiro Roos
1   Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil
,
Antero Camisa Júnior
1   Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil
,
Ezequiel Moreno Ungaretti Lima
1   Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil
,
Darby Lira Tisatto
1   Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil
,
Marcel Cruz Argoud
1   Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil
› Author Affiliations
Further Information

Endereço para correspondência

Bruno Dutra Roos, MD
Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo
Av. Sete de Setembro, 817, Centro, Passo Fundo, RS 99010-121
Brasil   

Publication History

30 November 2018

22 January 2019

Publication Date:
28 January 2020 (online)

 

Resumo

Objetivos O objetivo do presente trabalho é avaliar a deformidade dos ossos pélvicos e sua correlação com ângulo centro-borda acetabular (CE).

Métodos Foi realizado um estudo prospectivo caso-controle, entre agosto de 2014 e abril de 2015. Os critérios de inclusão foram pacientes consecutivos com idades entre 20 e 60 anos. Os critérios de exclusão foram: doença metabólica, cirurgia prévia de quadril ou coluna, radiografia evidenciando artrose de quadril ≥ Tönnis 2, displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ) severa, sobrecobertura acetabular global, sinal do cruzamento das linhas acetabulares, deformidades decorrentes de epifisiólise ou Legg-Perthes-Calveé, e radiografia sem qualidade adequada. Foram avaliados na radiografia anteroposterior (AP) de pelve: o ângulo CE, índice acetabular (IA), sinal do cruzamento das linhas acetabulares, mensuração do eixo horizontal e vertical da hemipelve superior e inferior (H1: Linha Horizontal 1, hemipelve superior; H2: Linha Horizontal 2, hemipelve superior; V1: Linha Vertical, hemipelve superior; HR: Linha Horizontal, hemipelve inferior; VR: Linha Vertical, hemipelve inferior). As mensurações H1, H2, V1, HR e VR foram consideradas assimétricas quando, na comparação de uma hemipelve em relação ao lado contralateral, evidenciou-se uma diferença > 5 mm. Os pacientes foram separados em dois grupos: controle e grupo 1.

Resultados O total de pacientes avaliados no período foi de 228 (456 quadris). De acordo com os critérios estabelecidos, foram incluídos neste estudo 93 pacientes. A idade média foi de 39,9 anos (20 a 60 anos, desvio padrão [DP] = 10,5), e o ângulo CE médio do quadril direito foi de 31,5° (20° a 40°) e do esquerdo de 32,3° (20° a 40°). Um total de 38 pacientes foi incluído no grupo controle, sendo que com relação à H1, foi constatada aferição assimétrica em 4 casos (10,5%), H2 em 5 (13,1%), V1 em 7 (18,4%), HR em 5 (13,1%), e VR em 1 caso (2,63%). No grupo 1, foram incluídos 55 pacientes, sendo que com relação à H1, foi constatada aferição assimétrica em 24 casos (43,6%), H2 em 50 (90,9%), V1 em 28 (50,9%), HR em 16 (29,09%), e VR em 8 casos (14,5%). Na comparação entre o grupo controle e o grupo 1, observou-se diferença estatisticamente significativa para a assimetria das mensurações H1, H2 e V1 (p < 0,001).

Conclusão No presente trabalho, evidenciou-se correlação entre variação do ângulo CE acetabular e assimetria da hemipelve superior. Os presentes autores acreditam que o melhor entendimento das alterações morfológicas pélvicas permite uma maior facilidade no diagnóstico das deformidades articulares do quadril.


#

Introdução

Existe evidência crescente na literatura da associação de alterações na morfologia óssea da região do quadril e o desenvolvimento de sintomas, além da possibilidade de evolução para degeneração condral articular. Estas alterações podem estar relacionadas ao fêmur, ao acetábulo ou a ambos.[1] No lado acetabular, como alterações morfológicas frequentes pode-se encontrar a sobrecobertura (impacto femoroacetabular [IFA} tipo Pincer) e a deficiência de cobertura (displasia do desenvolvimento do quadril [DDQ]).[2] [3]

A sobrecobertura acetabular pode ser global ou focal. Sobrecobertura global é definida na radiografia anteroposterior (AP) de pelve por ângulo centro-borda (CE)[4] > 40° associado a excesso de cobertura da cabeça femoral pela parede anterior e posterior do acetábulo.[5] Sobrecobertura focal é definida pela presença de retroversão acetabular, que é uma alteração morfológica na qual há desvio estrutural do acetábulo no plano sagital em direção posterolateral. Radiograficamente, a retroversão acetabular é representada pela presença do sinal do cruzamento das linhas acetabulares.[3] [6] [7] Ambas as alterações têm sido associadas ao impacto dinâmico entre o rebordo acetabular e a transição cabeça-colo femoral, podendo resultar em lesões acetabulares da cartilagem posteroinferior e do lábio, além de dor.[8]

Na deficiência de cobertura acetabular, uma área de contato reduzida entre a cabeça femoral e o acetábulo gera força de cisalhamento excessiva na junção condrolabral acetabular, podendo levar ao surgimento de sintomas e degeneração condral em longo prazo. Esta deficiência mais comumente é anterossuperior no acetábulo, e o diagnóstico de DDQ é realizado quando o ângulo CE[4] for < 25° em radiografia AP de pelve.[4] [9]

Alguns autores têm proposto que os distúrbios do desenvolvimento do quadril não afetam somente o fêmur proximal e o acetábulo, como é evidenciado em patologias como IFA e DDQ, mas sim em toda a pelve.[1] [10] Porém, não há consenso sobre quais deformidades ósseas pélvicas correlacionam-se com as alterações morfológicas acetabulares. Os presentes autores acreditam que as alterações estruturais ósseas da pelve e anormalidades acetabulares não são achados isolados, e fazem parte de um continuum de alterações estruturais do desenvolvimento da pelve.

O objetivo do presente trabalho é avaliar a deformidade dos ossos pélvicos e sua correlação com o ângulo CE.


#

Materiais e Métodos

Foi realizado um estudo prospectivo caso-controle entre agosto de 2014 e abril de 2015. O trabalho obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento.

Os participantes foram convidados ao estudo voluntariamente. Os critérios de inclusão foram pacientes consecutivos com idade entre 20 e 60 anos. Os critérios de exclusão foram: doença metabólica, cirurgia prévia de quadril ou coluna, radiografia evidenciando artrose de quadril ≥ Tönnis 2, DDQ severa (ângulo CE < 20°),[4] [9] sobrecobertura acetabular global (ângulo CE > 40° e/ou índice acetabular < 0°),[5] sinal do cruzamento das linhas acetabulares (sugerindo retroversão acetabular), assimetria de ângulo CE < 5°, deformidades decorrentes de epifisiólise ou Legg-Perthes-Calveé, e radiografia sem qualidade adequada.[11]

Os pacientes selecionados realizaram radiografia de pelve na incidência AP com os pés em 15° de rotação interna, com o tubo a 120 cm de distância do filme e com o raio direcionado ao ponto central entre a borda superior da sínfise púbica e uma linha horizontal conectando ambas as espinhas ilíacas anterossuperiores. A distância entre o cóccix e a sínfise púbica, além do seu alinhamento, foram fatores considerados para avaliar a qualidade das radiografias.[11]

Foram avaliados no estudo radiográfico em ambas as hemipelves: o ângulo CE, índice acetabular (IA), sinal do cruzamento das linhas acetabulares, mensuração do eixo horizontal e vertical da hemipelve superior (asas do ilíaco - H1, H2 e V1), mensuração do eixo horizontal e vertical da hemipelve inferior (ramos ísquio e ílio púbicos - HR e VR). A definição do método para aferição dos eixos pélvicos está exemplificada na [Figura 1].

Zoom Image
Fig. 1 Exemplificação do método de aferição dos eixos pélvicos bilateralmente. Todas as linhas (H1, H2, V1, HR e VR) têm como referência a linha entre as gotas de lágrima. a) H1 e H2 correspondem à aferição do eixo horizontal da hemipelve superior. Inicialmente é definida uma linha ligando os pontos mais superiores dos tetos acetabulares (linha supra-acetabular). H1 localiza-se 2 cm acima desta; H2 localiza-se 7 cm acima desta. b) V1 corresponde à aferição do eixo vertical da hemipelve superior. É a medida do ponto mais superior do osso ilíaco até a linha supra-acetabular. c) HR corresponde à aferição do eixo horizontal da hemipelve inferior, tendo como referência um ponto médio da articulação da sínfise púbica. d) VR corresponde à aferição do eixo vertical da hemipelve inferior, tendo como referência um ponto médio da aferição HR.

As mensurações do eixo das hemipelves (H1, H2, V1, HR e VR) foram consideradas assimétricas quando, na comparação de uma hemipelve em relação ao lado contralateral, evidenciou-se uma diferença > 5 mm.

Os pacientes selecionados foram separados em dois grupos: controle e grupo 1.

No grupo controle foram incluídos pacientes cujos quadris apresentavam ângulo CE com diferença < 5°, sem sinal do cruzamento das linhas acetabulares. No grupo 1, foram incluídos pacientes com assimetria do ângulo CE ≥ 5°, na comparação de um quadril em relação ao lado contralateral, sem sinal do cruzamento das linhas acetabulares.

O objetivo do presente estudo é avaliar a correlação entre a variação do ângulo CE e a deformidade dos ossos pélvicos (assimetria de H1, H2, V1, HR e/ou VR), comparando-se ambos os grupos.

A hipótese é de que a presença de variação do ângulo CE correlaciona-se com assimetria da hemipelve superior (sugerindo alteração rotacional da hemipelve superior).

Para avaliar a homogeneidade entre os grupos, foi aplicado o teste de qui-quadrado para idade, gênero, ângulo CE e IA. O teste exato de Fisher foi empregado para análise das variáveis qualitativas intergrupos (H1, H2, V1, HR e VR). No presente estudo, as diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando p < 0,05. Foi utilizado o software PASW Statistics for Windows, Version 18.0 (SPSS Inc. Chicago, IL, EUA) na análise estatística. Um total de 50 radiografias foi selecionado randomicamente para aferição do coeficiente κ. Dois autores, Roos B. D. e Lima E. M. U., avaliaram as radiografias em tempos distintos com concordância interobservador de 0,72.


#

Resultados

O total de pacientes avaliados no período foi de 228 (456 quadris). De acordo com os critérios estabelecidos, foram incluídos no presente estudo 93 pacientes, sendo 49 do sexo masculino e 44 do sexo feminino. Os pacientes excluídos estão representados na [Tabela 1]. A idade média foi de 39,9 anos (variando de 20 a 60 anos, desvio padrão [DP] = 10,52), e o ângulo CE médio do quadril direito foi de 31,5° (variando de 20° a 40°, DP = 5,30) e do esquerdo foi de 32,3° (variando de 20° a 40°, DP = 5,11). O IA médio foi de 5,14 (variando de 0 a 10, DP = 2,97) no quadril direito e 5,17 (variando de 0 a 10, DP = 3,09) no quadril esquerdo.

Tabela 1

Critérios de exclusão

Excluídos

Cirurgia prévia de quadril ou coluna

6

Artrose ≥ Tönnis 2

12

DDQ severa

8

Sobrecobertura acetabular global

14

Sinal do cruzamento das linhas acetabulares

60

Assimetria de ÂCE 1 ou 2°

11

Assimetria de ÂCE + Retroversão acetabular unilateral

9

EPF ou Legg-Perthes-Calveé

3

Radiografia sem qualidade adequada

12

Total

135

Um total de 38 pacientes foi incluído no grupo controle, com média das mensurações dos eixos H1, H2, V1, HR e VR representadas na [Tabela 2]. Com relação à H1, foi constatada aferição assimétrica em 4 casos (10,5%), à H2 em 5 (13,1%), à V1 em 7 (18,4%), à HR em 5 (13,1%), e à VR em 1 caso (2,63%).

Tabela 2

Grupos

H1 D

H1 E

H2 D

H2 E

V1 D

V1 E

HR D

HR E

VR D

VR E

Controle

1

71

71

94

93

101

102

67

67

67

68

2

57

65

91

92

92

91

96

92

55

51

3

55

58

85

87

103

100

90

88

80

79

4

51

52

86

89

95

98

93

91

58

57

5

43

43

90

80

115

115

80

88

55

55

6

49

49

97

98

112

112

90

90

57

57

7

66

67

88

88

110

110

76

76

68

69

8

55

61

92

100

126

124

91

100

66

68

9

50

50

111

113

134

134

83

84

60

60

10

73

75

108

106

133

131

91

91

65

67

11

88

88

106

106

131

139

81

90

77

77

12

64

62

100

99

131

133

85

85

53

53

13

72

72

102

100

126

121

76

78

88

90

13

58

60

105

105

137

137

90

88

51

53

15

57

60

110

115

105

107

87

85

75

73

16

55

57

85

87

133

134

85

83

52

50

17

78

78

108

109

132

127

91

90

69

67

18

62

60

126

124

137

143

88

87

60

61

19

72

70

100

100

142

142

80

82

80

80

20

57

55

105

105

151

141

96

97

59

59

21

60

60

103

102

112

112

84

82

77

76

22

58

59

94

92

110

110

94

86

67

66

23

56

56

98

97

97

98

89

89

77

77

24

51

53

102

101

110

110

98

98

78

78

25

50

50

98

98

111

112

89

91

57

56

26

56

57

88

88

110

110

76

76

69

69

27

65

68

86

88

104

101

89

88

81

80

28

50

52

87

90

95

97

93

93

58

56

29

50

50

112

113

134

134

83

83

60

61

30

64

65

108

108

132

131

90

89

66

67

31

64

63

99

98

132

133

85

86

54

53

32

58

60

105

105

137

137

82

84

53

54

33

55

57

85

86

130

131

85

85

52

51

34

82

82

100

100

140

138

81

82

77

77

35

56

55

103

102

112

112

82

80

76

76

36

55

54

99

100

97

96

90

90

77

77

37

63

64

102

101

107

109

95

95

75

75

38

80

80

100

99

140

142

80

80

82

82

Média

60.68

61.53

99.05

119.89

119.84

86.34

86.55

66.61

66.45

98.89

Desvio Padrão

10.212

10.01

9.291

16.256

16.045

6.671

6.5

10.612

10.84

9.282

No grupo 1, foram incluídos 55 pacientes. A média das mensurações dos eixos H1, H2, V1, HR e VR estão representadas na [Tabela 3]. Com relação à H1, foi constatada aferição assimétrica em 24 casos (43,6%), à H2 em 50 (90,9%), à V1 em 28 (50,9%), à HR em 16 (29,09%), e à VR em 8 casos (14,5%) ([Figura 2]).

Tabela 3

Grupos

H1 D

H1 E

H2 D

H2 E

V1 D

V1 E

HR D

HR E

VR D

VR E

Inclinação Acetabular

1

45

45

90

80

100

99

105

105

68

66

2

84

81

90

92

170

170

76

76

72

70

3

60

50

110

100

100

100

80

80

72

74

4

50

45

100

94

100

105

96

96

64

63

5

62

62

107

100

113

115

87

87

72

72

6

55

50

104

100

102

104

88

88

77

75

7

53

58

72

89

105

109

75

73

63

70

8

60

54

92

86

112

110

88

86

67

66

9

56

57

110

117

110

115

97

107

64

62

10

50

50

90

98

100

100

70

74

67

65

11

73

64

107

97

112

112

69

70

65

65

12

57

51

92

93

107

107

80

79

70

68

13

50

58

92

97

128

123

90

92

47

47

13

82

73

114

110

134

139

93

90

77

77

15

69

69

120

124

138

143

90

80

84

75

16

55

60

118

128

146

145

88

87

52

50

17

52

58

76

80

127

124

89

89

59

59

18

70

70

112

119

135

138

90

90

58

60

19

55

48

115

100

128

108

85

83

40

42

20

67

83

116

120

136

136

75

66

55

53

21

61

62

118

109

135

143

85

75

87

72

22

51

40

85

92

124

127

83

86

57

57

23

49

49

148

123

144

146

95

93

60

60

24

80

82

104

97

119

120

73

75

85

83

25

47

46

82

88

118

116

86

84

57

55

26

53

53

101

96

109

132

82

84

75

73

27

69

69

102

98

138

129

92

90

60

58

28

62

60

95

94

134

135

95

94

62

61

29

42

42

94

102

144

149

102

95

72

67

30

55

55

98

90

145

153

94

92

85

84

31

60

60

75

81

113

112

82

83

85

73

32

62

55

104

94

98

104

70

62

66

64

33

57

61

102

108

108

104

86

88

77

77

34

60

61

96

102

102

102

68

68

72

72

35

44

44

83

91

97

97

77

76

65

65

36

72

72

119

124

137

143

90

82

83

81

37

55

61

120

128

145

145

87

87

51

45

38

52

59

75

80

127

123

89

89

72

71

39

67

67

113

119

135

139

92

90

58

60

40

56

48

110

100

128

108

85

83

41

42

41

66

83

116

121

136

136

71

67

54

44

42

61

63

117

109

136

143

85

76

74

72

43

51

41

86

92

124

127

82

86

60

60

44

49

48

140

123

144

144

95

95

58

58

45

80

82

104

96

119

121

73

74

85

83

46

48

46

82

89

118

116

87

84

55

58

47

54

53

101

95

109

132

82

84

74

73

48

70

69

102

98

138

129

92

91

59

58

49

44

42

94

101

143

149

98

92

65

66

50

50

50

98

89

145

153

94

93

70

69

51

60

61

76

81

113

113

83

83

75

73

52

62

55

104

93

98

104

70

62

62

61

53

57

62

101

108

108

104

86

86

72

72

54

61

61

96

101

103

103

68

66

60

63

55

45

44

83

92

97

96

77

77

60

59

Média

58.49

58.04

100.51

122.44

123.62

84.85

83.45

66.8

64.29

100.93

Desvio Padrão

10.011

11.41

13.179

17.359

18.27

9.093

9.867

11.453

10.544

15.608

Zoom Image
Fig. 2 Exemplificação de caso do grupo 1. a) Evidencia-se assimetria das aferições do eixo horizontal da hemipelve superior (H1 e H2). b) Evidencia-se assimetria da aferição do eixo vertical da hemipelve superior (V1). c) Evidencia-se simetria das aferições dos eixos horizontal e vertical da hemipelve inferior (HR e VR).

Os grupos foram considerados homogêneos, por não apresentarem diferença com relação a gênero, idade, ângulo CE e IA (p = 0,086). Na comparação entre o grupo controle e o grupo 1 ([Tabela 4]), observou-se diferença estatisticamente significativa para a assimetria das mensurações H1 (p < 0,001), H2 (p < 0,001) e V1 (p = 0,005). Para as medidas HR e VR, não observou-se diferença estatisticamente significativa (p = 0,082; p = 0,077).

Tabela 4

H1

H2

V1

VR

HR

Assimetria

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Sim

Não

Total

Inclinação

24

31

50

5

28

27

0

0

16

39

55

Acetabular

85.70%

47.70%

90.90%

13.20%

77.80%

47.40%

0.00%

0.00%

76.20%

54.20%

59.10%

Controle

4

34

5

33

8

30

0

0

5

33

38

14.30%

52.30%

9.10%

86.80%

12.20%

52.60%

0.00%

0.00%

13.80%

45.80%

40.90%

Total

28

65

55

38

36

57

0

0

21

69

88

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

100%

Significância

p = 0,001

p < 0,001

p = 0,005

p = 000

p = 0,82


#

Discussão

Existe evidência crescente na literatura da associação de alterações morfológicas ósseas na região do quadril e o desenvolvimento de sintomas, além da possibilidade de evolução para degeneração condral articular. Estas alterações podem estar relacionadas ao fêmur, ao acetábulo ou a ambos.[1] No lado acetabular, como alterações morfológicas frequentes pode-se encontrar a sobrecobertura (IFA) e a deficiência de cobertura (DDQ).[2] [3]

Alguns autores têm proposto que os distúrbios do desenvolvimento do quadril não afetam somente o fêmur proximal e o acetábulo, como é evidenciado em patologias como IFA e DDQ, mas sim em toda a pelve.[1] [10] Porém, não há consenso sobre quais deformidades ósseas pélvicas correlacionam-se com alterações morfológicas acetabulares. Os presentes autores acreditam que o melhor entendimento destes dismorfismos pode levar à maior facilidade no diagnóstico das patologias articulares do quadril.

Fujii et al,[13] realizaram um trabalho avaliando o alinhamento rotacional no plano axial do osso ilíaco em tomografias computadorizadas (TCs) de pacientes portadores de DDQ, e questionaram: se a deformidade rotacional estava presente na DDQ; se os ângulos de rotação correlacionavam-se com a versão e inclinação acetabulares; e se os ângulos de rotação correlacionavam-se com a região de deficiência do acetábulo. Os resultados evidenciaram que a rotação interna (RI) do terço superior da hemipelve (osso ilíaco cranialmente à espinha iliaca ântero-inferior [EIAI]) correlaciona-se com o diagnóstico de DDQ.[12] A RI do osso ilíaco em pacientes portadores de DDQ também foi observada por autores como Kumeta et al[13] e Suzuki,[14] e acredita-se que com esta deformidade o acetábulo tende a rodar anterossuperiormente, resultando em diminuição da cobertura anterossuperior e aumento da cobertura posterior.

Também, Fujii et al[12] correlacionaram a rotação externa do terço inferior da hemipelve (entre o osso ilíaco e o ramo ísquiopúbico) com retroversão acetabular em pacientes portadores de DDQ. Este achado é corroborado por Kalberer et al,[15] que observaram a proeminência da espinha isquiática em pacientes com retroversão do acetábulo.

Estas observações sugerem que alterações estruturais ósseas da pelve e anormalidades acetabulares não são achados isolados, e fazem parte de um continuum de alterações estruturais do desenvolvimento.

No presente trabalho, evidenciou-se correlação entre a variação do ângulo CE e assimetria da hemipelve superior. Assim como Fujii et al,[12] podemos constatar que os dismorfismos da hemipelve superior, decorrentes de distúrbios do desenvolvimento ósseo, podem influenciar na morfologia acetabular. Porém, buscamos analisar estes achados em um grupo de pacientes sem DDQ severa (ÂCE < 20°).

Segundo nosso conhecimento, este é o primeiro estudo que busca estabelecer correlações entre dismorfismos pélvicos e variação do ângulo CE, no percentil 90 para ângulo CE da população geral (20–40°).[16]


#

Conclusão

No presente trabalho, evidenciou-se correlação entre a variação do ângulo CE e assimetria da hemipelve superior. Estes achados sugerem que os dismorfismos da hemipelve superior, decorrentes de distúrbios do desenvolvimento ósseo, podem influenciar na morfologia acetabular.


#
#

Conflito de Interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

* Trabalho feito no Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS, Brasil.


  • Referências

  • 1 Gosvig KK, Jacobsen S, Sonne-Holm S, Palm H, Troelsen A. Prevalence of malformations of the hip joint and their relationship to sex, groin pain, and risk of osteoarthritis: a population-based survey. J Bone Joint Surg Am 2010; 92 (05) 1162-1169
  • 2 Agricola R, Heijboer MP, Roze RH. , et al. Pincer deformity does not lead to osteoarthritis of the hip whereas acetabular dysplasia does: acetabular coverage and development of osteoarthritis in a nationwide prospective cohort study (CHECK). Osteoarthritis Cartilage 2013; 21 (10) 1514-1521
  • 3 Reynolds D, Lucas J, Klaue K. Retroversion of the acetabulum. A cause of hip pain. J Bone Joint Surg Br 1999; 81 (02) 281-288
  • 4 Cooperman D. What is the evidence to support acetabular dysplasia as a cause of osteoarthritis?. J Pediatr Orthop 2013; 33 (Suppl. 01) S2-S7
  • 5 Tannast M, Siebenrock KA, Anderson SE. Femoroacetabular impingement: radiographic diagnosis--what the radiologist should know. AJR Am J Roentgenol 2007; 188 (06) 1540-1552
  • 6 Dora C, Leunig M, Beck M, Simovitch R, Ganz R. Acetabular dome retroversion: radiological appearance, incidence and relevance. Hip Int 2006; 16 (03) 215-222
  • 7 Jamali AA, Mladenov K, Meyer DC. , et al. Anteroposterior pelvic radiographs to assess acetabular retroversion: high validity of the “cross-over-sign”. J Orthop Res 2007; 25 (06) 758-765
  • 8 Murphy RJ, Subhawong TK, Chhabra A, Carrino JA, Armand M, Hungerford M. A quantitative method to assess focal acetabular overcoverage resulting from pincer deformity using CT data. Clin Orthop Relat Res 2011; 469 (10) 2846-2854
  • 9 Jacobsen S, Sonne-Holm S. Hip dysplasia: a significant risk factor for the development of hip osteoarthritis. A cross-sectional survey. Rheumatology (Oxford) 2005; 44 (02) 211-218
  • 10 Albiñana J, Morcuende JA, Delgado E, Weinstein SL. Radiologic pelvic asymmetry in unilateral late-diagnosed developmental dysplasia of the hip. J Pediatr Orthop 1995; 15 (06) 753-762
  • 11 Clohisy JC, Carlisle JC, Beaulé PE. , et al. A systematic approach to the plain radiographic evaluation of the young adult hip. J Bone Joint Surg Am 2008; 90 (Suppl. 04) 47-66
  • 12 Kumeta H, Funayama K, Miyagi S. , et al. Inward wing ilium of adult hip dysplasia a characteristic cross sectional pelvic anatomy visualized by CT. Rinsho Seikeigeka. 1986; 21 (01) 67-75
  • 13 Fujii M, Nakashima Y, Sato T, Akiyama M, Iwamoto Y. Pelvic deformity influences acetabular version and coverage in hip dysplasia. Clin Orthop Relat Res 2011; 469 (06) 1735-1742
  • 14 Suzuki S. Deformity of the pelvis in developmental dysplasia of the hip: three-dimensional evaluation by means of magnetic resonance image. J Pediatr Orthop 1995; 15 (06) 812-816
  • 15 Kalberer F, Sierra RJ, Madan SS, Ganz R, Leunig M. Ischial spine projection into the pelvis : a new sign for acetabular retroversion. Clin Orthop Relat Res 2008; 466 (03) 677-683
  • 16 Jacobsen S, Sonne-Holm S, Søballe K, Gebuhr P, Lund B. Hip dysplasia and osteoarthrosis: a survey of 4151 subjects from the Osteoarthrosis Substudy of the Copenhagen City Heart Study. Acta Orthop 2005; 76 (02) 149-158

Endereço para correspondência

Bruno Dutra Roos, MD
Grupo de Quadril do Hospital Ortopédico de Passo Fundo, Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo
Av. Sete de Setembro, 817, Centro, Passo Fundo, RS 99010-121
Brasil   

  • Referências

  • 1 Gosvig KK, Jacobsen S, Sonne-Holm S, Palm H, Troelsen A. Prevalence of malformations of the hip joint and their relationship to sex, groin pain, and risk of osteoarthritis: a population-based survey. J Bone Joint Surg Am 2010; 92 (05) 1162-1169
  • 2 Agricola R, Heijboer MP, Roze RH. , et al. Pincer deformity does not lead to osteoarthritis of the hip whereas acetabular dysplasia does: acetabular coverage and development of osteoarthritis in a nationwide prospective cohort study (CHECK). Osteoarthritis Cartilage 2013; 21 (10) 1514-1521
  • 3 Reynolds D, Lucas J, Klaue K. Retroversion of the acetabulum. A cause of hip pain. J Bone Joint Surg Br 1999; 81 (02) 281-288
  • 4 Cooperman D. What is the evidence to support acetabular dysplasia as a cause of osteoarthritis?. J Pediatr Orthop 2013; 33 (Suppl. 01) S2-S7
  • 5 Tannast M, Siebenrock KA, Anderson SE. Femoroacetabular impingement: radiographic diagnosis--what the radiologist should know. AJR Am J Roentgenol 2007; 188 (06) 1540-1552
  • 6 Dora C, Leunig M, Beck M, Simovitch R, Ganz R. Acetabular dome retroversion: radiological appearance, incidence and relevance. Hip Int 2006; 16 (03) 215-222
  • 7 Jamali AA, Mladenov K, Meyer DC. , et al. Anteroposterior pelvic radiographs to assess acetabular retroversion: high validity of the “cross-over-sign”. J Orthop Res 2007; 25 (06) 758-765
  • 8 Murphy RJ, Subhawong TK, Chhabra A, Carrino JA, Armand M, Hungerford M. A quantitative method to assess focal acetabular overcoverage resulting from pincer deformity using CT data. Clin Orthop Relat Res 2011; 469 (10) 2846-2854
  • 9 Jacobsen S, Sonne-Holm S. Hip dysplasia: a significant risk factor for the development of hip osteoarthritis. A cross-sectional survey. Rheumatology (Oxford) 2005; 44 (02) 211-218
  • 10 Albiñana J, Morcuende JA, Delgado E, Weinstein SL. Radiologic pelvic asymmetry in unilateral late-diagnosed developmental dysplasia of the hip. J Pediatr Orthop 1995; 15 (06) 753-762
  • 11 Clohisy JC, Carlisle JC, Beaulé PE. , et al. A systematic approach to the plain radiographic evaluation of the young adult hip. J Bone Joint Surg Am 2008; 90 (Suppl. 04) 47-66
  • 12 Kumeta H, Funayama K, Miyagi S. , et al. Inward wing ilium of adult hip dysplasia a characteristic cross sectional pelvic anatomy visualized by CT. Rinsho Seikeigeka. 1986; 21 (01) 67-75
  • 13 Fujii M, Nakashima Y, Sato T, Akiyama M, Iwamoto Y. Pelvic deformity influences acetabular version and coverage in hip dysplasia. Clin Orthop Relat Res 2011; 469 (06) 1735-1742
  • 14 Suzuki S. Deformity of the pelvis in developmental dysplasia of the hip: three-dimensional evaluation by means of magnetic resonance image. J Pediatr Orthop 1995; 15 (06) 812-816
  • 15 Kalberer F, Sierra RJ, Madan SS, Ganz R, Leunig M. Ischial spine projection into the pelvis : a new sign for acetabular retroversion. Clin Orthop Relat Res 2008; 466 (03) 677-683
  • 16 Jacobsen S, Sonne-Holm S, Søballe K, Gebuhr P, Lund B. Hip dysplasia and osteoarthrosis: a survey of 4151 subjects from the Osteoarthrosis Substudy of the Copenhagen City Heart Study. Acta Orthop 2005; 76 (02) 149-158

Zoom Image
Fig. 1 Exemplificação do método de aferição dos eixos pélvicos bilateralmente. Todas as linhas (H1, H2, V1, HR e VR) têm como referência a linha entre as gotas de lágrima. a) H1 e H2 correspondem à aferição do eixo horizontal da hemipelve superior. Inicialmente é definida uma linha ligando os pontos mais superiores dos tetos acetabulares (linha supra-acetabular). H1 localiza-se 2 cm acima desta; H2 localiza-se 7 cm acima desta. b) V1 corresponde à aferição do eixo vertical da hemipelve superior. É a medida do ponto mais superior do osso ilíaco até a linha supra-acetabular. c) HR corresponde à aferição do eixo horizontal da hemipelve inferior, tendo como referência um ponto médio da articulação da sínfise púbica. d) VR corresponde à aferição do eixo vertical da hemipelve inferior, tendo como referência um ponto médio da aferição HR.
Zoom Image
Fig. 1 Exemplification of bilateral pelvic axis measurement method. All lines (H1, H2, V1, HR and VR) are referenced to the line between the teardrops. a) H1 and H2 correspond to the measurement of the horizontal axis of the upper hemipelvis. Initially, a line is defined connecting the upper points of the acetabular roofs (supra-acetabular line). H1 is 2cm above it; H2 is 7cm above it. b) V1 corresponds to the measurement of the vertical axis of the upper hemipelvis. It is the measurement from the highest point of the iliac bone to the supra-acetabular line. c) HR corresponds to the measurement of the horizontal axis of the lower hemipelvis, having as reference a midpoint of the pubic symphysis joint. d) VR corresponds to the measurement of the vertical axis of the lower hemipelvis, having as reference a midpoint of the measurement of the HR.
Zoom Image
Fig. 2 Exemplificação de caso do grupo 1. a) Evidencia-se assimetria das aferições do eixo horizontal da hemipelve superior (H1 e H2). b) Evidencia-se assimetria da aferição do eixo vertical da hemipelve superior (V1). c) Evidencia-se simetria das aferições dos eixos horizontal e vertical da hemipelve inferior (HR e VR).
Zoom Image
Fig. 2 Case example of group 1. a) Asymmetry of the measurements of the horizontal axis of the upper hemipelvis (H1 and H2) is evinced. b) Asymmetry of the vertical axis measurement of the upper hemipelvis (V1) is evdenced. c) Symmetry of the measurements of the horizontal and vertical axes of the lower hemipelves (HR e VR) is evinced.