Palavras-chave
clorexidina - infecção - ortopedia - salas cirúrgicas - antissepsia - procedimentos
cirúrgicos
Introdução
A infecção de sítio cirúrgico (ISC) é um dos assuntos mais pesquisados e mais frequentemente
associados às complicações operatórias, vitimando até um terço dos pacientes submetidos
a procedimentos cirúrgicos em países de baixa e média renda.
Dados dos Centers for Disease Control and Prevention estimam que quase 500 mil dessas
manifestações ocorrem a cada ano, o que representa quase 1/4 das infecções nosocomiais
nos Estados Unidos anualmente.[1]
No Brasil, apesar de não haver dados sistematizados, as ISCs são apontadas em terceiro
lugar entre as causas de infecção, sendo encontradas em aproximadamente 14% a 16%
dos pacientes hospitalizados. Além dos prejuízos físicos, psicológicos e financeiros
aos pacientes acometidos, as ISCs podem prolongar a estadia do paciente em média de
sete a onze dias, além de aumentar a chance de readmissão hospitalar, cirurgias adicionais,
e, consequentemente, elevar exorbitantemente os gastos assistenciais com o tratamento,
que podem chegar a US$1,6 bilhão anuais.[2]
[3]
Revisões bibliográficas nos trazem dados históricos sobre a antissepsia, com procedimentos
rudimentares, evidentemente longe de serem seguros e eficazes, como aqueles hoje conhecidos.[4] Em uma revisão sistemática, Lee et al[5] concluíram que compostos à base de clorexidina são mais eficazes na antissepsia
do sítio cirúrgico do que o iodo, e resultam em economias significativas de custos.
Mears et al,[6] Swenson et al,[7] Saltzman et al,[8] e Savage e Anderson[1] conseguiram comprovar a maior eficácia da clorexidina com relação ao iodo. Reichel
et al[9] realizaram estudo comprovando a eficácia da associação álcool + clorexidina na antissepsia
cutânea.
É consenso que a eficácia da preparação cutânea para realização do ato operatório
tem impacto direto na ocorrência de ISC, e depende tanto do antisséptico utilizado
quanto do método de aplicação. Contudo, não está claro qual antisséptico ou associação
a ser usado, o tempo de ação, a metodologia utilizada na aplicação, ou o momento em
que a antissepsia cutânea deve ser realizada. Por este motivo, o presente trabalho
tem como objetivo comparar a eficácia da clorexidina degermante associada a álcool
etílico e a clorexidina alcoólica versus clorexidina degermante associada a clorexidina alcoólica, e, assim, avaliar qual
é a melhor forma de preparo da pele para procedimentos cirúrgicos ortopédicos em relação
ao crescimento bacteriano e ao tempo cirúrgico.
Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo clínico, primário, randomizado, prospectivo, analítico, simples-cego
e de centro único, com o propósito de comparar as técnicas de antissepsia utilizando
clorexidina degermante associada a álcool etílico e a clorexidina alcoólica, em procedimentos
cirúrgicos ortopédicos. Os dados foram coletados no centro cirúrgico e no laboratório
de pesquisa de um hospital de alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS). Após
aprovação pelo Comitê de ética em Pesquisa em 9 de maio de 2017 (parecer 2.054.709),
o estudo foi realizado no período compreendido entre junho e novembro de 2017, conforme
descrito a seguir.
Para o estudo, foram selecionados 190 pacientes segundo os critérios de elegibilidade,
e chegou-se a uma amostra de 170 pacientes que seriam submetidos a procedimentos cirúrgicos
ortopédicos.
Os critérios de inclusão no estudo foram: pacientes de ambos os gêneros; maiores de
18 anos; submetidos a todos os procedimentos cirúrgicos ortopédicos eletivos; que
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão
foram: pacientes submetidos a cirurgias de urgência/emergência; com histórico conhecido
de alergia à clorexidina, ou que apresentaram algum tipo de reação cutânea ou sistêmica
durante a aplicação do produto; com lesões de pele vigentes; oriundos do Centro de
Tratamento Intensivo; que apresentaram fratura exposta no momento do atendimento inicial;
e que utilizavam fixador externo para estabilização das fraturas. Também foram excluídos
casos de óbito no pré-operatório e de perda de material.
Pacientes que preencheram os critérios de elegibilidade foram separados, por meio
de uma tabela de números aleatórios gerada pelo site http://www.randomization.com (n° 25432, em 8 de maio de 2017), em dois grupos: clorexidina degermante associada
a álcool etílico a 70% e a clorexidina alcoólica (CDACA), e clorexidina degermante
associada a clorexidina alcoólica (CDCA). Foram seguidas as medidas de prevenção de
infecção relacionada à assistência à saúde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa),[3] e os pacientes submetidos a cirurgias eletivas de grande porte, ou nos quais foram
utilizados implantes ortopédicos durante o procedimento cirúrgico, foram devidamente
preparados para o procedimento cirúrgico tomando, com 2 horas de antecedência, banho
de corpo inteiro com a utilização de clorexidina 4%. Já os pacientes submetidos a
cirurgias eletivas de pequeno e médio porte utilizaram apenas sabonete neutro no banho
de corpo inteiro. Exceções quanto ao banho de corpo inteiro foram feitas para os pacientes
que utilizavam imobilizações gessadas devido ao fato de que, ao retirar a imobilização
para o banho, isso causaria dor, desconforto e riscos, como perfuração da pele pela
fratura.
Uma vez no centro cirúrgico, os pacientes receberam, de acordo com as descrições do
protocolo de antibioticoprofilaxia, cefazolina 2g endovenosa (EV) diluída em um frasco
de 250 mL de cloreto de sódio a 0,9%, iniciada 30 minutos antes do início do procedimento,
e 1g EV de 8h em 8h por 24h no pós-operatório. Também foi realizado exame de glicemia
do paciente no pré-operatório, sendo colhido 30 minutos antes do início do procedimento,
com nova coleta após o término da cirurgia. Pacientes que apresentavam pelos nos locais
da incisão foram submetidos a procedimento de tricotomia com a utilização de tricotomizador
da marca 3M (Maplewood, MN, EUA), sendo utilizadas lâminas descartáveis para cada
paciente, conforme as medidas de prevenção de infecção relacionada à assistência à
saúde da Anvisa.[3]
Após a realização do procedimento anestésico, foram iniciadas as coletas das amostras
da microbiota da pele do paciente, com auxílio de swab estéril em local previamente estipulado, no sítio cirúrgico, com extensão de 16 cm2, utilizando-se um campo de papel previamente recortado e esterilizado na Central
de Esterilização, para isolar a região demarcada.
Os materiais coletados foram colocados em um tubo de ensaio com 1 mL de solução fosfatada
tamponada, e encaminhados para o laboratório de pesquisa, onde foram semeados em uma
placa com meio de cultura manitol e outra placa com meio de cultura eosina azul de
metileno (EAM) para todos os momentos da coleta.
Todos os tubos de ensaio em que foram armazenadas as amostras colhidas, assim como
as placas de cultura, foram numerados de acordo com cada paciente, seguindo sequencialmente
os números de 1 a 170. Os tempos cirúrgicos de coleta foram identificados pelos números
0, 1 e 2, sendo que o número 0 corresponde aos materiais coletados na pré-degermação,
o número 1, aos materiais coletados no tempo pós-degermação com clorexidina degermante
4%, seguido pela retirada do excesso com compressa seca ou embebida com álcool etílico
a 70%, e o número 2, aos materiais coletados ao final do ato operatório ([Figura 1]).
Fig. 1 Figuras ilustrando os tempos de coleta das amostras. (A) Paciente após ser anestesiado, com o membro a ser operado isolado com campos; (B) Coleta de amostra antes da degermação; (C) Realizada degermação com clorexidina degermante e retirado o excesso; (D) Coleta de amostra após a degermação; (E) Coleta de amostra ao final da cirurgia, após a sutura da ferida operatória, em ambiente
ainda estéril.
Em ambos os grupos, foi coletada amostra da região a ser operada antes de proceder
à degermação (tempo 0) com clorexidina degermante 4% por um prazo de 5 minutos, sendo
utilizada uma compressa simples, estéril e embebida em álcool 70% para retirar o excesso
no grupo CDACA, e uma compressa simples, estéril e seca para retirar o excesso no
grupo CDCA, efetuando movimento de proximal para distal no membro, apenas uma vez.
Após a degermação, foi coletada amostra estéril com a mesma técnica na área anteriormente
estudada, seguida de antissepsia com clorexidina alcoólica e colocação de campos (tempo
1). Ao final do procedimento cirúrgico (incisão suturada), com o paciente ainda em
ambiente estéril, foi colhida a amostra com a mesma técnica, no mesmo local demarcado
(tempo 2). As amostras foram acondicionadas, separadamente, em tubos de ensaio com
1 mL de solução fosfatada tamponada e encaminhadas ao laboratório para análise.
Após 48 horas de o material ser semeado, os meios de cultura foram avaliados, e observou-se
o crescimento ou não de microrganismos. Nos casos em que ocorreu, foi contado o número
de colônias e identificadas bactérias Gram positivas (Staphylococcus aureus e não aureus) e Gram negativas. Foram comparados os meios de cultura pré-degermação, pós-degermação e ao final do
procedimento tanto para o meio manitol quanto para o meio EAM, e avaliou-se se o número
de colônias reduziu, se manteve igual, ou aumentou após a degermação. Quando houve
crescimento nos meios de cultura identificados no tempo 2 (após incisão suturada),
as placas foram lacradas com fita adesiva e encaminhadas ao laboratório de análises
clínicas para realização de antibiograma. Dessa forma, todos os integrantes da casuística
foram avaliados com relação à eficácia da antissepsia, assim como, quanto a quais
microrganismos cresceram nas culturas realizadas.
Os dados foram tabulados em planilhas do programa Microsoft Excel 2010 (Microsoft
Corp., Redmond, WA, EUA) e submetidos a análise estatística. Para a análise do teste
de Qui-quadrado foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS, IBM Corp. Armonk, NY, EUA), versão 20.0.0, com nível de rejeição da hipótese
de nulidade fixado em 5% (p ≤ 0,05). Para as variáveis numéricas, utilizou-se estatística descritiva, com cálculos
da média e mediana.
Resultados
O presente estudo compara a antissepsia realizada no Serviço de Ortopedia e Traumatologia
utilizando clorexidina degermante associada a álcool etílico a 70% e a clorexidina
alcoólica versus clorexina degermante associada a clorexidina alcoólica. Para o presente estudo, 170
pacientes foram elegíveis para serem submetidos a abordagem cirúrgica, sendo separados
em dois grupos de 85 pacientes cada: CDACA e CDCA. Durante a coleta, houve contaminação
do material semeado em quatro placas sequenciais, em procedimento executado pelo mesmo
residente, o que justificou a coincidência. Dessa forma, as placas foram eliminadas,
e os pacientes foram excluídos do trabalho. Ao total, foram excluídos 4 pacientes,
curiosamente sendo 2 de cada grupo, totalizando 166 pacientes divididos em 2 grupos
de 83 pacientes cada.
Em relação ao crescimento bacteriano nos meios de cultura manitol e EAM entre os grupos,
em cada tempo de estudo (0, 1 e 2) foi evidenciada significância entre os grupos no
tempo 0 ([Tabela 1]), mas neste tempo não houve qualquer tipo de intervenção, ou seja, não houve relevância
para o presente estudo. Nos demais tempos não houve significância estatística, ou
seja, não houve diferença no resultado entre os diferentes métodos de aplicação ([Tabela 2]).
Tabela 1
Manitol
|
Grupo
|
CDACA
|
CDCA
|
Total
|
n
|
%
|
n
|
%
|
n
|
%
|
Tempo 0–
Pré-degermação
|
Não cresceu
|
6
|
7,3
|
16
|
19,3
|
22
|
13,3
|
Cresceu
|
77
|
92,7
|
67
|
80,7
|
143
|
86,7
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
166
|
100,0
|
Tempo 1–
Pós-degermação
|
Não cresceu
|
52
|
62,7
|
43
|
51,8
|
94
|
57,0
|
Cresceu
|
31
|
37,3
|
40
|
48,2
|
71
|
43,0
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
166
|
100,0
|
Tempo 2–
após incisão suturada
|
Não cresceu
|
52
|
62,7
|
51
|
61,4
|
103
|
62,0
|
Cresceu
|
31
|
37,3
|
32
|
38,6
|
63
|
38,0
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
166
|
100,0
|
Tabela 2
Eosina azul de metileno
|
Grupo
|
CDACA
|
CDCA
|
Total
|
n
|
%
|
N
|
%
|
n
|
%
|
Tempo 0–
pré-degermação
|
Não cresceu
|
67
|
80,7
|
62
|
74,7
|
128
|
77,6
|
Cresceu
|
16
|
19,3
|
21
|
25,3
|
37
|
22,4
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
165
|
100,0
|
Tempo 1–
pós-degermação
|
Não cresceu
|
77
|
92,7
|
73
|
88,0
|
149
|
90,3
|
Cresceu
|
6
|
7,3
|
10
|
12,0
|
16
|
9,7
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
165
|
100,0
|
Tempo 2–
após incisão suturada
|
Não cresceu
|
75
|
90,4
|
74
|
89,2
|
149
|
89,8
|
Cresceu
|
8
|
9,6
|
9
|
10,8
|
17
|
10,2
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
166
|
100,0
|
O tipo de crescimento bacteriano nos meios de cultura manitol e EAM e o tipo de bactéria
que cresceu após incisão suturada não dependeram do método de aplicação ([Tabelas 3] e [4]).
Tabela 3
Bactérias
|
Grupo
|
CDACA
|
CDCA
|
Total
|
n
|
%
|
N
|
%
|
n
|
%
|
Não cresceu
|
49
|
59,1
|
43
|
51,8
|
92
|
55,4
|
CGP
|
29
|
35,8
|
31
|
37,4
|
60
|
36.1
|
BGN
|
2
|
2.4
|
2
|
2,4
|
4
|
2.4
|
CGP e BGN
|
3
|
3,6
|
7
|
8,4
|
10
|
6,1
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
166
|
100,0
|
Tabela 4
Bactérias
|
Grupo
|
CDACA
|
CDCA
|
Total
|
N
|
%
|
N
|
%
|
n
|
%
|
Não cresceu
|
51
|
61,4
|
52
|
62.6
|
103
|
62,0
|
CGP
|
26
|
31,3
|
27
|
32.6
|
53
|
31.9
|
BGN
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
CGP e BGN
|
6
|
7,3
|
4
|
4,8
|
10
|
6,1
|
Total
|
83
|
100,0
|
83
|
100,0
|
166
|
100,0
|
Na avaliação quantitativa relacionando os meios de cultura e os tempos de coleta,
observou-se similaridade no número de colônias de bactérias formadas (expresso como
n x10 UFC/mL) entre os dois métodos utilizados para antissepsia nesta pesquisa. Nas
amostras obtidas, a média total de crescimento desses microorganismos foi de 27,3213 × 10
UFC/mL e 27,5874 × 10 UFC/mL nos grupos CDCA e CDACA, respectivamente ([Tabela 5]).
Tabela 5
Tempo
|
Placa
|
Grupo
|
Média (x 10 UFC/mL)
|
Pré-degermação
|
EAM
|
CDCA
|
17,0843
|
CDACA
|
12,1707
|
Total
|
14,6424
|
Manitol
|
CDCA
|
116,7590
|
CDACA
|
133,6951
|
Total
|
125,1758
|
Total
|
CDCA
|
66,9217
|
CDACA
|
72,9329
|
Total
|
69,9091
|
Pós-degermação
|
EAM
|
CDCA
|
4,9518
|
CDACA
|
0,2317
|
Total
|
2,6061
|
Manitol
|
CDCA
|
21,5542
|
CDACA
|
4,1707
|
Total
|
12,9152
|
Total
|
CDCA
|
13,2530
|
CDACA
|
2,2012
|
Total
|
7,7606
|
Após incisão suturada
|
EAM
|
CDCA
|
0,3976
|
CDACA
|
0,2439
|
Total
|
0,3212
|
Manitol
|
CDCA
|
3,1807
|
CDACA
|
15,0122
|
Total
|
9,0606
|
Total
|
CDCA
|
1,7892
|
CDACA
|
7,6280
|
Total
|
4,6909
|
Total
|
EAM
|
CDCA
|
4,4779
|
CDACA
|
4,2154
|
Total
|
5,8566
|
Manitol
|
CDCA
|
47,1647
|
CDACA
|
50,9593
|
Total
|
49,0505
|
Total
|
CDCA
|
27,3213
|
CDACA
|
27,5874
|
Total
|
27,4353
|
Em relação ao crescimento bacteriano nos meios de cultura utilizados, nas amostras
obtidas no tempo 2 (após a sutura da incisão), foi observado crescimento em 39% dos
casos. Essas amostras foram encaminhadas ao laboratório de análises clínicas, no qual
se constatou a prevalência da bactéria Staphylococcus epidermidis (58,33%), seguida da S. aureus (13,88%) ([Tabela 6]).
Tabela 6
Bactéria
|
Frequência (%)
|
Staphylococcus epidermidis
|
58,33
|
Staphylococcus aureus
|
13,88
|
Acinetobacter iwoffii
|
11,14
|
Staphylococcus saprophyticus
|
4,16
|
Staphylococcus warneri
|
4,16
|
Staphylococcus hominis
|
2,77
|
Staphylococcus auricularis
|
1,39
|
Staphylococcus capitis-capitis
|
1,39
|
Staphylococcus haemolyticus
|
1,39
|
Staphylococcus capitis-ureolyticus
|
1,39
|
Discussão
Widerström[10] avaliou a importância clínica dos estafilococos coagulase-negativos, particularmente
o S. epidermidis, como uma importante causa de infecções associadas aos cuidados de saúde. Sua patogenicidade
é favorecida pelo nicho natural na pele humana, resultando, assim, em ponto contaminação
oportuno, o que reforça a importância do correto preparo cutâneo.
A melhor associação de antissépticos e a maneira e o tempo de aplicação ainda permanecem
sem um consenso na literatura. Martínez et al[11] realizaram o primeiro ensaio clínico para comparar o álcool isopropílico e a clorexidina
em álcool isopropílico para antissepsia da pele, com a finalidade de evitar a contaminação
da hemocultura. Os autores evidenciaram que as taxas de contaminação do sangue não
foram diferentes quando o álcool isopropílico e a clorexidina foram comparados.[11]
Uma revisão[12] das diretrizes americanas, inglesas e francesas constatou que não existe um consenso
quanto à forma de aplicação dos antissépticos. Enquanto as diretrizes americana e
inglesa não são claras quanto à limpeza da pele antes de aplicar o antisséptico (uma
abordagem que pode melhorar a sua eficácia, reduzindo a quantidade de bactérias e
material proteico sobre a pele), as diretrizes francesas recomendam limpar a pele
com um detergente antes da desinfecção.[12]
Com os resultados obtidos no presente trabalho, não foi observada qual é a melhor
associação para antissepsia nos pacientes ortopédicos, mas, com base em dados fornecidos
pela Central de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) da nossa instituição ([Tabela 7]), ao final do estudo, foi observada uma queda das taxas de ISC nos pacientes ortopédicos,
o que corrobora o princípio de que a elaboração e adoção de um protocolo ([Figura 2]) é capaz de reduzir de forma significativa as taxas de ISC.
Fig. 2 Medidas pré- e peroperatórias de prevenção de infecção em cirurgias ortopédicas.
Tabela 7
Mês
|
Jan
|
Fev
|
Mar
|
Abr
|
Mai
|
Jun
|
Jul
|
Ago
|
Set
|
Out
|
Nov
|
Dez
|
Total
|
Número de cirurgias
|
115
|
101
|
135
|
139
|
131
|
146
|
152
|
129
|
130
|
124
|
123
|
136
|
1.561
|
ISC
|
7
|
4
|
4
|
3
|
7
|
3
|
2
|
1
|
4
|
1
|
2
|
2
|
40
|
%
|
6,1
|
4,0
|
2,96
|
2,16
|
5,34
|
2,05
|
1,32
|
0,78
|
3,08
|
0,81
|
1,63
|
1,47
|
2,64
|
Conclusão
Não ocorreu diferença estatística entre a clorexidina degermante associada a álcool
etílico e a clorexidina alcoólica e a clorexidina degermante associada a clorexidina
alcoólica na antissepsia para a prevenção de ISC em cirurgias ortopédicas. Porém,
observou-se que a adoção de um protocolo de medidas pré-, per- e pós-operatórias é
eficaz na diminuição das taxas de ISC.
É possível que novos trabalhos com uma casuística maior possam apresentar maiores
detalhes quanto à melhor forma de aplicação dos antissépticos. Sendo assim, continua
a discussão de qual é o melhor antisséptico e a melhor forma de aplicá-lo.