Palavras-chave fusão vertebral - vértebras lombares - sacro - antropometria - parafusos ósseos
Introdução
O sacro é um osso irregular composto pela fusão de cinco vértebras com processos transversais,
formando duas grandes massas ósseas laterais chamadas asas. As cinco vértebras diminuem
gradualmente de diâmetro em direção à sua extremidade caudal, o que confere uma aparência
triangular invertida única, com uma concavidade anterior e uma convexidade posterior.
O canal sacral, de configuração triangular, passa pelo centro do corpo do sacro e
é a continuação do canal vertebral lombar. Termina inferiormente no hiato sacral e
contém raízes nervosas sacrais e coccígeas, meninges espinhais (à altura de S2) e
o filo terminal. O sacro, ao atuar como a base da coluna, transmite o estresse entre
a coluna e a pelve por meio das articulações sacroilíacas.[1 ]
A instrumentação lombossacropélvica é frequentemente realizada em lesões do anel pélvico
posterior, como luxações da articulação sacroilíaca, fraturas sacrais instáveis, escoliose,
espondilolistese e outras formas de deformidade ou instabilidade, além de construtos
de fusão longa. Essas indicações requerem instrumentação espinopélvica para restauro
do alinhamento ideal da coluna pélvica com o membro inferior, levando à fixação lombossacral
segura e com resistência aos movimentos de flexão do cantiléver, o que reduz o risco
de falha e permite a boa sustentação de peso.[2 ]
Na correção de lesões da coluna, a preservação da mobilidade da coluna inferior pode
provocar falha do implante, fratura de haste, pseudoartrose, ou déficits neurológicos.
Portanto, a extensão da fusão da coluna ao sacro representa uma melhora significativa
nos desfechos clínicos e diminui as complicações maiores. A fixação lombopélvica produz
uma artrodese da junção lombossacral que imobiliza as articulações à altura da fusão.
A estabilização por meio de instrumentação pélvica é recomendada aos pacientes com
necessidade de realinhamento sagital e/ou descompressão neurológica da coluna vertebral,
principalmente aqueles submetidos à osteotomia de subtração pedicular.[3 ] Nos casos de espondilolistese de alto grau, o tratamento cirúrgico é associado a
altas taxas de arrancamento do parafuso e perda da redução quando a instrumentação
é feita sem fixação sacropélvica. Essa fixação pode melhorar os desfechos e reduzir
as complicações neurológicas. Os pacientes com deformidades neuromusculares, como
escoliose, precisam de correção da obliquidade pélvica e, assim, de maior fixação
pélvica, já que a fixação lombar ou sacral é muitas vezes insuficiente, em especial
quando a deformidade atinge os níveis inferiores da coluna lombar.[1 ]
A intervenção rápida é essencial em pacientes com múltiplas lesões por traumatismo
de alta energia e fraturas sacrais instáveis ou luxação da articulação sacroilíaca.
A fratura do sacro pode causar lesões nas estruturas neurovasculares adjacentes, levando
à instabilidade hemodinâmica.[4 ] Embora a estabilização pélvica com fixação externa possa ser realizada em emergências,
a instrumentação iliossacral ou espinopélvica pode ser necessária como tratamento
definitivo para permitir a descarga de peso mais rápida e evitar as complicações relacionadas
à imobilização prolongada (trombose venosa profunda, pneumonia, úlceras de decúbito,
entre outras).[3 ]
A instrumentação do sacro é um desafio. Devido à sua inclinação, movimentos em diferentes
planos exercem enorme pressão sobre esse osso. Além disso, durante a abordagem posterior
ao sacro, a fixação com parafusos pode colocar em risco estruturas anatômicas anteriores
caso um implante penetre a área cortical anterior.
O objetivo deste estudo foi avaliar a antropometria sacro-pélvica na população portuguesa
por meio do estudo de tomografias computadorizadas (TCs) da pelve em prontuários clínicos
e de imagem dos pacientes e analisar sua implicação na colocação dos parafusos, em
especial comprimento e orientação, para auxiliar a cirurgia
Métodos
Este estudo é uma revisão retrospectiva dos prontuários clínicos de 53 pacientes de
um único centro. O banco de dados SECTRA IDS7 versão 17.3.2086 (Sectra AB, Linköping,
Suécia) foi utilizado. A população selecionada incluiu todos os pacientes no banco
de dados categorizados como submetidos a uma TC pélvica de 25 de novembro de 2019
a 29 de fevereiro de 2020. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética local (REF:
2019.354(289-DEFI/308-CE).
Dos 53 pacientes, 13 foram excluídos pelos seguintes motivos: TC incompleta/ausente,
fraturas ativas, neoplasias ósseas, osteomielite, distúrbios osteopênicos (osteoporose,
osteomalácia), escoliose lombar (ângulo de Cobb acima de 20°), espinha bífida, implantes
espinhais ou pélvicos in situ, idade inferior a 18 anos e histórico de cirurgia lombossacropélvica
As demais TCs de 40 pacientes, foram analisadas com execução dos arquivos Digital Imaging and Communications in Medicine (DICOM) em software Surgimap v2.3.2.1 (Nemaris Inc., Nova York, NY, EUA).
As medidas da antropometria sacropélvica foram baseadas nas trajetórias pré-definidas
dos parafusos, como trajetória anterior (S1A), anterolateral (S1AL) e anteromedial
(S1AM) do parafuso no pedículo de S1, trajetória anterolateral (S2AL) e anteromedial
(S2AM) do parafuso no pedículo de S2, e trajetória ilíaca alar (S2AI), ilíaca e sacroilíaca
(SI) do parafuso em S2.
As trajetórias foram medidas no lado direito de cada pelve por dois investigadores
para reduzir o viés e minimizar erros. Cada medida foi então confirmada e reanalisada
como necessário. Todas as medidas foram realizadas sem atravessar a camada cortical
do osso, mas com o comprimento máximo permitido. Além do comprimento, também foram
medidos os ângulos lateral e caudal, nos planos axial e sagital, respectivamente,
de acordo com a trajetória. Além disso, em todas as trajetórias, a largura suficiente
do corredor ósseo foi assegurada para permitir a perfuração por parafusos com, no
mínimo, 6 mm de diâmetro.
Parafusos no pedículo de S1
Três trajetórias foram analisadas. A trajetória S1A seguia da junção da asa do sacro
ao corpo vertebral e fazia um ângulo de 90° com a linha horizontal no plano axial
([Fig. 1 ]). A trajetória S1AL era direcionada para a asa do sacro ([Fig. 2 ]), e a S1AM ia para o promontório do sacro ([Fig. 3 ]).
Fig. 1 Ilustração da medida da trajetória do parafuso S1A. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
Fig. 2 Ilustração da medida da trajetória do parafuso S1A. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
Fig. 3 Ilustração da medida da trajetória do parafuso S1AM. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
O ponto de partida utilizado foi o aspecto inferolateral da articulação facetária
de S1.
Parafusos no pedículo de S2
O ponto de partida de ambas as trajetórias dos parafusos no pedículo de S2 foi a fusão
entre a lâmina sacral e a asa lateral do sacro; S2AL seguia em direção lateral ([Fig. 4 ]) e S2AM, em direção medial ([Fig. 5 ]).
Fig. 4 Ilustração da medida da trajetória do parafuso S2AL. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
Fig. 5 Ilustração da medida da trajetória do parafuso S2AM. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
As medidas das trajetórias em S1 e S2 foram realizadas após seu alinhamento paralelamente
à placa terminal superior no plano sagital, o que permite a redução de fraturas do
parafuso em carga axial e proporciona maior estabilidade.
Trajetória ilíaca alar do parafuso em S2
O ponto inicial da trajetória S2AI foi 1 mm inferior e 1 mm lateral ao forame dorsal
de S1. A direção foi baseada no ângulo lateral e caudal descritos na literatura ([Fig. 6 ]). Os ângulos laterais médios utilizados como referência foram de 32,40 a 52,20°
e os ângulos caudais médios foram de 27,50 a 39°.
Fig. 6 Ilustração da medida da trajetória do parafuso S2AI. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
Parafuso ilíaco
O ponto de partida da trajetória ilíaca foi a espinha ilíaca póstero-superior (EIPS)
à espinha ilíaca ântero-inferior (EIAI) sem atravessar a camada cortical ([Fig. 7 ]).
Fig. 7 Ilustração da medida da trajetória do parafuso ilíaco. a) Incidência axial; b) Incidência
sagital.
Parafuso sacroilíaco
O ponto de partida do parafuso SI foi a face externa do ílio, 3 cm em sentido anterior
à PSIS e 4 cm em sentido cefálico à incisura isquiática maior, por meio do corredor
ósseo do ílio, articulação sacroilíaca, asa do sacro e promontório sacral, através
da articulação de S1. O parafuso foi direcionado perpendicularmente à superfície externa
da face ([Fig. 8 ]).
Fig. 8 Ilustração da medida da trajetória do parafuso sacroilíaco, vista axial.
Métodos estatísticos
As correlações interobservadores foram determinadas por meio da estimativa do α de
Cronbach e da matriz de intercorrelação.
Para melhor compreensão dos resultados obtidos, os comprimentos e ângulos médios em
cada sexo também foram calculados e, a seguir, comparados por meio do teste t para amostras independentes para identificação de diferenças estatisticamente significativas.
O valor de p < 0,05 foi considerado significativo
Os dados foram coletados em Microsoft Excel versão 2013 (Microsoft Corp., Redmond,
WA, EUA) e transferidos para o programa IBM SPSS Statistics for Windows, versão 26.0
(IBM Corp., Armonk, NY, EUA) para estatística descritiva e analítica.
Resultados
A população estudada foi composta por 24 homens e 16 mulheres (60% e 40%, respectivamente).
A média de idade da população na data da coleta de dados foi de 63,88 anos ([Tabela 1 ]).
Tabela 1
N
Idade (média ± desvio-padrão)
Total
40
63,88 ± 15,23
Masculino
24
65,50 ± 15,18
Feminino
16
61,44 ± 15,46
Houve boa correlação (α > 0,5) entre as medidas de comprimento e ângulo realizadas
pelos dois investigadores à exceção do comprimento do parafuso S2AL ([Tabela 2 ]).
Tabela 2
Trajetória do parafuso
Confiabilidade interobservador
Ângulos da trajetória
Confiabilidade interobservador
S1A
0,596
S1AL
0,843
Lateral
0,756
S1AM
0,689
Lateral
0,701
S2AL
0,280
Lateral
0,516
S2AM
0,806
Lateral
0,554
S2AI
0,784
Lateral
0,630
Caudal
0,753
Ilíaco
0,772
Lateral
0,435
Caudal
0,546
Sacroilíaco
0,806
O comprimento médio e a angulação média de cada trajetória ([Tabela 3 ]) de cada paciente e sexo ([Tabela 4 ]) foram calculados.
Tabela 3
N
Mínimo
Máximo
Média
Desvio padrão
Comprimento de S1A
40
23,50
39,50
30,80
3,31
Comprimento de S1AL
40
27,50
49,50
36,48
5,39
Ângulo de S1AL
40
20,50
46,00
33,13
6,06
Comprimento de S1AM
40
39,50
53,00
46,23
3,36
Ângulo de S1AM
40
25,00
41,00
33,21
3,86
Comprimento de S2AL
40
23,50
36,50
28,66
2,46
Ângulo de S2AL
40
18,50
33,25
26,52
3,31
Comprimento de S2AM
40
24,25
42,00
29,99
4,05
Ângulo de S2AM
40
25,00
42,75
33,61
3,53
Comprimento de S2 alar
40
106,50
145,00
125,84
8,19
Ângulo lateral de S2 alar
40
29,75
46,25
36,78
3,27
Ângulo caudal de S2 alar
40
15,75
39,75
28,66
5,78
Comprimento do parafuso ilíaco
40
120,00
156,00
136,73
8,75
Ângulo lateral do parafuso ilíaco
40
17,00
30,25
23,86
3,00
Ângulo caudal do parafuso ilíaco
40
14,25
33,25
24,013
5,34
Comprimento do parafuso sacroilíaco
40
62,0
83,50
75,50
4,75
Tabela 4
N
Sexo
Média
Desvio padrão
Erro médio padrão
S1A
24
M
31,35
3,50
0,71
16
F
29,97
2,91
0,73
S1AL
24
M
38,26
5,58
1,14
16
F
33,81
3,88
0,97
Ângulo de S1AL
24
M
32,73
5,74
1,17
16
F
33,73
6,66
1,67
S1AM
24
M
47,58
3,15
0,64
16
F
44,19
2,62
0,65
Ângulo de S1AM
24
M
33,84
3,85
0,79
16
F
32,27
3,80
0,95
S2AL
24
M
29,35
2,56
0,52
16
F
27,63
1,93
0,48
Ângulo de S2AL
24
M
27,11
3,23
0,66
16
F
25,63
3,32
0,83
S2AM
24
M
31,01
4,41
0,90
16
F
28,45
2,96
0,74
Ângulo de S2AM
24
M
33,10
2,33
0,48
16
F
34,36
4,80
1,20
S2AI
24
M
128,83
7,61
1,55
16
F
121,34
7,06
1,76
Ângulo lateral de S2AI
24
M
36,79
3,17
0,65
16
F
36,77
3,51
0,88
Ângulo caudal de S2AI
24
M
28,18
6,09
1,24
16
F
29,39
5,38
1,34
Parafuso ilíaco
24
M
140,69
7,80
1,59
16
F
130,78
6,57
1,64
Ângulo lateral do parafuso ilíaco
24
M
23,98
2,70
0,55
16
F
23,69
3,48
0,87
Ângulo caudal do parafuso ilíaco
24
M
24,15
5,09
1,04
16
F
23,81
5,85
1,46
Parafuso sacroilíaco
24
M
75,35
4,56
0,93
16
F
75,72
5,18
1,29
A correlação entre homens e mulheres demonstrou que o comprimento médio dos parafusos
S1AL, S1AM, S2AL, S2AM, S2AI e ilíaco no sexo masculino foi maior do que no sexo feminino
(p < 0,05). O comprimento dos parafusos S1A e SI e os ângulos não apresentaram diferenças
significativas na comparação entre os sexos ([Tabela 5 ]).
Tabela 5
Significado (bicaudal)
Diferença média
Diferença de erro padrão
S1A
0,198
1,39
1,06
S1AL
0,009
4,45
1,61
Ângulo de S1AL
0,614
−1,01
1,98
S1AM
0,001
3,40
0,95
Ângulo de S1AM
0,209
1,59
1,24
S2AL
0,027
1,73
0,75
Ângulo de S2AL
0,166
1,49
1,05
S2AM
0,049
2,56
1,26
Ângulo de S2AM
0,276
−1,26
1,14
S2AI
0,003
7,49
2,39
Ângulo lateral de S2AI
0,981
0,03
1,07
Ângulo caudal de S2AI
0,522
−1,21
1,88
Parafuso ilíaco
0,000
9,91
2,37
Ângulo lateral do parafuso ilíaco
0,767
0,29
0,98
Ângulo caudal do parafuso ilíaco
0,849
0,33
1,74
Parafuso sacroilíaco
0,816
−0,36
1,55
Discussão
A fixação com parafusos dos pedículos de S1 e S2 tem sido relativamente bem-sucedida,
em especial na coluna inferior. Apesar disso, este procedimento ainda é associado
a falhas de instrumentação e pseudoartrose.[5 ]
A baixa densidade mineral óssea do sacro e as grandes cargas atuantes na coluna lombar
e na pelve são responsáveis pelo alto risco de arrancamento e afrouxamento da instrumentação,
principalmente em construtos de fusão longa para tratamento de espondilolistese ou
escoliose. Por isso, algumas técnicas foram modificadas para melhorar a força de fixação,
dar suporte biomecânico adequado e diminuir as taxas de falha da fixação do parafuso.
Essas técnicas são o parafuso S2AI e o parafuso ilíaco, que reduzem a tensão no parafuso
S1/S2. As taxas de fusão na junção lombossacral melhoraram mais de 90% com a utilização
dessas duas técnicas.[1 ]
Além disso, o tratamento de lesões como fraturas do anel pélvico posterior e luxação
da articulação sacroilíaca é difícil porque a pelve tem uma superfície cortical irregular
e complexa e é uma estrutura que suporta 70% do peso corpóreo. O desequilíbrio dinâmico
da pelve causado por má redução da fratura geralmente leva ao desenvolvimento de disfunções
da sustentação de peso, que também são complicações graves. Diante disso, os cirurgiões
ortopédicos ainda enfrentam desafios para redução de alta qualidade do anel pélvico
posterior.[6 ]
Como as técnicas de instrumentação sacral são cada vez mais sofisticadas, é de vital
importância ter referências anatômicas, principalmente relacionadas ao comprimento
e ângulo de inserção do parafuso, para reduzir complicações, proporcionar maior estabilidade
de carga na pelve e manter a segurança do paciente.
Diversos estudos descreveram as características antropométricas das trajetórias de
alguns parafusos sacropélvicos. Apesar disso, nenhum deles fez uma descrição completa
das trajetórias de todos os parafusos principais na mesma população. Ademais, não
existem referências anatômicas para a colocação de parafusos sacropélvicos na população
portuguesa. Logo, é importante fornecer essas referências e integrar esse conhecimento
à literatura internacional ([Tabela 6 ]).[5 ]
[7 ]
[8 ]
[9 ]
[10 ]
[11 ]
Tabela 6
Artigos
Trajetória
Este estudo
Xu et al.[16 ]
Asher et al.[8 ]
Ota et al.[5 ]
Zhu et al.[11 ]
Berry et al.[9 ]
Ebraheim et al.[17 ]
Sexo
Total
S1A
M
31,35
30,80
30
−
−
−
−
−
F
29,97
S1AL
M
38,26
36,48
−
39
−
−
−
−
F
33,81
37
Ângulo de S1AL
M
32,73
36,48
−
25
−
−
−
−
F
33,73
S1AM
M
47,58
46,23
−
50
46
−
−
−
F
44,19
47
Ângulo de S1AM
M
33,84
33,21
−
35
23
−
−
−
F
32,27
S2AL
M
29,35
28,66
34
−
−
−
−
−
F
27,63
Ângulo de S2AL
M
27,11
26,52
30
−
−
−
−
−
F
25,63
S2AM
M
31,01
29,99
32
−
−
−
−
−
F
28,45
Ângulo de S2AM
M
33,10
33,61
30
−
−
−
−
−
F
34,36
S2AI
M
128,83
125,84
−
−
−
121
−
−
F
121,34
116
Ângulo lateral de S2AI
M
36,79
36,78
−
−
−
37
−
−
F
36,77
46
Ângulo caudal de S2AI
M
28,18
28,66
−
−
−
30
−
−
F
29,39
35
Parafuso ilíaco
M
140,69
136,73
−
−
−
−
147
−
F
130,78
141
Ângulo lateral do parafuso ilíaco
M
23,98
23,86
−
−
−
−
−
−
F
23,69
Ângulo caudal do parafuso ilíaco
M
24,15
24,013
−
−
−
−
−
−
F
23,81
Parafuso sacroilíaco
M
75,35
75,50
−
−
−
−
−
80
F
75,72
Além do comprimento do parafuso, importante ao considerar a estabilidade biomecânica
e o risco de lesão neurovascular, o uso da angulação adequada também deve ser considerado.
Mirkovic et al.[12 ] concluíram que o comprimento dos parafusos sacrais de orientação lateral depende
principalmente do grau de orientação; em ângulo de 30°, o comprimento médio do parafuso
S1AL foi de 38 mm e, em ângulo de 45°, o comprimento foi de 44 mm. No entanto, atingir
a distância máxima na trajetória do parafuso não leva ao melhor desfecho, pois os
parafusos com 45° de orientação lateral para a asa do sacro tinham um alto potencial
de impacto do tronco lombossacral (55%), com taxa de lesão da articulação sacroilíaca
de 10% . Portanto, um parafuso mais curto, bem-posicionado, é preferível a um parafuso
mais longo, mas mal colocado.
Ota et al.[5 ] compararam duas abordagens cirúrgicas ao ponto de entrada do parafuso no pedículo
de S1 e concluíram que a técnica utilizada foi influenciada pelo ângulo de inserção
do parafuso, que teve efeito na distância da trajetória. A distância de S1AM foi de
46 mm, com um ângulo de 23°, usando o mesmo ponto de entrada de nosso estudo. As medidas
de S1AM, segundo Asher et al.,[9 ] foram 50 mm em homens e 47 mm em mulheres, com angulação pré-determinada de 35°.
De modo geral, é aceito que a trajetória anteromedial proporciona maior estabilidade
do que S1A e S1AL, pois a densidade óssea na região central do sacro é de 30 a 60%
maior do que na asa sacral.[5 ] Aqui, o comprimento e o ângulo foram 48 mm e 34° e 44 mm e 33° em homens e em mulheres,
respectivamente.
Berry et al.[10 ] analisaram duas trajetórias para a colocação do parafuso ilíaco: o ponto de partida
foi da EIPS até a EIAI ou a borda superior do acetábulo, medindo 147 mm em homens
e 141 mm em mulheres ou 128 mm em homens e 124 mm em mulheres, respectivamente. O
estudo concluiu que a trajetória até a EIAI era mais segura por ser mais longa, enquanto,
inversamente, a outra trajetória apresentava risco de penetração acetabular.[10 ] Portanto, em nosso estudo, a trajetória utilizada foi até EIAI, e a distância medida
foi de 141 mm no sexo masculino e 131 mm no sexo feminino. Os ângulos lateral e caudal
medidos foram de 24° em ambos os sexos.
O parafuso ilíaco tem sido bastante empregado, mas seu ponto de entrada na EIPS requer
dissecção considerável dos tecidos moles para remoção do bloco ósseo e sua inserção,
o que pode aumentar o risco de complicações da ferida e a dor pós-operatória secundária
à extensa manipulação dessas estruturas.[13 ] Estudos anteriores mostraram que 44% dos pacientes tratados com parafusos ilíacos
apresentaram complicações relacionadas à falha do implante ou proeminência sobre a
EIPS.[7 ] O parafuso S2AI foi recentemente descrito para evitar alguns dessas problemas.[14 ] Seu ponto de entrada é medial ao parafuso ilíaco, exigindo menos dissecção de partes
moles e evitando proeminências de instrumentação, entre outras vantagens.[13 ]
O dismorfismo sacral é definido por variações na anatomia sacral normal, como asa
sacral angulada e inclinada para cima, processos transversos denominados “corpos mamilares”,
espaço discoide incompleto no segmento sacral superior, forames neurais sacrais superiores
deformados, de aparência não circular, e ondulações nas superfícies articulares sacroilíacas.[15 ] Neste estudo, o dismorfismo sacral não foi um critério de exclusão porque quase
metade (44%) da população adulta o apresenta.[16 ] A trajetória do parafuso sacroilíaco é a mais afetada pelo dismorfismo sacral. Em
sacros dismórficos, a zona segura do segmento sacral superior é significativamente
menor e de orientação mais oblíqua, o que pode dificultar a colocação adequada do
parafuso. No entanto, o corredor ósseo ainda é grande o suficiente para acomodar um
parafuso iliossacral em quase todos os pacientes. O corredor ósseo é largo o suficiente
(> 7,5 mm) para fixação do parafuso sacroilíaco oblíquo na vértebra S1 em 97% dos
homens e 94% das mulheres com pelve dismórfica.[17 ]
Portanto, a exclusão desses casos não constituiria vantagem nem permitiria que a amostra
fosse representativa da população.
Este estudo tem algumas limitações. Primeiro, apenas o lado direito da pelve do paciente
foi medido. Em segundo lugar, enquanto o software Surgimap é confiável e fácil de
usar, todas as medidas foram feitas manualmente e dependem do investigador. Para superar
essa limitação, dois investigadores independentes mediram os comprimentos e ângulos
da trajetória do parafuso e a concordância de todas as medidas, exceto uma, foi boa.
Conclusão
Este estudo descreve especificações anatômicas sacropélvicas. Os detalhes morfométricos
definidos devem ser considerados durante procedimentos cirúrgicos.