CC BY 4.0 · Brazilian Journal of Oncology 2017; 13(44): e-1792187
DOI: 10.1055/s-0044-1792187
Carta ao Editor

Imunização no paciente adulto com tumores sólidos -recomendações adaptadas à realidade brasileira

Immunization in adult patients with solid tumors - adapted recommendations to Brazilian reality
Renata D'Alpino Peixoto
1   Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil
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CARTA AO EDITOR

De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são estimados para o ano de 2017 mais de 420.000 casos novos de câncer, excluindo-se os tumores de pele do tipo não-melanoma.([1]) Muitos pacientes oncológicos padecem de complicações infecciosas, especialmente em virtude da imunossupressão pela própria neoplasia ou em decorrência do tratamento oncológico.([2]) Apesar da maioria das infecções na atualidade não poderem ser prevenidas por vacinas, algumas podem ser evitadas através de adequada imunização, contribuindo assim para redução da morbi-mortalidade. No entanto, os pacientes oncológicos com imunosupressão podem não montar uma resposta imune protetora à vacinação, assim como podem desenvolver infecção caso a imunização seja feita com vacinas de vírus vivos ou de cepas atenuadas. Desta maneira, o conhecimento sobre vacinação em pacientes com câncer é de fundamental importância para todo médico que trata casos oncológicos.

Neste artigo, revisaremos os dados de vacinação em pacientes com câncer, excluindo pacientes com neoplasias hematológicas e pós-transplante de medula óssea, adaptando-os para a realidade brasileira.

De uma maneira geral, pacientes em tratamento com quimioterapia não devem receber vacinas de vírus vivos ou de cepas atenuadas, uma vez que o paciente pode desenvolver infecção pelo agente pelo fato de não estar imunologicamente competente.(3,4) São exemplos de vacinas vivas a da febre amarela, tríplice viral (MMR, contra sarampo, cachumba e rubéola), BCG, varicela e varicela zoster. Além disso, recomenda-se administrar pelo menos 4 semanas antes do início da quimioterapia ou aguardar pelo menos 3 meses do término da última sessão para que se possa imunizar pacientes oncológicos com este tipo de vacina.([3],[4])

Já as vacinas de agentes mortos ou inativados são seguras, tais como contra Influenza (H1N1), dTP (difteria, tétano e coqueluche), pneumocócica, meningocócica, Haemophilus influenzae, HPV, hepatite B e hepatite A. No entanto, existe a possibilidade do paciente em quimioterapia não conseguir montar uma resposta protetora a tempo, sendo que nestes casos a vacinação pode ser ineficaz.([3],[4]) Desta maneira, não se pode considerar um indivíduo em quimioterapia protegido sem que se verifique a presença de anticorpos protetores. Re-comenda-se administrar este tipo de vacina com pelo menos 2 semanas antes do início da quimioterapia e, sempre que possível, aguardar 3 meses do término da última sessão para que se possa imunizar pacientes oncológicos com este tipo de vacina.([3],[4])

Diversas sociedades internacionais promoveram recomendações para imunização em pacientes imunocomprometidos, incluindo pacientes com câncer. A Infectious Diseases Society of America (IDSA) desenvolveu em 2013 um guideline voltado para a prática clínica envolvendo especialistas internacionais.

Vacinas recomendadas para pacientes oncológicos adultos com tumores sólidos

- Contra Influenza (inativada)

Deve ser dada anualmente devido à variação sazonal,’51 exceto para pacientes recebendo anticorpos anti-células B (rituximabe ou alemtuzumabe). Além da imunização do paciente oncológico, recomenda-se também a vacinação de cuidadores, familiares e profissionais de saúde que têm contato com tais pacientes.

- Contra pneumococo

Deve ser administrada antes que o paciente inicie a quimioterapia (pelo menos 2 semanas de antecedência).’61 Para aqueles que nunca receberam esta imunização, recomenda-se a vacina pneumocócica conjugada 13-valente com aplicação da vacina 23-valente pelo menos 8 semanas após.

- Contra tétano, difteria e coqueluche

Pelo menos um reforço de imunização contra difteria e tétano (dT) é recomendado a todos os pacientes, preferencialmente antes do início da quimioterapia. Adultos que não foram vacinados previamente com a pertussis acelular (contra coqueluche) devem receber a vacina dTap, contendo toxina tetânica, toxina da difteria reduzida e pertussis acelular.

As demais vacinas são indicadas apenas em circunstâncias especiais.


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CONCLUSÃO

A disseminação do conhecimento sobre imunização no paciente com câncer é fundamental para que os profissionais de saúde que lidam com esta população estejam preparados para indicar ou não determinadas vacinas, contribuindo ainda mais para redução da morbimortalidade nos pacientes oncológicos.


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AGRADECIMENTOS

À Julia Spinardi.


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Conflitos de interesse:

não há.

  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1 Instituto Nacional de Câncer (INCA). Gomes da Silva José Alencar. Estimativa 2016 [Internet]. [citado 2017 Jun 12]. Disponível em http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/
  • 2 Hibberd PL, Rubin RH. Approach to immunization in the immunosuppresses host. Infect Dis Clin North Am 1990; 4 (01) 123-42
  • 3 Rubin LG, Levin MJ, Ljungman P, Davies EG, Avery R, Tom-blyn M. et al. 2013 IDSA clinical practice guideline for vaccination of the immunocompromised host. Clin Infect Dis 2014; 58 (03) e44-100
  • 4 Baker C, Pickering L, Chilton L, Cieslak P, Ehresmann K, En-glund J. et al. General recommendations on immunization recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep 2011; 60 (02) 1-64
  • 5 Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Prevention and control of seasonal influenza with vaccines. Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices-United States, 2013-2014. MMWR Recomm Rep 2013; 62 RR-07 1-43
  • 6 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Use of 13-valent pneumococcal conjugate vaccine and 23-valent pneumococcal polysaccharide vaccine for adults with immunocompromising conditions: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2012; 61 (40) 816-19

Autor correspondente:

Renata D’Alpino Peixoto
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Brasil   
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Fax: +55 11 3287-8177   

Publication History

Received: 15 February 2017

Accepted: 27 March 2017

Article published online:
07 March 2025

© 2017. The Author(s). This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)

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Bibliographical Record
Renata D'Alpino Peixoto. Imunização no paciente adulto com tumores sólidos -recomendações adaptadas à realidade brasileira. Brazilian Journal of Oncology 2017; 13: e-1792187.
DOI: 10.1055/s-0044-1792187
  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1 Instituto Nacional de Câncer (INCA). Gomes da Silva José Alencar. Estimativa 2016 [Internet]. [citado 2017 Jun 12]. Disponível em http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/
  • 2 Hibberd PL, Rubin RH. Approach to immunization in the immunosuppresses host. Infect Dis Clin North Am 1990; 4 (01) 123-42
  • 3 Rubin LG, Levin MJ, Ljungman P, Davies EG, Avery R, Tom-blyn M. et al. 2013 IDSA clinical practice guideline for vaccination of the immunocompromised host. Clin Infect Dis 2014; 58 (03) e44-100
  • 4 Baker C, Pickering L, Chilton L, Cieslak P, Ehresmann K, En-glund J. et al. General recommendations on immunization recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep 2011; 60 (02) 1-64
  • 5 Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Prevention and control of seasonal influenza with vaccines. Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices-United States, 2013-2014. MMWR Recomm Rep 2013; 62 RR-07 1-43
  • 6 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Use of 13-valent pneumococcal conjugate vaccine and 23-valent pneumococcal polysaccharide vaccine for adults with immunocompromising conditions: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2012; 61 (40) 816-19