CARTA AO EDITOR
De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são estimados para
o ano de 2017 mais de 420.000 casos novos de câncer, excluindo-se os tumores de pele
do tipo não-melanoma.([1]) Muitos pacientes oncológicos padecem de complicações infecciosas, especialmente
em virtude da imunossupressão pela própria neoplasia ou em decorrência do tratamento
oncológico.([2]) Apesar da maioria das infecções na atualidade não poderem ser prevenidas por vacinas,
algumas podem ser evitadas através de adequada imunização, contribuindo assim para
redução da morbi-mortalidade. No entanto, os pacientes oncológicos com imunosupressão
podem não montar uma resposta imune protetora à vacinação, assim como podem desenvolver
infecção caso a imunização seja feita com vacinas de vírus vivos ou de cepas atenuadas.
Desta maneira, o conhecimento sobre vacinação em pacientes com câncer é de fundamental
importância para todo médico que trata casos oncológicos.
Neste artigo, revisaremos os dados de vacinação em pacientes com câncer, excluindo
pacientes com neoplasias hematológicas e pós-transplante de medula óssea, adaptando-os
para a realidade brasileira.
De uma maneira geral, pacientes em tratamento com quimioterapia não devem receber
vacinas de vírus vivos ou de cepas atenuadas, uma vez que o paciente pode desenvolver
infecção pelo agente pelo fato de não estar imunologicamente competente.(3,4) São
exemplos de vacinas vivas a da febre amarela, tríplice viral (MMR, contra sarampo,
cachumba e rubéola), BCG, varicela e varicela zoster. Além disso, recomenda-se administrar
pelo menos 4 semanas antes do início da quimioterapia ou aguardar pelo menos 3 meses
do término da última sessão para que se possa imunizar pacientes oncológicos com este
tipo de vacina.([3],[4])
Já as vacinas de agentes mortos ou inativados são seguras, tais como contra Influenza
(H1N1), dTP (difteria, tétano e coqueluche), pneumocócica, meningocócica, Haemophilus
influenzae, HPV, hepatite B e hepatite A. No entanto, existe a possibilidade do paciente
em quimioterapia não conseguir montar uma resposta protetora a tempo, sendo que nestes
casos a vacinação pode ser ineficaz.([3],[4]) Desta maneira, não se pode considerar um indivíduo em quimioterapia protegido sem
que se verifique a presença de anticorpos protetores. Re-comenda-se administrar este
tipo de vacina com pelo menos 2 semanas antes do início da quimioterapia e, sempre
que possível, aguardar 3 meses do término da última sessão para que se possa imunizar
pacientes oncológicos com este tipo de vacina.([3],[4])
Diversas sociedades internacionais promoveram recomendações para imunização em pacientes
imunocomprometidos, incluindo pacientes com câncer. A
Infectious Diseases Society of America
(IDSA) desenvolveu em 2013 um guideline voltado para a prática clínica envolvendo
especialistas internacionais.
Vacinas recomendadas para pacientes oncológicos adultos com tumores sólidos
- Contra Influenza (inativada)
Deve ser dada anualmente devido à variação sazonal,’51 exceto para pacientes recebendo anticorpos anti-células B (rituximabe ou alemtuzumabe).
Além da imunização do paciente oncológico, recomenda-se também a vacinação de cuidadores,
familiares e profissionais de saúde que têm contato com tais pacientes.
- Contra pneumococo
Deve ser administrada antes que o paciente inicie a quimioterapia (pelo menos 2 semanas
de antecedência).’61 Para aqueles que nunca receberam esta imunização, recomenda-se a vacina pneumocócica
conjugada 13-valente com aplicação da vacina 23-valente pelo menos 8 semanas após.
- Contra tétano, difteria e coqueluche
Pelo menos um reforço de imunização contra difteria e tétano (dT) é recomendado a
todos os pacientes, preferencialmente antes do início da quimioterapia. Adultos que
não foram vacinados previamente com a pertussis acelular (contra coqueluche) devem
receber a vacina dTap, contendo toxina tetânica, toxina da difteria reduzida e pertussis
acelular.
As demais vacinas são indicadas apenas em circunstâncias especiais.
CONCLUSÃO
A disseminação do conhecimento sobre imunização no paciente com câncer é fundamental
para que os profissionais de saúde que lidam com esta população estejam preparados
para indicar ou não determinadas vacinas, contribuindo ainda mais para redução da
morbimortalidade nos pacientes oncológicos.
Bibliographical Record
Renata D'Alpino Peixoto. Imunização no paciente adulto com tumores sólidos -recomendações
adaptadas à realidade brasileira. Brazilian Journal of Oncology 2017; 13: e-1792187.
DOI: 10.1055/s-0044-1792187