Com grande interesse, li o artigo “O tamanho da glenosfera não importa na artroplastia
total reversa de ombro” publicado por Patel et al.[1] Estudos com foco nos resultados clínicos da artroplastia total reversa do ombro
(ATR) são sempre importantes devido ao crescimento linear e a “popularização” deste
procedimento. Dada a conclusão do estudo publicado (que foi a base para seu título),
é necessário escrutinar os detalhes da metodologia aplicada devido ao impacto e à
importância de suas repercussões. Alguns detalhes podem nos ajudar a entender os resultados
obtidos em tal pesquisa, em especial aqueles referentes à técnica cirúrgica, reabilitação
e cronologia da metodologia aplicada.
Técnica Cirúrgica e Reabilitação
Considerando a ampla gama de configurações disponíveis para a ATR (como inlay versus onlay, lateralização da glenosfera, ângulo colo-diáfise, inclinação, entre outras) e suas
respectivas influências nos resultados funcionais,[2]
[3] torna-se crucial compreender de maneira detalhada o tipo específico de implante
utilizado no estudo em análise. A identificação precisa da prótese utilizada é fundamental
para replicar os resultados, permitindo uma avaliação mais precisa da eficácia da
técnica aplicada.
A reinserção ou não do tendão subescapular na ATR é um fator amplamente discutido
e que tem impactos significativos, principalmente no que se refere à amplitude de
movimento. A elucidação desses dados no artigo fornecerá aos leitores uma base sólida
para avaliar as metodologias e os resultados do estudo.[4]
Quanto ao processo de reabilitação, faltam informações precisas sobre qual protocolo
foi adotado no pós-operatório, bem como o período de imobilização com tipoia, qual
tipo de tipoia foi utilizado e o momento de início da reabilitação fisioterapêutica.
Os protocolos de reabilitação após a ATR são frequentemente discutidos e têm um impacto
significativo no grau de mobilidade final.[5]
Cronologia
O estudo, desenvolvido no Departamento de Cirurgia Ortopédica, Icahn School of Medicine
at Mount Sinai, em Nova York, Estados Unidos, menciona que foram incluídos pacientes
submetidos à ATR desde 1987. No entanto, tal procedimento foi aprovado pela Food and Drug Administration 16 anos depois, em novembro de 2003 (Delta Shoulder K021478; DePuy Inc., Raynham,
MA, EUA).[6] Acredito que esclarecer essa discrepância cronológica é essencial para uma compreensão
adequada da metodologia do estudo.
A amplitude de movimento – o aspecto mais importante do estudo em questão – foi medida
e dividida entre pré- e pós-operatória. No entanto, o estudo não deixa claro em que
ponto a medição pós-operatória foi feita. A determinação precisa desse intervalo é
crucial, pois influencia diretamente a interpretação dos resultados e a validade do
estudo.
O escore do Simple Shoulder Test (SST) foi aplicado para avaliação pré- e pós-operatória
dos pacientes. Entretanto, há uma lacuna metodológica quanto à coleta de dados de
pacientes submetidos à cirurgia antes de 1993, ano em que o SST foi formalmente descrito.[7]
Em suma, é imprescindível ressaltar que o aprofundamento detalhado das informações
apresentadas é fundamental, tendo em vista a relevância substancial dos achados relatados
neste estudo e o significativo potencial de impacto desta publicação no campo científico.
Bibliographical Record
João Artur Bonadiman. Carta ao editor sobre o artigo: O tamanho da glenosfera não
importa na artroplastia total reversa de ombro. Rev Bras Ortop. 2024;59(2):254–259.
Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00441800943.
DOI: 10.1055/s-0044-1800943