Palavras-chave
consolidação da fratura - estrogênios - nanotecnologia - osteoporose
Keywords
estrogens - fracture healing - nanotechnology - osteoporosis
Introdução
As fraturas osteoporóticas representam um problema significativo de saúde pública
e sua incidência aumenta a cada ano.[1]
[2]
[3] A maioria das estratégias terapêuticas se concentra na prevenção dessas lesões por
meio do aumento da massa óssea, mas há menor ênfase no processo de consolidação do
osso osteoporótico.[4] Além disso, a consolidação de fraturas osteoporóticas representa um desafio significativo
para cirurgiões ortopédicos.[5]
A deficiência de estrogênio, particularmente após a menopausa, é um importante fator
de risco para a osteoporose. Este hormônio tem efeitos anabólicos e anticatabólicos,
influenciando osteoblastos e osteoclastos no processo de remodelação óssea.[6]
[7]
[8] Além disso, ele é crucial para a regulação e formação do tecido cartilaginoso, afetando
tanto a cartilagem de crescimento quanto as superfícies articulares.[9]
Embora o papel do estrogênio no metabolismo ósseo e seu efeito protetor na densidade
mineral óssea sejam bem conhecidos,[10] seu impacto na consolidação de fraturas ainda é obscuro. Poucos estudos avaliaram
especificamente o papel desse hormônio no processo de cicatrização de fraturas osteoporóticas
após a menopausa.[11]
[12]
[13] A redução dos níveis de estrogênio durante a menopausa contribui diretamente para
um desequilíbrio na neoformação óssea, que pode prejudicar o processo de consolidação
óssea em pacientes osteoporóticas.[14]
[15] Para atenuar esses efeitos, a aplicação tópica é vantajosa, pois evita o metabolismo
hepático de primeira passagem, reduzindo, assim, a concentração necessária e minimizando
os efeitos colaterais.[16]
Os avanços na nanotecnologia permitem a manipulação de partículas para criação de
veículos de transporte de medicamentos que visam órgãos específicos com segurança,
melhorando a eficácia do transporte.[17] Os nanomateriais têm estruturas únicas com tamanho, forma e propriedades de superfície
ajustáveis que impactam significativamente a absorção celular.[18] Em sistemas biológicos, partículas menores podem ser ideais para a absorção celular
de compostos ativos.[19]
[20] Os nanossistemas podem ser benéficos na administração de medicamentos, melhorando
a biodisponibilidade de ativos pouco solúveis, reduzindo os efeitos colaterais, liberando
o fármaco de forma controlada e permitindo a administração de doses menores.[21]
Neste estudo, avaliamos radiográfica e histologicamente o papel do estrogênio tópico
aplicado à incisão cutânea, administrado tanto de forma convencional quanto por meio
de nanocápsulas, no processo de consolidação da fratura femoral em ratas osteoporóticas
e analisamos os efeitos sistêmicos desse hormônio usando o útero como órgão sentinela.
Materiais e Métodos
Desenvolvimento dos Produtos Farmacêuticos
Os fármacos foram desenvolvidos no Laboratório de Produção e Desenvolvimento de Medicamentos.
Tanto as nanocápsulas quanto a formulação convencional apresentavam concentração de
17-β estradiol de 0,06%.
Obtenção das Nanocápsulas Poliméricas Contendo 17-β Estradiol
As suspensões de nanocápsulas foram obtidas usando PCL (100 mg) dissolvido em acetona
(30 mL) na presença de Span 80 (Croda International plc, Snaith, Reino Unido) com
0,077 g, 17-β estradiol (50 mg) e triglicerídeos de cadeia média (0,33 g). A solução
foi agitada por 10 minutos. A fase aquosa foi preparada usando Tween 80 (Croda International
plc) com 0,077 g e água destilada (53 mL). Em seguida, a fase orgânica foi lentamente
adicionada à fase aquosa sob agitação magnética constante a 40°C. A nanoemulsão resultante
foi agitada por 10 minutos. Em seguida, o solvente orgânico foi removido por evaporação
sob pressão reduzida a 40°C, resultando em uma amostra concentrada (10 mL).
Microscopia Eletrônica de Varredura por Canhão de Emissão de Campo (FEG-SEM)
A avaliação morfológica e de superfície da nanopartícula e da forma convencional foi
realizada no microscópio eletrônico de varredura de canhão de emissão de campo modelo
Mira 3 (TESCAN, Brno, República Tcheca). As amostras foram metalizadas com ouro usando
um IC-50 Ion Coater (SHIMADZU, Kyoto, Japão). Micrografias eletrônicas foram obtidas
usando uma tensão de aceleração de 15 kV e software específico (Electron Optical Design, Brno, República Tcheca).
Dispersão Dinâmica da Luz e Microeletroforese por Doppler a Laser
O tamanho de partícula e o potencial zeta das nanopartículas (E2, PCLN e ZnON) foram
determinados com instrumento Zetasizer Nano série ZS90 (Malvern Instruments, Worcestershire,
Reino Unido) após preparação da amostra (1:500 V/V) em água ultrapura. As análises
foram realizadas em triplicata.
Modelo Animal
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Uso de Animais (CEUA) sob o número
de processo 0122368/2019. Todas as diretrizes institucionais e nacionais aplicáveis
para o cuidado e uso de animais foram seguidas.
Foram 45 ratas Wistar fêmeas divididas em 3 grupos. O grupo 1 (G1), controle, tinha
15 ratas; o grupo 2 (G2) foi composto por 15 ratas tratadas com estrogênio em formulação
convencional em uma concentração de 0,06% de 17 β-estradiol e o grupo 3 (G3) consistiu
em 15 ratas tratadas com a mesma concentração de 17 β-estradiol, mas formulado como
nanocápsulas.
Técnica Anestésica
Nos procedimentos de ovariectomia e produção de fratura, os animais foram anestesiados
com xilazina (10 mg/kg) e cetamina (90 mg/kg). Após a cirurgia, receberam uma dose
única de citrato de fentanila (0,05 mg/kg) para controle da dor, seguido de dipirona
(200 mg/kg) a cada 6 horas durante os primeiros 7 dias. Não foram utilizados anti-inflamatórios,
para evitar uma possível interferência na avaliação da consolidação óssea. A dor pós-operatória
foi monitorada pela avaliação do consumo de alimentos e água, bem como pela observação
de mudanças comportamentais.
Produção da Fratura
Após 40 semanas da ovariectomia, as ratas foram anestesiadas com a mesma técnica e
submetidas a uma fratura do fêmur direito. A tricotomia e a antissepsia foram realizadas
com iodo-povidona tópica (PVPI). Uma incisão de 2 cm foi feita na coxa lateral no
membro posterior direito e estendida até o joelho. A dissecção foi realizada por planos
e a patela foi retraída para expor os côndilos laterais. Um fio de Kirschner A de
1 mm de diâmetro foi inserido através dos côndilos até o trocanter maior e removido
no dia 15. Após a fixação intramedular do fêmur, o músculo vasto lateral foi retraído,
expondo a diáfise óssea. Uma fratura transversal foi feita na diáfise femoral usando
um osteótomo de 5 mm. Após o procedimento, a fáscia muscular foi suturada com fio
de poligalactina 2 a 0 absorvível e a pele foi suturada com fio de mononylon 3 a 0.
Radiografias pós-operatórias imediatas confirmaram a fratura.
Aplicação de Estrogênio
Os grupos 2 e 3 receberam aplicação diária de estrogênio tópico de acordo com seus
respectivos grupos (pasta ou nanocápsulas na concentração de 0,06%) por 14 dias ao
redor da ferida operatória (área já tricotomizada).
Após a aplicação do medicamento, cada grupo foi subdividido em 15 dias pós-fratura
e 30 dias pós-fratura para eutanásia. Em seguida, os fêmures foram removidos e limpos
para análise radiográfica e histológica.
Avaliação Radiográfica
Um equipamento Lotus 630HF foi usado para obter radiografias de ambos os fêmures.
O software VXvue 1.0.2.6pi (Viewwoks Co. Ltd., Anyang, South Korea) mediu o calo ósseo em seu
maior diâmetro e o istmo femoral do fêmur contralateral. A medida absoluta do calo
ósseo e a razão entre o calo e o istmo contralateral foram avaliadas.
Análise Histológica
Os ossos, limpos de tecido muscular, foram armazenados em formaldeído a 10% e posteriormente
descalcificados em solução de ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) a 10%, trocada
semanalmente por 2 meses. O segmento fraturado foi incluído em parafina, cortado longitudinalmente
em espessura de 5 µm e corado com hematoxilina-eosina (HE). Após análise e seleção,
os cortes histológicos foram fotografados com um microscópio Olympus DP72 (Evident
Corp., Shinjuku-ku, Tóquio, Japão) utilizando o software cellSens Standard (Evident Corp.). As amostras foram submetidas às análises qualitativas
e quantitativas. A escala numérica proposta por Huo et al.[22] foi aplicada de acordo com o estágio de consolidação observado em cada lâmina.
Tecido Uterino
Após a eutanásia, todos os úteros foram coletados e fixados em formalina a 10%. O
processamento histológico foi realizado e a amostra foi seccionada em micrótomo com
espessura de 3 µm e corada com hematoxilina-rosina (HE). Os cortes histológicos foram
fotografados usando um microscópio Olympus AX70 (Evident Corp.) com 20x de aumento,
usando o programa T capture. A espessura das camadas do perimétrio, miométrio e endométrio
foi medida com o software ImageJ após padronização da distância conhecida. A média e o desvio-padrão foram
calculados para análise estatística subsequente.
Análise Estatística
A avaliação estatística foi realizada no Statistical Package Social Sciences (SPSS,
IBM Corp., Armonk, NY, USA) versão 20.0 por meio de análise de variância (ANOVA) para
comparações múltiplas, seguida do teste de Tukey, com intervalo de confiança (IC)
de 95% (p ≤ 0,05).
Resultados
Processo de Produção das Nanocápsulas
O tamanho médio das nanopartículas de estrogênio foi de 191,96 ± 10,37 nm. A caracterização
por microscopia eletrônica de varredura (MEV) é uma técnica que permite avaliar a
influência das condições de síntese na morfologia das nanopartículas. Os resultados
obtidos para estrogênio na forma convencional apresentaram partes grandes e irregulares.
A MEV das nanopartículas de estradiol revelou formato esférico com superfície homogênea.
Determinação da Concentração de Fármaco e Eficiência do Encapsulamento
A determinação da concentração do fármaco incorporado nas nanocápsulas e a eficiência
de encapsulamento foram realizadas em triplicata utilizando o método previamente validado.
As nanocápsulas obtidas pelo método de precipitação do polímero pré-formado apresentaram
rendimentos superiores a 99%.
Avaliação Radiográfica
Aos 15 dias, todos os animais já apresentavam sinais de formação de calo ósseo. Após
30 dias, todas as fraturas estavam radiologicamente consolidadas. As larguras do calo
ósseo são mostradas na [Tabela 1].
Tabela 1
Média e desvio-padrão da largura do calo ósseo e da razão entre a largura do calo
e do istmo contralateral aos 15 e 30 dias pós-fratura (mm)
|
Dia 15
|
Dia 30
|
Largura
|
Razão
|
Largura
|
Razão
|
G1
|
7,18 ± 0,4a
|
2,04 ± 0,19a
|
8,3 ± 0,97a
|
2,4 ± 0,36a
|
G2
|
8,37 ± 1,4ab
|
2,43 ± 0,47ab
|
8,51 ± 0,9a
|
2,49 ± 0,2a
|
G3
|
8,75 ± 0,77b
|
2,54 ± 0,22b
|
8,53 ± 1,0a
|
2,56 ± 0,27a
|
Abreviações: G1, grupo 1; G2, grupo 2; G3, grupo 3 (tratamento com nanocápsulas de estrogênio).
Notas: Os resultados são exibidos em mediana ± desvio padrão. Letras diferentes nas colunas
denotam diferença significativa, p < 0,05.
Na avaliação realizada 15 dias após a fratura, os animais do G3 apresentaram calo
ósseo maior que os do G1 (p < 0,05), enquanto os animais do G2 apresentaram calo ósseo estatisticamente igual
ao G1 e G3, como demonstrado na [Fig. 1].
Fig. 1 Avaliação radiográfica e histológica da consolidação da fratura femoral no G1 (controle),
G2 (tratamento com estrogênio convencional) e G3 (tratamento com nanocápsulas de estrogênio)
15 dias após a fratura. (Acima) As radiografias mostram a formação de calo em G1,
G2 e G3. (Abaixo) Cortes histológicos da formação de calo em cada grupo, corados com
hematoxilina-eosina (aumento, 20x).
Os resultados da razão de tamanho mostram o mesmo resultado estatístico que o tamanho
do calo ósseo, indicando a consistência dos achados ([Tabela 1]). Aos 30 dias, não foi observada diferença significativa quanto ao tamanho e razão
dos calos ósseos entre os grupos ([Fig. 2]).
Fig. 2 Avaliação radiográfica e histológica da consolidação da fratura femoral no G1 (controle),
G2 (tratamento com estrogênio convencional) e G3 (tratamento com nanocápsulas de estrogênio)
30 dias após a fratura. (Acima) Radiografias mostrando fraturas consolidadas em G1,
G2 e G3. (Abaixo) Cortes histológicos corados com hematoxilina-eosina, demonstrando
formação de tecido ósseo e G3 apresentando maturação mais avançada do calo em comparação
a G1 e G2 (aumento, 20x).
Avaliação Histológica
A análise das lâminas revelou que. aos 15 dias ([Fig. 1]), todas as ratas apresentavam predomínio de tecido cartilaginoso, sem diferença
estatística entre os grupos ([Tabela 2]). Aos 30 dias ([Fig. 2]), G3 apresentou predomínio de tecido ósseo. enquanto os demais grupos ainda apresentavam
maior quantidade de tecido cartilaginoso (p < 0,05).
Tabela 2
Avaliação do escore histológico da maturação do calo ósseo proposto por Hou et al.[22] nos dias 15 e 30
|
Dia 15
|
Dia 30
|
G1
|
5,28 ± 0,75a
|
7 ± 0,78a
|
G2
|
5,5 ± 1,2a
|
6,5 ± 0,79a
|
G3
|
5,8 ± 1,31a
|
7,83 ± 0,71b
|
Abreviações: G1, grupo 1; G2, grupo 2; G3, grupo 3 (tratamento com nanocápsulas de estrogênio).
Notas: Os resultados são exibidos em mediana ± desvio padrão. Letras diferentes nas colunas
denotam diferença significativa, p < 0,05.
Na avaliação do tecido uterino, observou-se que não houve diferença entre o G2 e G3
aos 15 dias, e os resultados foram significativamente maiores que os do G1 tanto no
endométrio quanto no miométrio. Ao comparar os grupos aos 30 dias, G3 apresentou redução
da espessura endometrial em relação a G2. Os resultados das medidas da espessura endometrial
e miometrial são mostradas na [Tabela 3]. Durante todo o experimento, não houve perdas amostrais.
Tabela 3
Avaliação da espessura do tecido uterino nos dias 15 e 30 (μm)
|
Miométrio
|
Endométrio
|
Dia 15
|
Dia 30
|
Dia 15
|
Dia 30
|
G1
|
382.096 ± 75.017,84a
|
298.256 ± 53.430a
|
427.311 ± 97.735a
|
394.883 ± 79.977a
|
G2
|
458.528 ± 105.627,8b
|
440.251 ± 58.007b
|
783.537 ± 192.171b
|
623.729 ± 101.592b
|
G3
|
697.511 ± 98.439,72b
|
390.452 ± 76.422b
|
739.547 ± 131.672b
|
510.073 ± 54.705,11c
|
Abreviações: G1, grupo 1; G2, grupo 2; G3, grupo 3. Notas: Os resultados são exibidos em mediana ± desvio padrão. Letras diferentes nas colunas
denotam diferença significativa, p < 0,05.
Discussão
A ooforectomia realizada neste experimento foi suficiente para produzir um modelo
de osteoporose e, consequentemente. alterar a formação do calo ósseo. Lill et al.[4] indicaram que esta doença diminui a formação de calo ósseo nos estágios iniciais
de consolidação e a mineralização do calo nos estágios finais, com ratos osteoporóticos
exibindo um calo 40% menor do que o grupo controle.
O estrogênio aumenta a diferenciação osteogênica das células-tronco mesenquimais e
a maturação dos osteoblastos, favorecendo a formação óssea. Além disso, esse hormônio
inibe a formação de osteoclastos e induz a apoptose dos osteoclastos, limitando a
reabsorção óssea. Os receptores de estrogênio são altamente expressos em osteoblastos
e osteócitos, gerando efeitos protetores no osso.[23]
A deficiência de estrogênio altera a expressão dos genes alvo do estrogênio, induzindo
a expressão de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina (IL)-1, IL-6 e fator
de necrose tumoral nos estágios iniciais do processo de consolidação, reduzindo a
capacidade osteogênica e retardando a formação de calos.[24] Uma das ações do estrogênio é aumentar a liberação de fator de transformação do
crescimento beta (TGF-β), o que estimula a produção de colágeno e proteoglicanos pelas
células mesenquimais e osteoblastos, bem como a produção de fibronectina no tecido
ósseo.[25]
Beil et al.[7] analisaram o efeito do estrogênio em fraturas em ratos osteoporóticos e observaram
aumento na formação de condrócitos nos estágios iniciais do processo de consolidação
em animais tratados com pérolas de estrogênio, demonstrando que esse hormônio estimula
a formação condral. No presente estudo, a administração deste hormônio na forma de
nanocápsulas induziu maior produção de calo ósseo em 15 dias, como mostram as medidas.
O estrogênio regula positivamente a função e a maturação dos condrócitos, influenciando
a superfície articular e as epífises da placa de crescimento.[25] Esta observação, apoiada por Richmond et al.,[26] é reforçada pelo achado de que o tamanho do calo ósseo foi significativamente maior
nos grupos tratados com este hormônio, com G2 e G3 sendo iguais, mas apresentando
um calo maior que o grupo controle.
Sabe-se que quanto mais cedo a fase inflamatória for superada e o processo de formação
condral começar, mais cedo esse tecido irá se mineralizar e a fratura será reparada.[6] O papel do estrogênio se estende além da estimulação da condrogênese nos estágios
iniciais, pois também influencia a consolidação do periósteo nos estágios finais da
formação do calo. Beil et al.[7] observam altos níveis de calceína, um marcador de atividade osteoblástica, em ratas
osteoporóticas tratadas com esse hormônio. Embora o presente estudo não tenha avaliado
este marcador, podemos inferir que o resultado macroscópico encontrado se deve à melhor
atividade celular influenciada pelo estrogênio.
A maior formação de calo ósseo observada no G2 e G3 demonstrou uma aceleração do processo
atribuída ao estrogênio, com resultado estatisticamente melhor no grupo tratado com
nanocápsulas. O uso de nanocápsulas melhora a ação local em 15 dias, pois o grupo
tratado com nanocápsulas apresentou maior calo ósseo. Segundo Salimi et al.,[27] o uso de estrogênio na forma de nanopartículas pode permitir o controle da taxa
de liberação do ingrediente ativo, prolongando o efeito farmacológico no sítio da
lesão.
Aos 30 dias, a avaliação radiográfica não mostrou diferença significativa no tamanho
do calo ósseo entre os grupos (p > 0,05). Apesar de G3 ter um calo ósseo maior aos 15 dias, não houve diferenças na
maturação microscópica do calo entre os grupos. A avaliação histológica aos 30 dias
revelou melhor maturação no G3. Essa maior qualidade é atribuída à estimulação precoce
de células osteocondrogênicas pelas nanocápsulas de estrogênio.[28]
O G3 apresentou melhor formação de calo ósseo em comparação aos outros grupos, com
calo maior em 15 dias e melhor qualidade em 30 dias, atribuído à melhor ação e permeação
do fármaco. Kaur et al.[29] observaram maior permeabilidade com formulações de nanocápsulas em ratos osteoporóticos,
apoiando nossos achados de que elas melhoram significativamente a difusão do fármaco
para o sítio da fratura em comparação aos métodos convencionais.
A avaliação do útero como órgão sentinela em nosso estudo monitorou o efeito dos tratamentos
no tecido endometrial. Aos 15 dias, ambos apresentaram aumento do tecido endometrial
e miometrial em comparação ao grupo não tratado. Entretanto, aos 30 dias, o tamanho
endometrial em G3 foi menor em comparação ao G2. Essa observação reforça os resultados
encontrados no processo de formação do calo ósseo. Os fármacos nanoencapsulados atingem
melhor o sítio de ação, deixando uma quantidade menor para efeitos sistêmicos. Silva
et al.[30] não observaram efeitos sistêmicos do tratamento tópico com estrogênio, discordando
do que foi encontrado em nosso estudo.
Limitações do Estudo
Este estudo encontrou várias limitações. Primeiro, não avaliamos a concentração efetiva
mínima de nanocápsulas de estrogênio especificamente adaptadas para esta aplicação.
Além disso, embora nossa investigação tenha se concentrado principalmente nos efeitos
locais do hormônio na cicatrização óssea e suas possíveis implicações sistêmicas no
tecido uterino, reconhecemos que a avaliação de outras implicações sistêmicas além
do tecido uterino poderia oferecer uma compreensão mais abrangente de seu impacto
geral. Por fim, não exploramos concentrações alternativas na administração de estrogênio,
o que poderia revelar efeitos dependentes da dose e dar outros caminhos para otimização
em estudos futuros.
Conclusão
Considerando os resultados deste estudo, o estrogênio acelerou o processo de consolidação
da fratura em ratas osteoporóticas, principalmente pela aceleração da fase condral
e culminando em melhor matriz óssea em 30 dias. A opção de estrogênio em nanocápsulas
obteve um resultado melhor do que a administração convencional. É importante ressaltar
que os efeitos sistêmicos, avaliados por meio da análise do tecido uterino, revelaram
uma redução significativa na espessura endometrial no grupo tratado com nanocápsulas
em comparação aos tratados com estrogênio convencional, indicando a possibilidade
de menos efeitos colaterais sistêmicos.
Parece haver espaço para o uso de estrogênio local em nanocápsulas para o tratamento
de fraturas osteoporóticas após a menopausa. Uma concentração desse hormônio no sítio
da fratura estimula e acelera o processo de formação do calo ósseo, evitando, assim,
complicações inerentes a esse tipo de fratura. A dose administrada e a redução das
repercussões sistêmicas devem ser analisadas em maior profundidade em estudos subsequentes.
Bibliographical Record
Dalton Berri, Elcio Machinski, Conrado Auer Trentini, Paulo Vitor Farago, Adriana
Yuriko Koga, Leandro Cavalcante Lipinski. A aplicação tópica de nanocápsulas de estrogênio
na incisão cutânea melhora a Consolidação de fraturas em ratas osteoporóticas. Rev
Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00451809513.
DOI: 10.1055/s-0045-1809513