Palavras-chave denosumabe - fraturas proximais do fêmur - neoplasias ósseas - quadril - tumores de
células gigantes
Keywords bone neoplasms - denosumab - giant cell tumor - hip - proximal femoral fractures
Introdução
O tumor de células gigantes (TCG) é um tumor benigno, mas localmente agressivo, da
extremidade de um osso longo. É caracterizado pelo crescimento de células estromais
mononucleares e pela presença de muitas células gigantes multinucleadas em distribuição
homogênea.[1 ] O fêmur distal, a tíbia proximal e o rádio distal são os sítios mais frequentes
de TCGs na região metafisária-epifisária.[1 ] O TCG do fêmur proximal é uma doença rara, com maior morbidade devido a distúrbios
na marcha, alterações de estilo de vida, risco de fraturas patológicas e limitações
nas atividades diárias. Além disso, a doença ocorre em uma população mais jovem, com
maior risco a ter uma longa qualidade de vida ruim. Portanto, o TCG do fêmur proximal
merece atenção especial. O TCG tem uma ligeira prevalência no sexo feminino e é mais
frequente entre a terceira e a quarta décadas de vida.[2 ] No sistema de classificação de Campanacci, o grau III é atribuído ao TCG com margens
mal definidas, perda óssea cortical e invasão dos tecidos moles circundantes.[3 ]
O denosumabe é o único medicamento aprovado pela Food and Drug Administration (FDA)
dos Estados Unidos para o tratamento de TCG.[4 ] O denosumabe diminui o número de células gigantes multinucleadas na matriz óssea
e acelera o desenvolvimento da borda madura ao redor do tumor ao bloquear o ativador
do receptor da via do fator nuclear-κB (RANK)/RANK-ligante (RANKL). O denosumabe foi
empregado como um método de terapia neoadjuvante em estudos anteriores que, entretanto,
tiveram um número substancialmente maior de ciclos do medicamento no período pré-operatório.[5 ]
Este foi o primeiro estudo que visou investigar os resultados funcionais e oncológicos
do denosumabe neoadjuvante no TCG de grau III de Campanacci do fêmur proximal em associação
à cirurgia. Os estudos anteriores sobre TCG do fêmur proximal focaram principalmente
na ressecção e artroplastia do fêmur proximal com endoprótese, prótese de Wagner,
artroplastia total do quadril e hemiartroplastia do quadril.[6 ]
[7 ] Esses estudos não consideraram a curetagem intralesional como opção, exceto por
Wijsbek et al., que realizaram este procedimento em 10 pacientes, mas não usaram denosumabe
neoadjuvante.[8 ] Considerando a idade média da população, uma abordagem de resgate articular seria
mais apropriada do que o uso de próteses, que têm duração limitada e, após certo tempo,
podem sofrer afrouxamento.[9 ] Todos os estudos realizados até o momento avaliaram os resultados oncológicos pelo
escore da Musculoskeletal Tumor Society (MSTS) sem utilizar outras pontuações de quadril
para avaliar o desfecho funcional e a qualidade de vida após a cirurgia.
Materiais e Métodos
Delineamento do Estudo
Os dados deste estudo foram adquiridos retrospectivamente dos arquivos de prontuários
dos pacientes tratados entre janeiro de 2014 e dezembro de 2019 em um hospital terciário.
Os dados dos pacientes incluíram nome, idade, diagnóstico com radiografias e laudos
de biópsia, osso acometido, plano de tratamento, estado no último acompanhamento e
contato para correspondência. Os pacientes foram contatados individualmente pelo segundo
autor para assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido antes do registro
no estudo, que seguiu a Declaração de Helsinque. O trabalho recebeu a aprovação de
nosso Comitê de Ética sob número CHK/DMC/Ortho/Dated 11–22/001.
Critérios de Inclusão e Exclusão
Os pacientes com diagnóstico de TCG de grau III de Campanacci do fêmur proximal confirmado
por imagem e submetidos à cirurgia foram incluídos no estudo. O TCG do fêmur proximal
incluiu o TCG de marcos anatômicos da cabeça, colo e áreas trocantéricas e subtrocantéricas.
A população do estudo foi estratificada em duas coortes de acordo com a administração
de injeções subcutâneas pré-operatórias de denosumabe em dose de 120 mg, uma vez por
semana, durante 4 semanas. Todos os pacientes submetidos à cirurgia, mas que não receberam
denosumabe, foram estratificados no grupo sem denosumabe, enquanto aqueles que foram
submetidos à cirurgia e que receberam denosumabe foram incluídos no grupo com denosumabe.
A exclusão foi feita com base na imaturidade esquelética e ausência de idade nos prontuários.
Pacientes com TCG maligno primário ou secundário, TCG de grau I ou II, acompanhamento
por menos de 12 meses, não conformidade com a reabilitação pós-operatória, que receberam
menos de 4 doses de denosumabe, bem como aqueles submetidos à curetagem prévia do
TCG ou que não deram seu consentimento também foram excluídos do estudo.
Técnica Cirúrgica
A escolha de um dos dois métodos a seguir foi feita após discussão na reunião pré-operatória
da equipe multidisciplinar do conselho de tumores, que reavaliou os TCGs após quatro
doses de denosumabe.
Curetagem intralesional com ressecção hemicortical
Após consentimento e aconselhamento e sob medidas assépticas, por meio de abordagem
lateral, a pele, o tecido subcutâneo e a fáscia foram incisados e o tumor foi localizado.
Sob o braço C, uma janela cortical foi feita por ressecção das margens, incluindo
a parede lateral do colo e o trocanter maior. O tumor residual na parede medial foi
curetado e a broca foi usada para remoção do tumor restante e nivelamento da superfície.
Com a superfície lisa e livre de tumor, cauterização e peróxido de hidrogênio foram
usados para queima de micropartículas do tumor. Um parafuso de quadril dinâmico foi
colocado e o defeito foi reconstruído com cimento ósseo. Os orifícios foram criados
no cimento ósseo e os abdutores foram reinseridos. A [Fig. 1 ] mostra as técnicas cirúrgicas.
Fig. 1 Métodos cirúrgicos. (A ) Radiografia pré-operatória após terapia com denosumabe. (B ) Incisão em formato de barco. (C ) Após a criação de janela cortical e a curetagem em alta velocidade. (D ) Preenchimento com aloenxerto ósseo, cimento e parafuso dinâmico de quadril (DHS).
(E ) A radiografia pós-operatória mostra o DHS e o aloenxerto com cimento ósseo.
Depois da lavagem final, a ferida foi fechada em planos. O movimento do quadril, assim
que possível, foi encorajado no pós-operatório, e a sustentação de peso foi retomada
assim que os pacientes conseguissem tolerá-la. Os pontos foram removidos após 2 semanas
e os pacientes foram acompanhados a cada 15 dias por 3 meses, depois uma vez ao mês
por 6 meses, a cada 3 meses por 2 anos e, então, duas vezes ao ano. Em cada consulta,
os movimentos do quadril foram avaliados e documentados em gráficos de acompanhamento.
Ressecção e Artroplastia de Quadril
Sob anestesia geral, com consentimento do paciente e medidas antissépticas, uma incisão
cutânea lateral longitudinal em posição lateral foi feita após a avaliação das radiografias.
Após a incisão pelo tecido subcutâneo e fáscia, os músculos foram refletidos. Depois,
as medidas foram obtidas e o fêmur foi seccionado a 2 a 3 cm da margem do tumor. A
ressecção de margem ampla do TCG foi realizada e o espécime foi obtido para histopatologia
das margens. Após a ressecção, o sítio foi avaliado quanto à adequação da prótese
de Wagner.
A hemiartroplastia bipolar foi realizada em pacientes com fratura patológica do colo
do fêmur ou lesão do calcar femoral.
Utilizamos a prótese de Wagner com cabeça bipolar em tumores que se estendiam para
a área intertrocantérica ou subtrocantérica sem acometimento da cartilagem do acetábulo.
A artroplastia total do quadril com prótese de Wagner foi usada em pacientes com lesões
na cartilagem e/ou no calcar femoral.
O sítio cirúrgico foi lavado e a ferida fechada em planos. Curativos estéreis foram
aplicados em dias alternados e as suturas foram retiradas após 2 semanas. Os pacientes
foram acompanhados a cada 15 dias por 3 meses, depois uma vez ao mês por 6 meses,
a cada 3 meses por 2 anos e, então, duas vezes ao ano. Em cada consulta, os movimentos
do quadril foram avaliados e documentados em gráficos de acompanhamento. A [Fig. 2 ] mostra as técnicas cirúrgicas.
Fig. 2 Métodos cirúrgicos. (A ) Radiografia pré-operatória após terapia com denosumabe. (B ) Incisão em formato de barco. (C ) Incisão de pele, tecido subcutâneo e fáscia para exposição do tumor. (D ) Espécime excisado do fêmur proximal. (E ) Inserção de prótese de Wagner e artroplastia total do quadril.
Análise Comparativa de Desfechos
Nosso resultado primário foi composto pelos desfechos pós-operatórios da articulação
do quadril, avaliados em 6 semanas, 6 meses e 12 meses de acompanhamento pelo escore
de quadril de Harris (Harris Hip Score, HSS) e o escore revisto da MSTS. De acordo
com o HSS, de 0 a 25% indica resultado ruim, de 26 a 50%, resultado razoável, de 51
a 75%, resultado bom e de 76 a 100%, resultado excelente, e de acordo com o escore
revisto da MSTS para o membro inferior, de 0 a 7 significa resultado ruim, de 8 a
14, resultado razoável, de 15 a 22, resultado bom e, acima de 22, resultado excelente,
após 6 semanas, 6 meses e 12 meses de acompanhamento; o resultado secundário foi a
incidência de recidiva.
Análise Estatística
Todas as estatísticas descritivas são representadas como médias e desvios-padrão para
variáveis contínuas. Variáveis categóricas são mostradas como frequências e porcentagens.
As características basais dos dois grupos foram comparadas pelo teste t não pareado (variáveis contínuas) ou pelo teste exato de Fisher para proporções de
duas variáveis categóricas, que é mais adequado para estudos com amostra de menor
tamanho e IC de 95%. Os dados foram analisados usando o software IBM SPSS Statistics
for Windows (IBM Corporation), versão 22.0. O HSS e o escore MSTS são variáveis contínuas,
enquanto a incidência de recidiva e complicações são variáveis categóricas.
Resultados
Nenhuma das características do estudo diferiu significativamente entre os grupos com
e sem denosumabe, incluindo a idade média (28,6 ± 5,85 versus 29,5 ± 2,96, respectivamente; p = 0,81), sexo (4:6 [40%:60%] versus 0:8 [0%:100%], respectivamente; p = 0,09), fraturas patológicas (8 [80%] versus 4 [50%], respectivamente; p = 0,32), recidiva do TCG (2 [20%] versus 0 [0%], respectivamente; p = 0,47) ou acompanhamento médio em meses (21,62 ± 5,13 versus 26,82 ± 9,48, respectivamente; p = 0,38). As partes acometidas do fêmur proximal nos grupos com e sem denosumabe são
cabeça (0 [0%] versus 0 [0%], respectivamente; p = 1), colo (2 [20%] versus 2 [25%], respectivamente; p = 1), área intertrocantérica (4 [40%] versus 2 [25%], respectivamente; p = 0,64) e área subtrocantérica (4 [40%] versus 4 [50%], respectivamente; p = 1). Todos os pacientes no grupo sem denosumabe foram submetidos à ressecção e artroplastia.
No grupo com denosumabe, 2 (20%) pacientes foram submetidos à curetagem e os demais
à ressecção e artroplastia. A curetagem intralesional (20% versus 0%; p = 0,48) e a ressecção e artroplastia (80% versus 100%; p = 0,48) foram estatisticamente semelhantes entre os grupos com e sem denosumabe,
respectivamente. Os resultados são mostrados na [Tabela 1 ], e os critérios de inclusão e exclusão de pacientes são mostrados em um fluxograma
na [Fig. 3 ].
Fig. 3 Fluxograma de inclusão/exclusão de pacientes.
Tabela 1
Características basais para comparação entre os grupos com e sem denosumabe
Com denosumabe
Sem denosumabe
Valor de p
Número de pacientes
10
8
−
Idade em anos: média ± desvio padrão
28,6 ± 5,85
29,5 ± 2,96
0,81
Sexo: n (%)
Masculino
4 (40%)
0 (0%)
0,09
Feminino
6 (60%)
8 (100%)
Fraturas patológicas: n (%)
8 (80%)
4 (50%)
0,32
Acompanhamento (meses): média ± desvio padrão
21,62 ± 5,13)
26,82 ± 9,48)
0,38
Procedimento cirúrgico: n (%)
Curetagem intralesional com ressecção hemicortical
2 (20%)
0 (0%)
0,48
Ressecção e artroplastia de quadril
8 (80%)
8 (100%)
Recidiva de tumor de células gigantes: n (%)
2 (20%)
0 (0%)
0,47
Parte acometida do fêmur proximal: n (%)
Cabeça
0 (0%)
0 (0%)
1
Colo
2 (20%)
2 (25%)
1
Intertrocantérica
4 (40%)
2 (25%)
0,64
Subtrocantérica
4 (40%)
4 (50%)
1
Escore MSTS
Os escores médios no MSTS nos grupos com e sem denosumabe às 6 semanas (24 ± 6,5 versus 20,0 ± 6,0, respectivamente; p = 0,04) e aos 6 meses (26,0 ± 5 versus 23,0 ± 0,67, respectivamente; p = 0,04) após a cirurgia apresentaram diferenças estatisticamente significativas.
Às 6 semanas, os escores MSTS foram bons no grupo sem denosumabe e excelentes no grupo
com denosumabe. Os escores MSTS foram excelentes nos 2 grupos a partir dos 6 meses.
No entanto, observamos melhora no alívio da dor e nas emoções que se estenderam da
fase pós-operatória imediata até 6 meses de acompanhamento no grupo tratado com denosumabe.
O escore médio de dor foi de 3,9 ± 0,4 no grupo com denosumabe versus 2,1 ± 0,6 no
grupo sem denosumabe. Entretanto, o escore médio no MSTS foi semelhante entre os grupos
com e sem denosumabe no acompanhamento de 12 meses (28,8 ± 1,7 versus 29,5 ± 0,33, respectivamente; p = 0,35). Esses achados são resumidos na [Tabela 2 ].
Tabela 2
Comparação de desfechos pós-operatórios entre os grupos com e sem denosumabe
Com denosumabe
Sem denosumabe
Valor de p
Escore MSTS: média ± desvio padrão
6 semanas
24,0 ± 6,5
20,0 ± 6,0
0,04
6 meses
26,0 ± 5,0
23,0 ± 0,67
0,04
12 meses
28,8 ± 1,7
29,5 ± 0,33
0,35
HSS: média ± desvio padrão
6 semanas
61,02 ± 7,36
48,52 ± 3,97
0,03
6 meses
81,1 ± 2,97
79,15 ± 3,24
0,82
12 meses
89,84 ± 3,75
90,05 ± 3,00
0,38
Recidiva: n (%)
0 (0%)
0 (0%)
1
Infecções
0 (0%)
1 (12,5%)
0,44
Luxação de quadril
0 (0%)
1 (12,5%)
0,44
Abreviaturas: HSS, Harris Hip Score (Escore de Quadril de Harris); MSTS, Musculoskeletal Tumor
Society.
Escore de Quadril de Harris
A pontuação média no HSS continuou excelente e sem diferenças estatisticamente significativas
entre os grupos com e sem denosumabe aos 6 meses (81,1 ± 2,97 versus 79,15 ± 3,24, respectivamente; p = 0,82) e 12 meses (89,84 ± 3,75 versus 90,05 ± 3,00, respectivamente; p = 0,38) de acompanhamento pós-operatório. No entanto, os resultados foram consideravelmente
contrastantes entre os grupos com e sem denosumabe às 6 semanas de acompanhamento
(61,02 ± 7,36 versus 48,52 ± 3,97, respectivamente; p = 0,03). Às 6 semanas de acompanhamento, os resultados foram bons no grupo com denosumabe
e razoáveis no grupo sem denosumabe. Considerando a escala de dor do HSS, a dor foi
significativamente maior no grupo sem denosumabe do que no grupo com denosumabe nos
primeiros 6 meses, o que pode ser atribuído à maior disfunção do quadril no grupo
sem o tratamento. Entretanto, a diferença na dor tornou-se não significativa após
12 meses de acompanhamento. Esses achados são resumidos na [Tabela 2 ].
Recidiva
Não houve recidiva em pacientes de nenhum dos grupos (p = 1), como mostra a[Tabela 2 ].
Discussão
O TCG do fêmur proximal não foi discutido em profundidade na literatura científica.
Conforme nossa busca bibliográfica, este estudo é o primeiro a enfocar o papel do
denosumabe no TCG do fêmur proximal. A maioria dos artigos já publicados se concentrou
nos diferentes tipos de reconstruções após a ressecção do TCG do fêmur proximal.[7 ] Nos concentramos no TCG de grau III do fêmur proximal, excluindo os casos de TCG
de graus I e II. O delineamento experimental foi de um estudo comparativo dos resultados
com e sem denosumabe neoadjuvante. Também utilizamos denosumabe em dose significativamente
menor no pré-operatório, pois estudos recentes utilizaram doses maiores, administradas
por mais tempo, para diminuição do estadiamento do tumor (downstaging ), com doses de ataques nos dias 0, 8, 15 e depois uma vez por mês ou a cada 15 dias.[10 ]
A diminuição do estadiamento cirúrgico do TCG com o neoadjuvante denosumabe e sua
correlação com o futuro procedimento escolhido têm sido discutidas na literatura.
Rutkowski et al.[11 ] concluíram que o denosumabe foi bem-sucedido no diminuição do estadiamento cirúrgico
e no adiamento da cirurgia em 48% dos participantes. No entanto, a taxa de recidiva
foi de 15% enquanto doses mensais de denosumabe foram usadas para tratamento de longo
prazo.[11 ] A utilidade em longo prazo do denosumabe foi proposta como fator de risco para alterações
malignas sarcomatosas no TCG.[12 ] Portanto, o uso em curto prazo do neoadjuvante denosumabe associado à cirurgia é
uma modalidade ideal e segura. Porém, a escolha do procedimento cirúrgico ainda é
a etapa mais crucial para o tratamento.
Antes, o foco principal era considerar a curetagem intralesional do TCG um procedimento
de menor morbididade, mas que levava a maiores taxas de recidiva.[13 ] Errani et al.[14 ] concluíram que a curetagem intralesional do fêmur proximal era um fator de risco
para a recidiva. Portanto, realizamos a ressecção do fêmur proximal seguida por artroplastia
em 16 de 18 pacientes e curetagem intralesional em 2 pacientes. Tentamos a curetagem
em três casos, mas, em um candidato, o calcar femoral era irrecuperável; assim, convertemos
o procedimento para ressecção e artroplastia com prótese de Wagner. Wijsbek et al.
relataram melhor resultado com a curetagem do que com a artroplastia no tratamento
do TCG do fêmur proximal.[8 ] Khan et al.[6 ] incluíram endopróteses personalizadas para tratamento do TCG do fêmur proximal.
Do nosso ponto de vista, o sítio do tumor ainda é um indicador melhor para a seleção
entre ressecção ou curetagem, em vez da diminuição do estadiamento após a administração
de denosumabe.
Avaliamos os desfechos funcionais e oncológicos às 6 semanas e aos 6 e 12 meses para
possível detecção de melhora gradual com o passar do tempo. O HSS é tradicionalmente
usado em cirurgia esportiva e artroplastia.[15 ] De acordo com nossos resultados, o HSS e o escore MSTS continuaram significativamente
melhores no grupo com denosumabe durante a fase pós-operatória imediata. No entanto,
o HSS mostrou um rápido aumento nas funções do quadril, produzindo resultados similares
aos 6 meses de acompanhamento. Todos os pacientes tratados com denosumabe relataram
melhora significativa. Segundo Petranova et al.,[16 ] o alívio significativo da dor foi relatado por 53,6% dos pacientes com TCG. Logo,
a diminuição da dor pré-operatória levou a uma melhor reabilitação e desfecho funcional
da articulação do quadril no grupo tratado com denosumabe em nosso estudo.
Estudos recentes associaram o uso neoadjuvante de denosumabe ao aumento da incidência
de recidivas.[17 ] Entretanto, é importante mencionar que esses estudos que relataram aumento de recidivas
utilizaram denosumabe com curetagem.[13 ] Agarwal et al.[18 ] propuseram que a recidiva após a administração de denosumabe e a realização de curetagem
pode ser prevenida pela curetagem profunda do tumor para obtenção de margens pré-terapêuticas
condizentes com as radiografias concomitantes. A borda osteoesclerótica protege certos
remanescentes de células gigantes e a curetagem leva à recidiva nos primeiros 2 anos
após a cirurgia primária. Nossos resultados não mostraram incidência de recidiva em
nenhuma coorte, indicando a ausência de associação entre o denosumabe e a recidiva.
O denosumabe forma uma borda osteoesclerótica ao redor do tumor, o que facilita o
manuseio e a ressecção da neoplasia e diminui o tempo intraoperatório, como demonstrado
por Sahito et al.[19 ] e Muller et al.[20 ] A diminuição do tempo intraoperatório reduz as chances de crescimento microbiano,
como demonstrado por Cheng et al.[21 ] e Teo et al.[22 ] Assim, em nosso estudo, houve um caso de infecção profunda em uma cirurgia de revisão
no grupo sem denosumabe. Além disso, a cirurgia primária foi realizada em até 108
minutos, o tempo intraoperatório mais longo entre todos os 18 casos operados.
Conclusão
Concluindo, o denosumabe provou ser benéfico no tratamento do TCG do fêmur proximal
ao permitir reabilitação precoce e melhorar os desfechos cirúrgicos e oncológicos.
No entanto, a diminuição do estadiamento do TCG do fêmur proximal para resgate da
articulação do quadril ainda é questionável e requer mais pesquisas. Além disso, os
pacientes que não estão dispostos ao tratamento ou com efeitos adversos graves ao
denosumabe devem ser aconselhados sobre o progresso e a reabilitação mais lentos e
as dificuldades pós-operatórias iniciais, especialmente a dor. Também concluímos que
a administração semanal de denosumabe por 4 semanas antes da cirurgia é ideal e que
pode não haver necessidade de doses adicionais.
Bibliographical Record Sheikh Muhammad Ebad Ali, Badaruddin Sahito, Hina Khan, Awais Abro, Sunel Kumar, Muhammad
Usman Ali. Desfechos pós-operatórios com ou sem denosumabe adjuvante em tumores de
células gigantes de grau III do fêmur proximal: Um estudo retrospectivo comparativo.
Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00451809522. DOI: 10.1055/s-0045-1809522