Palavras-chave coxa - músculo grácil - retalhos cirúrgicos
Keywords gracilis muscle - surgical flaps - thigh
Introdução
As lesões decorrentes de traumatismos de alta energia, oriundos principalmente de
acidentes de trânsito, apresentam-se frequentemente com perda de partes moles que
expõe estruturas nobres, como osso, tendões, vasos e nervos.[1 ] Elas representam situações de difícil manejo terapêutico, sendo um desafio para
a cirurgião reconstrutivo.
O aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas tem aumentado os índices de sucesso no tratamento.
Atualmente, os retalhos livres apresentam-se como uma opção eficaz entre as técnicas
reconstrutivas. Os retalhos perfurantes são considerados uma evolução dos retalhos
microcirúrgicos, por permitirem a obtenção de retalhos mais finos e, portanto, com
melhores resultados funcional e estético.[2 ]
Em 1967, Fujino[3 ] documentou a distribuição das artérias perfurantes para a nutrição do interstício,
à semelhança das artérias axiais. Em 1988, Koshima et al.[4 ] foram pioneiros na utilização de retalhos baseados em artérias perfurantes formados
exclusivamente por pele e tecido celular subcutâneo. Wei et al.[5 ] definiram que os retalhos baseados nas artérias perfurantes são aqueles nutridos
por artérias que atravessam a fáscia profunda adjacente e que podem ser dissecadas
através do músculo ou do septo intermuscular até o seu vaso de origem, sem a necessidade
da inclusão do músculo no retalho.
Com interesse na face medial da coxa, alguns autores como Peek et al.[6 ] e Eom et al.[7 ] descreveram, em estudos anatômicos e relatos de casos, um retalho desta região,
baseado nas artérias perfurantes provenientes do pedículo vascular principal do músculo
grácil. Esse retalho foi amplamente estudado e pode ser utilizado na sua forma pediculada
ou livre para a cobertura de diferentes defeitos na região inguinal, ou em regiões
mais distantes.
Feng et al.,[8 ] Scaglioni et al.[1 ] e Zheng et al.[9 ] descreveram, também por meio de estudos anatômicos e alguns relatos de casos clínicos,
o retalho anteromedial da coxa ou medial inferior da coxa baseado em ramos perfurantes
provenientes de artérias musculares que irrigam o músculo vasto medial. Em 1984, Song
et al.[10 ] descreveram o retalho de perfurante da artéria femoral profunda, que pode também
ser retirado na face posteromedial da coxa.
O músculo grácil, presente na região medial da coxa, é utilizado com frequência como
retalho muscular livre funcional, e apresenta um padrão de irrigação classificado
por Mathes e Nahai[11 ] como de tipo 2, no qual o músculo é irrigado por um pedículo vascular dominante,
capaz de irrigar o músculo todo, mas também tem vários pedículos secundários menores
que contribuem para sua irrigação. Alguns ramos desses vasos atravessam a fáscia profunda
na região medial da coxa e irrigam o tecido subcutâneo e a pele suprajacente. Peek
et al.[6 ] identificaram, no seu estudo anatômico com arteriografia, a presença de um pedículo
secundário na região intermédia da coxa que tem múltiplas anastomoses intramusculares
com o pedículo vascular principal.
O objetivo deste estudo foi avaliar os parâmetros anatômicos dos vasos que irrigam
a pele e a fáscia da região medial da coxa, provenientes do pedículo vascular secundário
do músculo grácil, no terço médio da coxa, definindo a sua localização, o diâmetro,
o padrão de distribuição e as variações anatômicas, para mostrar que é possível obter
um retalho confiável baseado neste pedículo vascular.
Materiais e Métodos
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da nossa instituição sob o número CAAE:
15621319.1.0000.5479.
Foi realizada a dissecção microcirúrgica de 33 coxas de 18 cadáveres, sendo 19 coxas
provenientes de cadáveres de sexo masculino e 14, do sexo feminino. Foram registrados
também dados biométricos do cadáver, como idade, altura e peso. Foram excluídos os
cadáveres com doença vascular periférica conhecida como causa de morte, e aqueles
com presença de cicatrizes na região da dissecção.
Todas as dissecções foram realizadas pelo mesmo cirurgião, com o auxílio de lupa cirúrgica
com aumento de 3,5 vezes. Foram registrados parâmetros anatômicos do pedículo vascular,
como comprimento e diâmetro dos vasos, localização, origem e distribuição, assim como
sua relação com o comprimento da coxa. As medições foram feitas com fita milimetrada
e paquímetro digital quadridimensional de 150 mm (Digimess Instrumentos de Precisão
Ltda.).
Utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para avaliar se as variáveis quantitativas
do desfecho seguiam uma distribuição normal. As variáveis quantitativas foram analisadas
pelos testes de igualdade de duas proporções e o de correlação de Pearson, e adotou-se
o intervalo de confiança estatística de 95%.
Dissecção
Inicialmente, traçou-se uma linha na face medial da coxa, desde o ramo isquiopúbico
até o epicôndilo medial femoral ([Fig. 1 ]). Essa linha coincide com a borda anterior do músculo grácil e, no ponto médio desta
linha, foi desenhado um círculo com raio de 3 cm, dividido em quadrantes. Posteriormente,
realizamos a incisão seguindo o contorno do círculo, e as artérias perfurantes foram
identificadas por meio de divulsão delicada no tecido subcutâneo, e foram seguidas
elas até o septo entre o músculo grácil e o músculo vasto medial/sartório. A maioria
dos vasos identificados no septo intermuscular apresentava ramos musculares para o
músculo grácil e, em poucos casos, para o músculo sartório. Esses vasos septais emitiam
ramos perfurantes para irrigar a pele e o tecido subcutâneo suprajacente. A dissecção
seguiu em profundidade até a artéria femoral, que foi identificada como a origem arterial
em todos os casos ([Fig. 2 ]). As veias, geralmente duas, eram tributárias da veia femoral, não da veia safena
magna, que se encontrava próxima ao local de dissecção. O ramo que se dirige até o
músculo, grácil ou sartório, foi ligado preservando-se a sua parte proximal, assim
como as perfurantes que se dirigem até a pele, aumentando assim o comprimento dos
vasos. Foram selecionados e documentados os vasos com diâmetro externo maior do que
0,5 mm.
Fig. 1 Face medial da coxa direita com desenho da localização do pedículo vascular.
Fig. 2 Dissecção do pedículo vascular secundário do músculo grácil com seus vasos perfurantes.
Resultados
A [Tabela 1 ] mostra os dados antropométricos dos cadáveres dissecados, e na [Tabela 2 ] são mostradas as características dos vasos do retalho.
Tabela 1
Dados antropométricos
Número da coxa
Idade (anos)
Lado
Sexo
Altura (cm)
Peso (kg)
Cumprimento da coxa (inguinal-côndilo medial femoral; cm)
1
56
Direito
Masculino
176
70
38
2
56
Esquerdo
Masculino
176
70
38
3
62
Direito
Masculino
174
66
36
4
62
Esquerdo
Masculino
174
66
36
5
56
Direito
Masculino
165
88
36
6
52
Direito
Masculino
172
78
35
7
52
Esquerdo
Masculino
172
78
35
8
56
Direito
Masculino
176
84
35
9
52
Direito
Masculino
150
43
35
10
52
Esquerdo
Masculino
150
43
35
11
64
Direito
Masculino
167
61
30
12
64
Esquerdo
Masculino
167
61
30
13
58
Direito
Masculino
170
70
30
14
58
Esquerdo
Masculino
170
70
30
15
59
Direito
Feminino
169
95
30
16
59
Esquerdo
Feminino
169
95
30
17
42
Direito
Masculino
182
76
35
18
42
Esquerdo
Masculino
182
76
35
19
66
Esquerdo
Masculino
175
74
26
20
58
Direito
Masculino
175
86
34
21
58
Esquerdo
Masculino
175
86
34
22
92
Direito
Feminino
164
68
28
23
92
Esquerdo
Feminino
164
68
28
24
47
Direito
Feminino
160
65
29
25
47
Esquerdo
Feminino
160
65
29
26
36
Direito
Feminino
165
70
33
27
36
E
Feminino
165
70
33
28
92
Direito
Feminino
163
55
32
29
92
Esquerdo
Feminino
163
55
32
30
85
Direito
Feminino
157
42
29
31
85
Esquerdo
Feminino
157
42
29
32
38
Direito
Feminino
160
62
29
33
38
Esquerdo
Feminino
160
62
29
Média
57,8
162,5
66,5
31,3
Máximo
92
182
95
38
Mínimo
36
150
42
26
Tabela 2
Características do pedículo vascular
Número da coxa
Cumprimento do pedículo (mm)
Diâmetro da artéria (mm)
Diâmetro das veias (mm)
Origem
Músculo irrigado
Quadrante
Variação
1
53
3,8
3
Femoral
Grácil
Anterossuperior
2
48
3,4
3,2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
3
83
4,2
3,2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
4
76
4,6
3,6
Femoral
Grácil
Anterossuperior
5
32
2,1
1,8
Femoral
Nenhum
Anteroinferior/Anterossuperior
Sem ramo muscular
6
41
3,6
3,4
Femoral
Grácil
Anteroinferior
7
38
3,4
3,2
Femoral
Grácil
Anteroinferior
8
63
3,2
2,8
Femoral
Sartório
Anterossuperior
Ramo para o sartório
9
38
2
2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
10
32
2,2
1,8
Femoral
Grácil
Anterossuperior
11
32
1,3
1
Femoral
Grácil
Anterossuperior
12
28
1,5
1,2
Femoral
Grácil
Anteroinferior
13
78
1,6
1,4
Femoral
Grácil
Anterossuperior
14
45
2,5
2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
15
84
1,8
1,8
Femoral
Grácil
Anterossuperior
16
76
1,6
1,6
Femoral
Grácil
Anterossuperior
17
38
1,3
1,2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
18
40
1,4
1,2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
19
32
1,6
1,4
Femoral
Grácil
Anterossuperior
20
40
2,2
2
Femoral
Sartório
Anterossuperior
Ramo para o sartório
21
38
2
2
Femoral
Sartório
Anterossuperior
Ramo para o sartório
22
62
1,5
1,5
Femoral
Grácil
Anterossuperior
23
60
1,3
1,5
Femoral
Grácil
Anterossuperior
24
58
2
1,8
Femoral
Grácil
Anteroinferior
25
61
2,4
1,9
Femoral
Grácil
Anteroinferior
26
64
2,7
2,2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
27
68
2,4
2,3
Femoral
Grácil
Anterossuperior
28
56
1,8
1,6
Femoral
Grácil
Anterossuperior
29
42
2,8
2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
30
56
2,8
2,3
Femoral
Grácil
Anterossuperior
31
58
2,5
2,2
Femoral
Grácil
Anterossuperior
32
52
2
1,8
Femoral
Grácil
Anterossuperior
33
50
1,8
1,6
Femoral
Grácil
Anterossuperior
Média
50,6
2,3
2,0
Máximo
84
4,6
3,6
Mínimo
28
1,3
1
Em todas as dissecções (100%), foi identificada pelo menos 1 artéria acompanhada de
2 veias, consideradas viáveis para realizar o retalho. Todos esses vasos foram localizados
no septo intermuscular entre os músculos grácil e o vasto medial/sartório. Em 29 (87,8%)
das 33 coxas, o vaso principal foi identificado como uma artéria septocutânea com
ramificações para o músculo grácil; em 3 (9,1%) coxas, as artérias septocutâneas emitiam
ramos para o músculo sartório; e 1 coxa (3%) apresentava 2 artérias septocutâneas
diretas que não tinham ramos musculares ([Fig. 3 ]).
Fig. 3 Padrões de distribuição arterial encontrados. Vasos com ramos para o músculo grácil
(A ). Vasos com ramos para o músculo sartório (B ). Vasos perfurantes diretos, sem ramificação muscular (C ).
Foi evidenciada, em todos os casos, pelo menos 1 artéria e 1 veia com diâmetro externo
maior do que 0.5 mm, sendo o maior diâmetro encontrado de 4,6 mm, e o menor, de 1,3 mm.
A média de todas as artérias foi de 2,3 mm. Em geral, foram identificadas duas veias
por cada artéria. O maior diâmetro entre as veias foi de 3,6 mm, e o menor, de 1.0 mm,
com uma média de 2,0 mm ([Fig. 4 ]). O comprimento dos vasos, desde a sua origem nos vasos femorais até as ramificações
menores no subcutâneo, variou entre 84 mm e 28 mm, com uma média de 53,2 mm.
Fig. 4 Retalho isolado com comprimento aproximado de 12 cm (A ). Pedículo vascular (B ).
A análise estatística foi iniciada com a aplicação do teste paramétrico de Kolmogorov-Smirnov
para avaliar a normalidade da distribuição das variáveis quantitativas, e concluímos
que a distribuição era normal. Na distribuição da frequência relativa (percentuais)
dos fatores qualitativos, aplicando o teste da igualdade de duas proporções, observamos
que o pedículo estava localizado no quadrante anterossuperior em 84,8% das coxas dissecadas,
bem como o grácil era o músculo mais comumente irrigado por este pedículo em 87,9%
dos casos (p < 0,001), ambos dados mostrados nas [Tabelas 3 ]
[4 ] respectivamente.
Tabela 3
Localização do pedículo no quadrante anteroinferior e anterossuperior
n
%
Valor de p
Quadrante
Anteroinferior
Anterossuperior
5
28
15,2%
84,8%
< 0,001
Tabela 4
Músculos irrigados pelo pedículo vascular
n
%
Valor de p
Músculo irrigado
Grácil
Nenhum
Sartório
29
1
3
87,9%
3,0%
9,1%
< 0,001
< 0,001
Na análise da correlação entre essas variáveis, utilizando o teste de Pearson, observou-se
significativa associação diretamente proporcional entre o diâmetro dos vasos e o comprimento
da coxa (p < 0,001), como mostrado na [Fig. 5 ].
Fig. 5 Relação entre comprimento da coxa e diâmetro da artéria.
Discussão
Como descrito por Giordano et al.[12 ] e Peek et al.,[6 ] o músculo grácil recebe irrigação a partir de um pedículo principal, proximal, originado
da artéria circunflexa femoral medial e pelo menos dois pedículos secundários distais
provenientes da artéria femoral ou da artéria poplítea. A maioria desses pedículos,
primários e secundários, apresentam ramos que perfuram a fáscia profunda e irrigam
um território considerável de pele sobre o músculo grácil, correspondente a pelo menos
o dobro da largura do músculo grácil. As características anatômicas relacionadas ao
pedículo principal já foram bem estudadas, e temos parâmetros confiáveis para a realização
de retalhos musculares ou musculocutâneos do grácil. No entanto, os pedículos secundários
que poderiam ser usados para retalhos fasciocutâneos ainda não estão bem estabelecidos.
Os retalhos fasciocutâneos proximais da coxa, que são irrigados por ramos do pedículo
principal do músculo grácil, são amplamente utilizados na sua forma pediculada e livre.
Entretanto, comprometem o pedículo principal do músculo grácil e requerem cuidado
com os ramos do nervo obturador que estão presentes no local da disseção. O retalho
do pedículo vascular principal, que é retirado da região medial proximal da coxa,
representa uma área mais susceptível à contaminação e de acesso limitado para realizar
os curativos no pós-operatório.[6 ]
Scaglioni et al.[1 ] descreveram alguns retalhos da região anteromedial na região distal da coxa, com
base nos vasos musculocutâneos perfurantes que atravessam o vasto medial. No entanto,
é necessária dissecação intramuscular para se obter um pedículo de comprimento adequado,
e a área da cicatriz fica mais exposta quando comparada com a do retalho do pedículo
principal. Song et al.[10 ] e Algan e Tan[13 ] descreveram um retalho confiável, proveniente de perfurantes da artéria femoral
profunda, que também pode ser obtido nesta região; porém, muitas vezes, o posicionamento
do paciente inviabiliza a sua obtenção.
O retalho proposto está localizado na face medial do terço médio da coxa e, após a
sua retirada, o fechamento primário da área doadora pode ser realizado sem necessidade
de enxerto cutâneo. A cicatriz fica em uma região de pouca exposição. A área doadora
fica mais distante das regiões inguinal e perineal quando comparada à do retalho do
pedículo principal, e é mais confortável para a troca de curativos e mais confiável
para se evitar contaminação e infecções.
O diâmetro médio das artérias estudadas neste trabalho foi de 2,3 mm, valor que, segundo
Jacobson e Suarez,[14 ] é seguro para anastomoses vasculares em retalhos livres. O comprimento médio do
pedículo foi de 50,6 mm, e mostrou-se adequado para retalhos livres ou pediculados;
porém, em uma das dissecções, foi identificado um pedículo menor do que 30 mm (28 mm),
relativamente curto, que dificultaria a anastomose e dependeria da área e do vaso
receptor.
Alguns parâmetros interessantes encontrados na dissecção foram: todos os pedículos
vasculares foram localizados na região central da face medial da coxa, no interior
de um desenho circular de 6 cm de diâmetro, cujo ponto central coincidia com a borda
anterior do músculo grácil; a origem arterial foi localizada, em 87,8% dos casos,
no quadrante anterossuperior do círculo, e a maioria dos vasos encontrados (87,8%)
correspondiam a vasos septocutâneos, com ramos para o músculo grácil. Deve-se ter
cuidado com a veia safena maior, que, muitas vezes, fica incluída no desenho do retalho,
e deve ser ligada e incluída no retalho diante da impossibilidade de isolá-la.
Segundo Giordano et al.,[12 ] a largura da pele irrigada pelas perfurantes corresponderia, no mínimo, ao dobro
da largura do músculo grácil subjacente. A área doadora poderia ser fechada primariamente,
com relativa facilidade, sem necessidade de enxertia de pele ([Fig. 6 ]).
Fig. 6 Fechamento primário da área doadora.
Os parâmetros encontrados permitirão realizar a dissecção e a retirada de um retalho
microcirúrgico com segurança. A pele da região medial da coxa é mais fina e versátil.
O retalho dessa região é apropriado para a cobertura de defeitos de pequeno e médio
portes (com diâmetro menor do que 15 cm).
Estudos de séries de casos realizados nos últimos anos[15 ]
[16 ] mostram as vantagens de se usar retalhos de vasos perfurantes para a obtenção de
retalhos menos volumosos e maleáveis; porém, o retalho aqui apresentado não foi descrito
em nenhuma desses trabalhos.
Para demonstrar a viabilidade do retalho, realizamos uma cirurgia em um paciente jovem,
do sexo masculino, vítima de acidente de trânsito que, além de múltiplas fraturas
no pé direito, apresentava perda da pele na sua face medial, que se estendia até a
face plantar e expunha os tendões e a aponeurose plantar ([Fig. 7 ]). Foi realizada cobertura microcirúrgica com o retalho descrito, com anastomose
dos seus vasos em ramos e tributárias dos vasos tibiais posteriores. O procedimento
foi bem-sucedido, de modo que se evidenciou a viabilidade da técnica ([Fig. 7 ] e [Fig. 8 ]).
Fig. 7 Caso operado. Pé direito com defeito de cobertura na face inferomedial (A ). Face medial da coxa direita com desenho do retalho e localização do pedículo vascular
(B ). Retalho isolado (C ). Cobertura do defeito com anastomose nos vasos tibiais posteriores (D ).
Fig. 8 Caso operado aos três meses de acompanhamento no pós-operatório.
Acreditamos que uma das melhores indicações para este retalho seria a cobertura cutânea
do membro superior, que requer pele fina e maleável, e os vasos doadores são de menor
calibre. A nossa intenção é realizar um estudo de série de casos utilizando esse tipo
de retalho para publicação posterior dos resultados, mostrando os pontos positivos
e negativos.
Conclusão
O pedículo secundário do músculo grácil, que emite ramos septocutâneos e perfurantes
para a pele da região medial da coxa, foi encontrado em todas as coxas dissecadas
(100%), e mostrou-se confiável para a obtenção de um retalho fasciocutâneo desta região.
Bibliographical Record Gabriel Vique Valeriano, Antonio Carlos da Costa, Diego Figueira Falcochio, Yussef
Ali Abdouni. Retalho cutâneo medial da coxa irrigado por vasos perfurantes do pedículo
secundário do músculo grácil: Estudo anatômico e relato de caso clínico. Rev Bras
Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00451809523. DOI: 10.1055/s-0045-1809523