Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 2015; 34(04): 265-266
DOI: 10.1055/s-0035-1565006
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Thieme Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Homenagem ao professor Gilberto Machado de Almeida

Felix H. Pahl
1   Hospital do Servidor Público Estadual - SP; Hospital Sírio Libanês, São Paulo, SP, Brasil
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Felix H. Pahl.
DFV neuro, SP
Brasil   

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Publication Date:
13 October 2015 (online)

 

    Gostaria de agradecer imensamente a oportunidade de prestar esta homenagem ao nosso querido professor Gilberto Machado de Almeida ([Fig. 1]).

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    Fig. 1 Professor Gilberto Machado de Almeida.

    Para quem não o conheceu, “O Professor”, como era chamado, foi um dos maiores líderes da neurocirurgia brasileira no seu tempo.

    Eu o conheci em 1981, quando iniciei a residência médica no Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo. Naquele momento, o HC representava uma das residências médicas de maior prestígio no país.

    O Professor era um líder incontestável na clínica. Tudo passava por ele. A decisão final era sempre a dele, apesar de a clínica contar com valiosos assistentes, como Newton Domingos Cabral, Luis Alcides Manreza, José Luzio, Manoel J. Teixeira, entre outros.

    O Professor adorava o que fazia, e transparecia isso em cada atitude. Mantinha-se atualizado, lia todas as revistas importantes de neurocirurgia do primeiro ao último artigo. Operava todos os dias. Via os pacientes em visita e em discussões de caso. Sofria junto com os pacientes e familiares os maus resultados e festejava os bons. Era rígido, detestava bajuladores. Ganhar a sua confiança demorava um pouco, mas uma vez conquistada, era para sempre.

    Sua área de atuação foi inicialmente a neurocirurgia infantil. Foi um dos pioneiros no uso da válvula para controle da hidrocefalia nas crianças. Posteriormente, dedicou-se a neurocirurgia vascular e tumores da base do crânio. Foi um dos pioneiros no uso do microscópio cirúrgico. Operou mais de 300 MAV e um número muitíssimo maior de pacientes com aneurismas cerebrais. Era a referência nacional em neurocirurgia vascular.

    Esta vasta experiência era transmitida diariamente. Ele próprio e os seus assistentes ensinavam os residentes a posicionar o paciente, a fazer a craniotomia, e os guiavam durante a cirurgia para que conseguissem finalizá-la com êxito.

    Foi ideia dele a divisão da clínica em grupos de trauma, vascular, base de crânio, tumores, infantil, funcional. Isto fomentou uma expertise sem precedentes que foi copiada por vários serviços no Brasil.

    Sua conduta, isenta de interesses pessoais em relação aos pacientes e familiares, colegas e fornecedores, era um exemplo a ser seguido pelos mais novos.

    Muitos expoentes da neurocirurgia nacional foram formados por ele, como Manoel J. Teixeira, Mario Taricco, Hamilton Matushita, Guilherme Carvalhal Ribas, Eduardo Vellutini, Paulo Henrique Aguiar, entre outros.

    Publicou quarenta artigos em revistas indexadas e vários capítulos de livros. Entre os artigos, o mais importante foi sobre cirurgia dos aneurismas de oftálmica, publicado na Surgical Neurology em 1976, amplamente citado.

    Do ponto de vista associativo, foi presidente do congresso latino americano de neurocirurgia em 1983. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) entre 1990 e 1992, e do Congresso Brasileiro de Neurocirurgia (CBNC) em 1992. Foi amigo pessoal de lideranças neurocirúrgicas internacionais, como Charles Drake, Eugene Flamm, Bennet Stein, Madjid Samii.

    Foi casado com Elenice, eminente escritora de literatura infantil com 28 livros publicados, com quem teve quatro filhos (Eduardo, Otávio, Gil e Renato), dois deles se tornaram médicos.

    Era um líder da família.

    Gostava de esportes, criava cavalos.

    Após longa tentativa de criar a disciplina de neurocirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), conseguiu a vaga e a abertura do concurso em abril de 1990. Acabou sendo vencido; quem ficou com a cátedra foi o professor Raul Marino Jr.

    Um pouco antes do concurso, perdeu a sua esposa Elenice, vitimada por um câncer, e logo após o seu filho Gil.

    Como pessoa de personalidade forte, focado na profissão, O Professor recuperou-se, dedicando-se à SBN e ao CBNC, à neurocirurgia do Hospital Nove de Julho, em SP – junto com os doutores Milton Shibata e Eduardo Bianco –, e ao cargo de professor convidado na Faculdade de Medicina de Botucatu.

    Casou-se novamente com Maia e nos últimos anos viveu em Florianópolis, dedicando-se à criação de pássaros.

    Gilberto Machado de Almeida era um homem de princípios, justo, honesto e brilhante neurocirurgião. Faço minhas as palavras de Mario Sergio Cortella: “Infeliz é o homem que não ensina o que sabe e não pratica o que ensina. Virtuosos e felizes são os homens que têm generosidade mental (e portanto ensinam o que sabem) e honestidade moral (e portanto praticam o que ensinam).”

    Sem dúvida, O Professor Gilberto Machado de Almeida foi um homem virtuoso e feliz em sua vida, e os que tiveram o prazer da sua convivência só podem agradecer por este privilégio.


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    Felix H. Pahl.
    DFV neuro, SP
    Brasil   


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    Fig. 1 Professor Gilberto Machado de Almeida.