Palavras-chave
neoplasias - nervos periféricos - neurilemoma
Introdução
O schwannoma, também denominado neurilemoma, foi descrito primeiramente por Verocay
em 1908.[1] Origina-se das células de Schwann e, embora raro, é o tumor benigno mais comum da
bainha dos nervos periféricos, compreendendo 5% de todos os tumores de partes moles.
Geralmente apresenta-se como um tumor solitário, apesar de já terem sido descritos
na literatura casos de múltiplos tumores. É mais comum entre 30 e 60 anos, sem predileção
para sexo ou raça. Ocorrem mais comumente na cabeça e no pescoço, seguido do tronco,
e posteriormente dos membros superiores e inferiores.[2]
[3]
[4]
[5]
[6]
[7]
[8] O membro superior é acometido em até 19% dos casos, enquanto o inferior, em até
17,5%.[1] Há predominância da face flexora, devido à maior concentração de fibras nervosas
nessa região, com preferência para os nervos mistos.[6]
[8]
[9] Os nervos mais acometidos são o ulnar e o mediano, no membro superior, e o fibular
e o tibial posterior, no membro inferior.[1]
[10]
[11]
[12]
Embora a etiologia ainda não esteja totalmente esclarecida, há certa evidência para
anormalidades cromossômicas como a principal causa, em especial no cromossomo 22.[13]
[14]
O schwannoma apresenta-se clinicamente como uma massa oval de consistência firme,
excêntrica ao nervo, com diâmetro geralmente menor do que 3 cm, bem encapsulada, com
crescimento lento e padrão não infiltrativo, de superfície lisa e coloração amarelo-acinzentada
ou cinza-esbranquiçada. Pode persistir como um edema indolor por anos, antes de surgirem
outros sintomas, tais como dor, parestesia, hipoestesia e déficit motor, que são decorrentes
da compressão de estruturas adjacentes e da ausência da distensibilidade tecidual
local.[3]
[8]
[13]
[15]
[16]
À microscopia, podem ser distinguidos dois tipos de tecido: Antoni-A e Antoni-B. O
primeiro caracteriza-se por células fusiformes com limites indistintos e núcleos deformados
ou ondulados, dispostas em folhas ou feixes, e com mitoses esparsas. Há arranjos em
paliçada e áreas anucleadas entre eles, o que caracteriza os corpos de Verocay. Já
o segundo é menos celular e sem características arquitetônicas distintas; sua matriz
contém colágeno esparso, numerosos vasos sanguíneos, e uma mistura de células fusiformes
e ovais. Focos de células inflamatórias, incluindo histiócitos, podem estar presentes,
e alguns contêm hemossiderina. Usualmente, há predomínio de um tipo histológico em
cada lesão. É comum a presença de degenerações decorrentes da hialinização da parede
dos vasos, hemorragia e deposição de fibrina, com consequente formação de cistos,
fibrose da matriz e calcificação focal. O núcleo das células de Schwann torna-se hipercromático
e multilobulado, e o tumor apresenta-se com uma coloração amarelo-acinzentada nesses
casos.[1]
[3]
[16]
[17]
[18]
Ao exame físico, a massa é dolorosa à pressão e móvel no eixo transversal, mas não
no eixo longitudinal do membro; a percussão do tumor induz parestesia dolorosa na
área do nervo, similar a um sinal de Tinel positivo.[3]
[15]
Entre os exames complementares, a ultrassonografia e a ressonância magnética podem
ser utilizadas para auxiliar no diagnóstico. Esta última é o exame de imagem de preferência.
Pode-se ainda utilizar testes imunohistoquímicos, que evidenciam imunopositividade
para as proteínas S-100 e Leu-7. No entanto, a confirmação diagnóstica só é realizada
por meio do exame anatomopatológico.[1]
[14]
[16]
[17]
[19]
Como diagnósticos diferenciais, podemos citar gânglio, tenossinovite, neurofibroma,
lipoma, xantoma, mixoma, hemangioma, e tumor de células gigantes da bainha do tendão.[4]
[7]
[19]
[20]
O tratamento de escolha é a excisão cirúrgica precoce por meio da técnica intra ou
extracapsular e tem como objetivo remover o tumor e preservar a função do nervo. A
cirurgia é indicada nos casos sintomáticos e ainda não há um consenso sobre qual é
a melhor técnica.[1]
[3]
[6]
[7] Embora tenha um bom prognóstico, distúrbios sensitivos e/ou motores temporários
no pós-operatório, tais como hipoestesia e parestesia, são vastamente relatados na
literatura. Esses distúrbios são decorrentes da dissecção ou retração do nervo, e
não interferem significativamente nas atividades diárias.[2]
[6]
[19]
O objetivo deste trabalho é analisar o perfil epidemiológico e a evolução de 20 pacientes
diagnosticados com schwannoma entre 2002 e 2018.
Materiais e Métodos
Definiu-se um grupo de pacientes para avaliação retrospectiva, compreendendo o período
entre fevereiro de 2002 e junho de 2018, no qual foram estudados e avaliados 20 prontuários
de pacientes submetidos a procedimento cirúrgico devido a schwannoma.
Os critérios de inclusão foram: cirurgias de tumores dos membros superiores e inferiores,
realizadas no Serviço de Ortopedia da nossa instituição no período pré-definido, que
apresentassem confirmação diagnóstica de schwannoma pelo exame anatomopatológico.
Foi atribuído um número de ordem cronológica aos pacientes a partir da data do tratamento
cirúrgico.
Para auxiliar na elucidação diagnóstica, foi realizada ressonância magnética e/ou
ultrassonografia. Posteriormente, a hipótese diagnóstica foi confirmada pelo resultado
do exame anatomopatológico.
O tratamento de escolha foi a excisão completa do tumor. Todos os procedimentos foram
realizados com técnica microcirúrgica, isto é, foram utilizados equipamentos para
ampliação do campo cirúrgico, como lupas com magnificação de pelo menos quatro vezes
e/ou microscópio cirúrgico. Além disso, os instrumentos utilizados eram delicados
e específicos para cirurgia dos nervos periféricos.
A partir das informações oferecidas pelos exames de ressonância magnética e/ou ultrassonografia,
a via de acesso foi sempre planejada considerando a região do tumor, centrando-a sobre
o mesmo ([Figura 1]). Quando atingimos os planos mais profundos, sempre iniciamos a dissecção do nervo
nas regiões proximal e distal ao tumor, onde o nervo está “normal.” A seguir, isolamos
o nervo com o auxílio de drenos de Penrose finos ([Figuras 2], [3] e [4]), e iniciamos a ressecção efetiva do tumor, por meio da técnica intra ou extracapsular.
Pode-se usar o plano de clivagem entre as fibras neurais que não foram afetadas pelo
schwannoma. Neste tempo cirúrgico, muitas vezes é necessário avaliar o nervo de forma
circunferencial durante a exérese do tumor. A cirurgia tem como objetivo remover o
tumor por completo e preservar a função do nervo.
Fig. 1 Fotografias pré-operatórias do paciente número 5, acometido por schwannoma no braço
direito. (A) Vista superior de braço direito com tumoração em região medial destacada por palpação.
(B) Fotografia de ressonância magnética de membro superior direito, com seta indicando
schwannoma em nervo cutâneo medial do braço.
Fig. 2 Fotografias perioperatórias durante e após dissecção de tumor em região medial de
braço direito (paciente número 5). (A) Nota-se a utilização de drenos de Penrose para isolamento do nervo, permitindo manter
a integridade das estruturas vásculo-nervosas durante o ato cirúrgico. (B) Peça tumoral após exérese, apresentando-se como uma grande massa ovalada, de coloração
amarelo-acinzentada. Ao lado, bisturi para comparação de dimensões.
Fig. 3 Fotografias intraoperatórias de vista lateral de retirada de schwannoma em braço
direito (paciente número 9). (A) Pode-se observar a utilização de drenos de Penrose para isolamento do nervo radial,
proximal e distalmente ao tumor. (B) Reparo do nervo, notando-se externamente o tumor retirado em sua totalidade.
Fig. 4 Fotografias perioperatórias mostrando a disseção do tumor em região axilar direita
(paciente número 7). (A) Evidencia-se isolamento do nervo com drenos de Penrose, facilitando exposição do
tumor e permitindo que a peça tumoral seja dissecada de forma minuciosa, na tentativa
de evitar complicações. (B) Área cruenta do leito do tumor e, ao lado, peça tumoral de aspecto amarelo-acinzentado,
característico dos schwannomas.
Os pacientes foram avaliados a partir de um protocolo previamente elaborado pelos
autores. A partir dos dados dos prontuários, foram colhidas informações dos pacientes
sobre idade, localização do tumor, região, lado, face e nervo acometidos, sinais e
sintomas pré-operatórios – como dor, mobilidade, sinal de Tinel, alteração de sensibilidade
e fraqueza –, data da cirurgia, complicações pós-operatórias, descrição do exame anatomopatológico,
e presença ou não de recidivas.
O estudo foi submetido à avaliação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa de nossa
instituição.
Resultados
Com relação ao sexo, 10 pacientes eram do sexo feminino, e 10, do masculino. A média
de idade foi de 50,85 anos, variando de 12 a 77 anos. No tocante à raça, todos os
pacientes eram brancos.
Na [Tabela 1], encontram-se os dados referentes ao número de ordem dos pacientes, ao sexo, à idade
e à data da cirurgia.
Tabela 1
Número de ordem
|
Sexo
|
Idade
|
Data da cirurgia
|
1
|
M
|
77
|
fevereiro-02
|
2
|
F
|
32
|
janeiro-06
|
3
|
F
|
53
|
agosto-07
|
4
|
F
|
56
|
fevereiro-10
|
5
|
M
|
12
|
agosto-10
|
6
|
F
|
32
|
agosto-10
|
7
|
M
|
71
|
dezembro-11
|
8
|
M
|
75
|
julho-12
|
9
|
F
|
66
|
setembro-12
|
10
|
F
|
64
|
novembro-12
|
11
|
M
|
34
|
dezembro-12
|
12
|
M
|
53
|
fevereiro-13
|
13
|
M
|
24
|
março-13
|
14
|
F
|
63
|
abril-14
|
15
|
F
|
41
|
outubro-14
|
16
|
F
|
77
|
janeiro-15
|
17
|
M
|
37
|
junho-16
|
18
|
M
|
48
|
junho-16
|
19
|
F
|
53
|
abril-18
|
20
|
M
|
49
|
junho-18
|
Na [Tabela 2], encontram-se os dados referentes ao número de ordem dos pacientes, aos sinais e
sintomas pré-operatórios (dor, mobilidade, sinal de Tinel, alteração da sensibilidade
e fraqueza) e às complicações pós-cirúrgicas.
Tabela 2
Número do paciente
|
Dor
|
Mobilidade
|
Sinal de Tinel
|
Alteração da sensibilidade
|
Fraqueza
|
Complicação pós-cirúrgica
|
1
|
+
|
+
|
+
|
−
|
+
|
Hipoestesia
|
2
|
+
|
+
|
−
|
−
|
+
|
−
|
3
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
4
|
−
|
+
|
−
|
−
|
−
|
Parestesia
|
5
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
6
|
+
|
−
|
−
|
+
|
−
|
−
|
7
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
8
|
+
|
+
|
−
|
+
|
−
|
Hipoestesia
|
9
|
+
|
+
|
+
|
−
|
+
|
−
|
10
|
+
|
−
|
+
|
+
|
−
|
−
|
11
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
12
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
13
|
+
|
+
|
−
|
+
|
−
|
−
|
14
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
15
|
+
|
+
|
+
|
+
|
+
|
Parestesia e hipoestesia
|
16
|
+
|
+
|
−
|
−
|
−
|
Hiperestesia
|
17
|
+
|
−
|
+
|
−
|
−
|
Parestesia
|
18
|
−
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
19
|
−
|
+
|
−
|
−
|
−
|
−
|
20
|
+
|
+
|
+
|
+
|
−
|
−
|
O membro superior foi acometido em 14 casos (70%), e o membro inferior, em 6 (30%).
Quanto à região anatômica predominantemente ocupada pelo tumor, verificou-se comprometimento
da face volar em 12 ocasiões (60%), e da dorsal, em 8 (40%).
Com relação à localização do tumor, seis estavam localizados na mão, quatro, no braço,
três, no antebraço, um, na axila, três, na coxa, um, na perna, um, no tornozelo, e
um, no pé. O lado esquerdo foi acometido em 11 casos, enquanto o direito, em 9. O
nervo ulnar foi o mais acometido, representando sete casos, seguido dos nervos radial
e mediano.
Foi calculada a média aritmética das três dimensões do tumor com base na macroscopia.
Obteve-se um valor de 3,31 cm × 2,12 cm × 1,68 cm.
Na [Tabela 3], encontram-se dados referentes ao número de ordem dos pacientes, à localização,
à face, e ao lado e nervo acometidos pelo tumor, além das suas dimensões.
Tabela 3
Número do paciente
|
Localização
|
Face
|
Lado
|
Nervo
|
Dimensões (em cm)
|
1
|
Mão
|
Volar
|
Esquerdo
|
Ulnar
|
1,7 × 1,2 × 0,9
|
2
|
Antebraço
|
Dorsal
|
Esquerdo
|
Interósseo posterior
|
1,4 × 0,9 × 0,9
|
3
|
Pé
|
Dorsal
|
Direito
|
Ramo cutâneo dorsal lateral do nervo sural
|
3,6 × 1,9 × 1,5
|
4
|
Mão
|
Dorsal
|
Direito
|
Ulnar
|
3,5 × 2,7 × 2,0
|
5
|
Braço
|
Volar
|
Direito
|
Nervo cutâneo medial do braço
|
7,5 × 3,4 × 3,5
|
6
|
Tornozelo
|
Dorsal
|
Esquerdo
|
Tibial posterior
|
2,3 × 1,8 × 1,2
|
7
|
Axila
|
Volar
|
Direito
|
Músculo-cutâneo
|
1,5 × 1,5 × 1,5
|
8
|
Braço
|
Dorsal
|
Direito
|
Radial
|
10,5 × 6,5 × 4,0
|
9
|
Braço
|
Dorsal
|
Direito
|
Radial
|
2,0 × 1,5 × 1,0
|
10
|
Mão
|
Volar
|
Esquerdo
|
Mediano
|
0,9 × 0,7 × 0,7
|
11
|
Coxa
|
Dorsal
|
Direito
|
Cutâneo femoral lateral
|
3,6 × 2,2 × 1,8
|
12
|
Perna
|
Volar
|
Esquerdo
|
Fibular
|
4,3 × 2,5 × 1,6
|
13
|
Antebraço
|
Volar
|
Esquerdo
|
Ulnar
|
1,8 × 1,8 × 1,4
|
14
|
Coxa
|
Dorsal
|
Esquerdo
|
Safeno
|
4,8 × 3,0 × 2,7
|
15
|
Braço
|
Volar
|
Esquerdo
|
Ulnar
|
2,5 × 1,8 × 1,6
|
16
|
Coxa
|
Volar
|
Esquerdo
|
Femoral
|
7,5 × 5,0 × 4,2
|
17
|
Mão
|
Volar
|
Direito
|
Mediano
|
1,6 × 1,1 × 0,5
|
18
|
Mão
|
Volar
|
Direito
|
Ramo digital palmar próprio do nervo ulnar
|
1,3 × 0,4 × 0,6
|
19
|
Mão
|
Volar
|
Esquerdo
|
Ulnar
|
2,5 × 1,3 × 1,0
|
20
|
Antebraço
|
Volar
|
Esquerdo
|
Ulnar
|
1,5 × 1,2 × 1,0
|
No que se refere às complicações pós-operatórias, dois pacientes apresentaram parestesia,
dois, hipoestesia, um, hiperestesia, e um, hipoestesia associada a parestesia. Não
foi observado déficit motor em nenhum paciente no pós-operatório. No total, 6 (30%)
pacientes apresentaram alguma complicação pós-cirúrgica. No entanto, todas estas complicações
foram transitórias, sendo que, após seis meses, todos os pacientes já não apresentavam
mais nenhuma alteração de sensibilidade.
Não houve relatos de perda funcional ou sensitiva da região envolvida pelo nervo previamente
acometido durante as reavaliações pós-operatórias tardias.
Até o momento, não foi identificado nenhum caso de recidiva tumoral.
Discussão
Embora raro, o schwannoma é o tumor benigno mais comum da bainha dos nervos periféricos.
Acomete mais comumente a cabeça e o pescoço, seguido do tronco, e, depois, os membros
superiores e inferiores.[8]
[15]
[21]
Há preferência para a face flexora dos membros, e ocorre tipicamente em indivíduos
entre a quarta e sexta décadas de vida, sem predileção para sexo ou raça. Os nervos
mais acometidos são o ulnar e o mediano, no membro superior, e o fibular e o tibial
posterior, no inferior.[8]
[9]
[10]
[11]
[12]
[16]
A tríade clássica do schwannoma compreende a presença de massa, acompanhada de sinal
de Tinel positivo e mobilidade no eixo transversal do membro. O quadro clínico pode
ainda incluir dor, parestesia, hipoestesia e déficit motor.[4]
[7]
[16]
Rabari et al.[22] realizaram estudo em que comentam sobre o atraso no diagnóstico do schwannoma. Jonathan
et al.[4] explicam que a ausência de um teste clínico específico, a variedade de sinais e
sintomas, e a raridade da lesão são possíveis fatores que contribuem para esta maior
dificuldade e atraso no diagnóstico. Além disso, trata-se de uma lesão que usualmente
tem crescimento lento e é, em geral, indolor por vários anos, levando a uma demora
na procura por atendimento.[2]
[20]
No Serviço de Anatomopatologia de nossa instituição, foram encontrados 20 casos de
schwannomas, sendo que, destes, 14 foram correspondentes ao membro superior (70%),
e 6, ao membro inferior (30%) ([Figura 5]).
Fig. 5 Ilustração de membro superior e inferior evidenciando a distribuição topográfica
dos tumores encontrados no estudo.
Em nosso estudo, houve predomínio dos membros superiores em relação aos inferiores,
e da face flexora em relação à extensora. Os sexos feminino e masculino foram igualmente
acometidos. A média de idade foi de 50,85, variando de 12 a 77 anos, com predileção
para o intervalo entre a 4a e 6a décadas de vida. O nervo ulnar foi o mais acometido, seguido do nervo radial e mediano.
Esses dados estão em consonância com os da literatura.
Com relação à amostra, todos os pacientes tinham massa palpável, 17 tinham dor à palpação,
17 tinham mobilidade no eixo transversal do membro, 6 apresentavam sinal de Tinel
positivo, 6 tinham alteração de sensibilidade, e 4 apresentavam fraqueza.
Para auxiliar na elucidação diagnóstica do tumor, podem ser solicitadas a ultrassonografia
e a ressonância magnética. À ressonância magnética, o tumor revela-se uma massa bem
definida, usualmente fusiforme, em íntima relação com o nervo, isointenso em T1 e
hiperintenso em T2, e pode apresentar o sinal do alvo.[1]
[19] A ultrassonografia evidencia a estrutura fascicular dos nervos. Isto permite ao
cirurgião definir o sítio, o tamanho e a relação com as estruturas adjacentes, o que
auxilia na identificação da origem do tumor e do nervo acometido, de forma a contribuir
no planejamento cirúrgico (escolha de material, equipamentos e métodos de aumento
para microcirurgia), como salientado na seção Materiais e Métodos.[2] A ressonância magnética, embora seja o exame de escolha, apresenta como desvantagem
seu alto custo. Já o exame ultrassonográfico, apesar de ser mais barato, é operador-dependente.
No entanto, o diagnóstico definitivo só é feito por meio do exame anatomopatológico.[1]
[15]
[16] Os autores ressaltam que, por ser um tumor raro localizado em uma estrutura nobre,
e pelo fato de um erro técnico-cirúrgico poder levar a grave déficit funcional, é
muito importante que o profissional tenha em mente esta hipótese diagnóstica para
evitar mau planejamento cirúrgico.
O tratamento preconizado é a intervenção cirúrgica precoce, que, apesar de ter um
prognóstico favorável, comumente apresenta complicações pós-cirúrgicas temporárias,
como distúrbios sensitivos e/ou motores.[6]
[7] Portanto, é de extrema importância que os pacientes sejam informados quanto aos
riscos a que estarão expostos durante e após o procedimento cirúrgico.[4] Em nosso estudo, só houve complicações sensitivas, compreendendo 30% da amostra.
Todas essas complicações foram transitórias.
Gosk et al.[10] e Ujigo et al.[23] comentam em seus estudos sobre fatores que podem afetar a evolução do tratamento
e que podem acarretar maior risco de complicações pós-operatórias. Tais fatores são:
sinal de Tinel positivo, tamanho e localização do tumor, característica histológica,
severidade dos sintomas manifestados antes da operação, tumor de história mais longa,
e técnica cirúrgica inadequada.
Consideramos que, entre esses fatores, a presença do sinal de Tinel deve ser destacada,
visto que já demonstra uma alteração neurológica local. Em nossa casuística, 50% dos
pacientes com sinal de Tinel positivo apresentaram complicações pós-operatórias, enquanto
que, nos pacientes que não o apresentaram, a taxa de complicações foi de 21,4%. Tais
dados confirmam a valorização da presença do sinal de Tinel no prognóstico.
A recorrência e a malignização do schwannoma são raras.[6]
[8]
[15]
[16] Em nosso estudo, não houve nenhum caso de recidiva. Com relação à malignização,
encontramos um caso, no paciente número 8, no qual foi encontrado um schwannoma maligno
de grau nuclear e índice mitótico moderados, com áreas epitelioides, invasivo do subcutâneo
e do tecido fibromuscular até o periósteo, com bordas tumorais de padrão expansivo,
e presença de áreas focais de inflamação estromal, necrose e hemorragia.
Por se tratar de um Serviço de Ortopedia, optou-se por avaliar os pacientes acometidos
por schwannoma apenas nos membros superiores e inferiores. Além disso, há poucos estudos
com série de casos em nosso país sobre esse tema. Por esses motivos, os autores decidiram
realizar uma análise do perfil epidemiológico, bem como da evolução natural e intervenção
nesta enfermidade em nosso serviço, destacando que os exames complementares devem
auxiliar na formulação da hipótese de schwannoma, que exigirá material e técnica microcirúrgica
compatíveis com a nobreza da estrutura acometida. Diante dos resultados, pode-se considerar
que os dados obtidos estão em concordância com os descritos na literatura.
Conclusão
O schwannoma é uma lesão rara e de difícil diagnóstico. Deve sempre ser considerada
como hipótese quando se estiver diante de um tumor de partes moles acometendo os membros,
especialmente quando associado à presença de mobilidade no eixo transversal e sintomas
neurológicos, dentre os quais, o sinal de Tinel deve ser valorizado, visto sua maior
correlação com as complicações pós-operatórias. Os pacientes devem ser informados
quanto às possíveis complicações, que são frequentes (cerca de 30%), mas, geralmente,
transitórias.