ADENOCARCINOMA GÁSTRICO AVANÇADO E ADENOCARCINOMA DE RETO BAIXO LOCALMENTE AVANÇADO SINCRÔNICOS EM PACIENTE DE 38 ANOS

Um paciente do sexo masculino, de 38 anos, deu entrada no pronto-socorro em abril de 2022 com histórico de constipação havia 1 mês associada a dor anal, melena e hematêmese, diminuição do jato urinário, e perda ponderal de 6 kg. Ele trouxe exame externo de endoscopia, que evidenciava neoplasia de corpo gástrico Bormann IV, com anatomopatológico que demonstrava adenocarcinoma de padrão microtubular. Realizou-se nova endoscopia, que demonstrou sangramento ativo da lesão, não passível de tratamento endoscópico. Diante do quadro e da impossibilidade de transfusão sanguínea devido a recusa por questões religiosas, optou-se por realizar a gastrectomia parcial com reconstrução a Bilroth II, com achado intraoperatório de carcinomatose peritoneal focal. No pós-operatório imediato, o paciente mantinha queixa de enterorragia e constipação. No estadiamento, evidenciou-se espessamento do reto baixo, com infiltração circunferencial da serosa retal, da fáscia mesorretal, das vesículas seminais, do ureter distal direito, e da parede posterior da bexiga. No exame físico, foi evidenciada lesão a 2 cm da borda anal, estenosante e friável, e o anatomopatológico demonstrou adenocarcinoma de reto. Após estabilização clínica e alta hospitalar, foi iniciada quimioterapia paliativa com o esquema FLOX. Em junho de 2022, o paciente evoluiu com abdome agudo perfurativo secundário a hérnia interna, foi submetido a diversas abordagens cirúrgicas na urgência, e teve complicações clínicas como insuficiência renal com necessidade de hemodiálise. Devido ao quadro oncológico avançado, mesmo com todas as intervenções, o paciente evoluiu a óbito no dia 15 de junho de 2022. Neoplasias primárias múltiplas são definidas como a detecção de duas ou mais neoplasias histologicamente diferentes no mesmo paciente. Essas podem ser sincrônicas (diagnóstico com menos de 6 meses de distância) ou metacrônicas (mais de 6 meses). A prevalência de múltiplos cânceres primários na literatura varia entre 0,7% e 12%, o que pode estar relacionado a predisposição genética, e a fatores de risco ambientais ou até esporádicos. O adenocarcinoma colorretal é relatado como a segunda neoplasia primária mais comum em sobreviventes de câncer colorretal, seguido por câncer de próstata e de mama. Malignidades primárias múltiplas do sistema gastrointestinal são descritas, inclusive associadas a neoplasias malignas extraintestinais. Para esses pacientes, não há diretrizes claras de manejo ou vigilância, dada a especificidade dos casos, que devem ser individualizados.

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Article published online:
16 March 2023