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CC BY 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2024; 59(S 02): e145-e148
DOI: 10.1055/s-0044-1787550
Relato de Caso

Fixação de fragmento osteocondral com palitos ósseos autólogos em joelho Um relato de caso

Artikel in mehreren Sprachen: português | English
1   Ortopedia e Traumatologia, Hospital Universitário de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil
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1   Ortopedia e Traumatologia, Hospital Universitário de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil
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Caio César Zottis
2   Ortopedia e Traumatologia, Hospital Independência, Porto Alegre, RS, Brasil
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1   Ortopedia e Traumatologia, Hospital Universitário de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil
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Suporte Financeiro Os autores declaram que não receberam apoio financeiro de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos.
 

Resumo

Lesões osteocondrais no joelho são incomuns no esqueleto imaturo e costumam estar relacionadas com atividades esportivas.

De acordo com o tamanho e a localização do fragmento, a fixação se faz necessária. A técnica padrão é realizada através da redução aberta e fixação interna com parafusos metálicos, que precisam retirados em um segundo procedimento, após consolidação.

Como alternativa, visando a redução de risco e morbidade, existe a fixação do fragmento osteocondral com palitos ósseos autólogos.

O presente trabalho relata a execução dessa técnica cirúrgica em um paciente de 13 anos que lesionou o joelho direito durante uma partida de futebol.


Introdução

A cartilagem articular é um tecido conectivo que recobre as superfícies ósseas das articulações, sendo descrita como avascular, aneural e altamente hidratada.[1] Nos traumas articulares, as lesões podem ser puramente condrais ou associadas com fragmentos ósseos, configurando uma lesão osteocondral.[2] [3]

A técnica padrão para fixação é realizada através da redução aberta e fixação interna do fragmento com parafusos. No entanto, estes precisam ser removidos em um segundo tempo cirúrgico. O uso de materiais sintéticos bioabsorvíveis ainda não são amplamente utilizados e podem induzir reações de corpo estranho.[4] Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo relatar uma técnica de fixação de fragmento osteocondral no joelho, na qual foram confeccionados palitos ósseos autólogos, a partir de osso cortical tibial, para fixação.


Relato de caso

Este relato de caso foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da nossa instituição sob o número (CAAE- 68381222.0.0000.5304), e o formulário de consentimento informado foi fornecido e assinado pelo responsável do paciente.

Um paciente do sexo masculino, com 13 anos de idade, previamente hígido, chegou à consulta com história de trauma no joelho direito, com 2 dias de evolução, por mecanismo de stress em valgo durante prática de futebol. Desde o evento, apresentava dor moderada, com incapacidade de mobilizar, associado a derrame 2 +/4 + . No exame radiográfico, evidenciou-se fragmento osteocondral do côndilo lateral do joelho direito deslocado, com aproximadamente 3 cm em seu maior diâmetro ([Fig. 1]).

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Fig. 1 Raio-x inicial.

Desta forma optou-se por tratamento cirúrgico, por meio de redução aberta e fixação interna através da técnica de palitos ósseos corticais.

A cirurgia foi executada após 14 dias do atendimento inicial. Realizou-se artrotomia parapatelar lateral longitudinal, de cerca de 8 cm, no joelho direito do paciente. Através de visualização direta, executou-se a limpeza e cruentização do sítio anatômico e identificou-se o fragmento que apresentava dimensões de 35 mm × 27 mm ([Fig. 2A]).

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Fig. 2 Fragmentos osteocondrais.

Posteriormente, foi retirada uma janela da cortical da diáfise média da tíbia ipsilateral, para a confecção dos palitos ósseos. Para isso, foi realizada uma incisão cutânea longitudinal de 4 cm sobre a metáfise proximal ântero-medial da tíbia direita. Após a elevação do periósteo, foi aberta uma janela de aproximadamente 30 × 15 mm, de maior comprimento no sentido longitudinal, com uma serra, para a confecção de palitos ósseos ([Fig. 2B] e [Fig. 3]).

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Fig. 3 Raio-x pós-operatório.

Foram confeccionados 5 palitos ósseos corticais, cada um com cerca de 3 mm de diâmetro e 30 mm de comprimento. O fragmento osteocondral foi fixado provisoriamente com fios de Kirschner de 2,5 mm. Cada fio de Kirschner foi sucessivamente substituído por um palito ósseo. Posteriormente, os palitos foram rebaixados, adentrando em 3 mm na superfície articular. Além disso, é importante salientar que a fixação do fragmento condral no sítio de origem, com os 5 palitos ósseos, foi através de inserção angular divergente em relação à superfície ([Fig. 4]).

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Fig. 4 Imagem da cirurgia.

Na alta, o paciente foi instruído a realizar exercícios para movimentação precoce do membro, sem apoio. Com 2 semanas de pós-operatório iniciou fisioterapia motora, deambulando com muletas, sem apoio. Aos 2 meses iniciou carga parcial, e aos 4 meses foi liberada carga total conforme tolerância. Periodicamente, o paciente realizou exames complementares de imagem, os quais confirmaram a boa evolução e recuperação do joelho direito. Aos 4 meses de evolução, o exame radiológico demonstrou um bom processo de consolidação óssea do fragmento fraturado ([Fig. 5]).

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Fig. 5 Raio-x 4 meses após a cirurgia.

Com 1 ano e 2 meses do pós-operatório retornou às atividades esportivas e de impacto normalmente. O exame de ressonância magnética (RM) de controle demonstra a boa evolução da reconstrução articular ([Fig. 6]).

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Fig. 6 Ressonância magnética 1 ano e 2 meses após a cirurgia.

Discussão

As fraturas osteocondrais do côndilo femoral lateral são patologias infrequentes.[3] Ao exame físico, podem apresentar edema, limitação de movimento e bloqueio articular. A investigação é iniciada pelo exame de radiografia simples. Quando se trata de lesões condrais puras, outros exames de imagem se fazem necessários, como a RM e artroscopia.[5]

Uma vez diagnósticada fratura osteocondral, a anatomia da superfície articular precisa ser restaurada a fim de evitar uma osteoartrose precoce. A técnica mais utilizada para fixação utiliza parafusos metálicos. Apesar de ser eficiente e amplamente utilizada, os parafusos precisam ser removidos em um segundo tempo cirúrgico. Com o objetivo de contornar esse problema, surgiram materiais sintéticos bioabsorvíveis para fixação fragmentar; porém, estes ainda não são amplamente utilizados e podem gerar reação de corpo estranho.[4]

A técnica de fixação com palitos ósseos já tem sido usada como forma de fixação na osteocondrite dissecante de joelho, e inúmeros trabalhos comprovam a boa consolidação óssea proporcionada.[6] [7] Os palitos são confeccionados a partir de cortical óssea, geralmente da tíbia. O número utilizado para fixação na osteocondrite dissecante é variável, com alguns trabalhos demonstrando uma média de 3 a 4 palitos por lesão,[8] outros 4 a 6.[7]

No presente relato de caso, optou-se por fazer uso de 5 palitos ósseos, de formato retangular. A incompatibilidade entre o orifício circular e o palito quadrado garante uma fixação mais firme.[8] Os palitos ósseos podem ser descritos como enxertos ósseos autólogos. Assim, na consolidação de fraturas, apresentam propriedades osteocondutivas e osteoindutivas.[9]

A utilização de palitos ósseos para fixação de fragmentos osteocondrais no joelho tem a vantagem de permitir a fixação da fratura em apenas um tempo cirúrgico, sem risco de reação de corpo estranho. Apesar do curto período de seguimento e da ausência de acompanhamento histológico da lesão, os exames de imagem, bem como a total reabilitação física do paciente, demonstram que a fixação de fragmento osteocondral de joelho por meio de palitos ósseos é uma técnica eficaz.



Conflito de Interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Trabalho desenvolvido no Hospital Universitário de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil.



Endereço para correspondência

Elemar da Silva Resch
Médico Ortopedista - Preceptor na Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia do Hospital Universitário de Santa Maria
Rua Um, número 227, Santa Maria, RS
Brasil   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 29. Mai 2023

Angenommen: 21. Juli 2023

Artikel online veröffentlicht:
01. August 2024

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Fig. 1 Raio-x inicial.
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Fig. 2 Fragmentos osteocondrais.
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Fig. 3 Raio-x pós-operatório.
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Fig. 4 Imagem da cirurgia.
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Fig. 5 Raio-x 4 meses após a cirurgia.
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Fig. 6 Ressonância magnética 1 ano e 2 meses após a cirurgia.
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Fig. 1 Initial X-ray.
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Fig. 2 Osteochondral fragments.
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Fig. 3 Post operative X-ray.
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Fig. 4 Surgery image.
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Fig. 5 X-ray 4 months after the surgery.
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Fig. 6 Magnetic resonance 1 year and 2 months after the surgery.