Subscribe to RSS

DOI: 10.1055/s-0039-1692696
Técnica para reconstrução de membros de doadores de tecidos osteomusculares[*]
Article in several languages: português | EnglishEndereço para correspondência
Publication History
08 January 2018
14 August 2018
Publication Date:
27 August 2019 (online)
- Resumo
- Introdução
- Outros Métodos
- Método utilizado pelo Banco de Ossos do Paraná
- Reconstrução de Membros Superiores
- Reconstrução de Membros Inferiores
- Conclusão
- Referências
Resumo
A doação de tecidos ósseos e tendíneos é uma importante fonte de material biológico empregado em diversas técnicas cirúrgicas. A remoção destes tecidos gera uma importante sequela estética no doador, sendo necessária a reconstrução dos membros antes da devolução do corpo aos familiares. A técnica utilizada pelo Banco de Ossos do Paraná faz uso de vergalhões metálicos, tubos de silicone e abraçadeiras de náilon para reconstruir os membros, uma técnica de fácil execução e com resultado estético satisfatório.
#
Introdução
A doação de tecidos ósseos e tendíneos representa uma importante fonte de material biológico para diversas técnicas de transplante de tecido, seja como enxertos estruturados ou componentes de osteoindução.
A doação de tecidos musculoesqueléticos demanda um extenso procedimento de captação com a remoção de diversas estruturas ósseas, musculares e tendíneas de membros inferiores e superiores.
A remoção destas estruturas cria uma sequela estética, que demanda a reconstrução do cadáver tanto em respeito aos familiares do doador quanto do ponto de vista legal.
A Lei n° 10.211 de 23 de Março de 2001 preconiza que o cadáver do doador deve ser condignamente recomposto para ser entregue aos parentes ou responsáveis legais para o sepultamento.
A falta de compreensão do procedimento de reconstrução do cadáver após a captação de ossos é um dos principais responsáveis pela recusa dos familiares à doação de tecidos osteomusculares. Um estudo demonstrou que 96.2% dos familiares que recusaram a doação não possuía conhecimento de como seria feita a reconstrução e como o corpo seria apresentado após o procedimento.[1]
#
Outros Métodos
Existem diversos métodos utilizados para a reconstrução de membros após a captação de ossos, sendo o mais comum a utilização de sistemas compostos de tubos de PVC ou madeira,[2] que simulam a estrutura óssea prévia do paciente.
Esses sistemas, porém, possuem alguns inconvenientes. São sistemas que possuem peças volumosas, que demandam grandes caixas para a acomodação e transporte. A mobilização das equipes de captação muitas vezes se dá através de aviões de pequeno porte com espaço de carga reduzido, contando com poucas pessoas para o transporte dos materiais, fazendo com que sistemas de maior volume e peso se tornem inconvenientes.
Outra desvantagem desses sistemas é que muitas vezes as peças possuem acabamento de grande diâmetro e difícil encaixe nas estruturas ósseas do doador. Existem sistemas pré-fabricados que eliminam este problema, porém possuem um custo elevado que acaba por inviabilizar seu uso.
#
Método utilizado pelo Banco de Ossos do Paraná
A equipe do Banco de Ossos do Paraná desenvolveu um sistema de reconstrução dos sítios doadores que visa eliminar a problemática do transporte dos componentes e a dificuldade de adaptação.
A técnica consiste no uso de vergalhões metálicos de 15 mm de diâmetro previamente cortados e moldados, tubos de silicone e abraçadeiras de Nylon ([Fig. 1]).


#
Reconstrução de Membros Superiores
Nos membros superiores é costumeiramente realizada a captação do úmero, do rádio e da ulna.
Para a reconstrução de membros superiores, utiliza-se uma haste metálica de 30 cm com o terço proximal pré-moldado em um ângulo de 135° para substituição estrutural do úmero, uma haste metálica de 30 cm para reconstrução do antebraço, e um tubo de silicone para recriar a articulação do cotovelo ([Fig. 2]).


O membro superior é costumeiramente visível em cerimônias funerárias, portanto, um membro reconstruído de maneira a permanecer articulável possibilita uma melhor preparação do corpo do doador para a cerimônia.
Um orifício é criado com auxílio de formão e martelo na glenóide, e então o componente umeral é martelado de maneira a se encaixar firmemente. Uma compressa cirúrgica é então inserida no espaço da cabeça umeral para conferir maior estabilidade da montagem.
O componente do antebraço é encaixado entre os ossos do carpo e ambos são unidos na região do cotovelo ao tubo de silicone, através de abraçadeiras de náilon ([Fig. 3]).


Os componentes individuais permitem uma montagem que se adapte ao tamanho do membro do doador, permitindo grande liberdade de reconstrução com apenas um único tamanho padrão.
Devido à diferença volumétrica das estruturas ósseas retiradas e das hastes metálicas empregadas na reconstrução, faz-se o uso de compressas cirúrgicas em torno das hastes para aumentar seu volume, sendo que ao fechar a pele com fio de algodão, a compressão exercida pela pele acaba por ajudar a moldar o formato do membro, conferindo um aspecto esteticamente agradável.
Os membros são então enfaixados com ataduras de crepe.
#
Reconstrução de Membros Inferiores
Nos membros superiores, é costumeiramente realizada a captação do fêmur, da tíbia, da fíbula, do tálus, do tendão quadricipital e patelar (conjuntamente à patela) e do tendão aquileu.
Para a reconstrução de membros inferiores, utiliza-se uma haste metálica de 50 cm com o quinto proximal pré-moldado em um ângulo de 135° para a substituição estrutural do fêmur e uma haste metálica de 55 cm para a reconstrução da perna ([Fig. 4]).


Um orifício é criado com auxílio de formão e martelo no acetábulo, e então o componente femoral é martelado de maneira a se encaixar firmemente. Uma compressa cirúrgica é firmemente adaptada no acetábulo para conferir uma maior estabilidade da montagem.
Um segundo orifício é criado com auxílio de formão e martelo na face articular anterior do calcâneo, onde é adaptado com auxílio de martelo o componente responsável pela reconstrução da perna.
Os componentes individuais permitem uma montagem que se adapte ao tamanho do membro do doador, sendo importante atentar para a simetria do comprimento de membros inferiores antes de fixar os componentes com as abraçadeiras de náilon ([Fig. 5]).


A diferença volumétrica após a retirada das estruturas ósseas e tendíneas é ainda mais evidente nos membros inferiores, sendo necessária a utilização de um número maior de compressas cirúrgicas, principalmente na região do joelho, para obter-se um resultado esteticamente aceitável.
Após a sutura da pele com fio de algodão, os membros são então enfaixados com ataduras de crepe individualmente e então ambos são enfaixados juntos de maneira a manter os membros inferiores em rotação neutra.
#
Conclusão
O método de reconstrução de membros de doadores de tecidos musculoesqueléticos desenvolvido pelo Banco de Ossos do Paraná apresenta-se como uma opção de baixo custo, versatilidade no transporte e bom resultado estético.
#
#
Conflito de Interesses
Os autores declaram não haver conflito de interesses.
* Trabalho feito no Grupo de Cirurgia de Coluna, Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Hospital Universitário Cajuru, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
-
Referências
- 1 Pompeu MH, Silva SS, Roza BA, Bueno SM. Factors involved in the refusal to donate bone tissue. Acta Paul Enferm 2014; 27 (04) 380-384
- 2 de Alencar PG, Vieira IF. Banco de ossos. Rev Bras Ortop 2015; 45 (06) 524-528
Endereço para correspondência
-
Referências
- 1 Pompeu MH, Silva SS, Roza BA, Bueno SM. Factors involved in the refusal to donate bone tissue. Acta Paul Enferm 2014; 27 (04) 380-384
- 2 de Alencar PG, Vieira IF. Banco de ossos. Rev Bras Ortop 2015; 45 (06) 524-528



















